terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Misericórdia

Quem pode medir a misericórdia do Senhor? Quem jamais pôde sondar suas intenções e Sua vontade a não ser o Espírito de Deus que Dele procede? (cf. 1 Cor, 2, 11b; Jo 15, 26)

Por isso clamamos que sobre nós venha, Senhor, a Vossa graça da mesma forma que em Vós nós esperamos (cf. Sl 32, 22) para que em nós se realizem os prodígios de Vossa misericordiosa vontade. Ousamos dizer, embora cheios de temor: que sobre nós não venha a Vossa graça se em Vós não esperamos. Se duvidamos, porque pedimos? Se não cremos, porque mentimos dizendo o contrário? Enganamos, embora não nos agrade o engano. Mentimos, mas não toleramos a mentira. Fingimos, mentimos, interpretamos personagens, criamos situações confortáveis em nosso próprio benefício, vamos à Igreja, fazemos nossas orações, mas em nosso coração há mentira, desespero, incredulidade e toda sorte de falsidades e delitos. Acusamos a todos, mas não acusamos a nós mesmos e ainda dizemos que esperamos os benefícios do Senhor. Acreditamos desacreditando, confiamos desconfiados, ouvimos a Palavra de Jesus com nossos planos guardados para o caso de não dar certo. Onde está a nossa segurança? Em ti mesmo? Perecerás certamente. Em Deus? Passarás seguro por todo e qualquer caminho e nada te faltará em todas as tuas necessidades.

Eis o que te diz o Senhor: "Tem firmeza e segurança! Mostra-te corajoso e magnânimo, e a seu tempo te virá a consolação. Espera por mim, espera! Virei e te curarei." (Imitação de Cristo, Livro III, 30, 2)

Jamais poderia eu medir a misericórdia de meu Senhor, mesmo conhecendo um pouco de Seu coração também jamais poderia esperar um favor a quem de todo é desmerecedor, a mim, que dizendo Seu nome o traí, pensando n'Ele o neguei, dizendo que o amo o matei. Mas a mim Ele quis estender Sua mão, levantou-me logo que caí e não deixou que eu ficasse no chão por longo tempo. Me sustentava Seu olhar enquanto eu o traía, enquanto eu o negava. Eu fugia e Ele já me chamava de volta e voltei. Ele, então, me disse: "Ao aprendiz tolera-se o erro, mas do já instruído não se espera excessos ou faltas, mas que tenha virtude." Meu coração estremeceu, minha alma chorava por havê-Lo traído, mas feliz eu voltava e ouvia de novo Sua voz. Não era uma voz que me reprovava pelos erros passados, mas uma voz que me encorajava à prática constante da virtude que Ele me dava. Instruiu-me Ele no amor e agora espera que eu ame. Amarei, com a ajuda do próprio Amor.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Distância

"Todos os conhecidos de Jesus ficaram à distância." (Lc 23 ,49)

Este versículo prendeu meu coração hoje. Senti um peso enorme caindo sobre mim e fazendo-me pesar meu coração, e fui achado muito leve (cf. Dn 5, 27). A liturgia das sextas-feiras sempre me faz pensar em minha vocação, na resposta que a cada dia devo dar ao Senhor, nas respostas que tenho dado a Ele. Hoje senti-me entre aqueles "conhecidos de Jesus". Não eram aqueles a quem Jesus diria "não vos conheço" (cf. Mt 25, 12). Ao contrário, eram conhecidos de Jesus, mas ficaram à distância, negaram-no abertamente. Eu também não quis aproximar-me Dele, injustamente condenado e injustamente abandonado pelos seus, abandonado por mim.

Pesou sobre mim a palavra de São Cipriano: "Resistimos, relutamos e, quais escravos rebeldes, somos levados cheios de tristeza à presença de Deus, saindo daqui constrangidos pela necessidade, não por vontade dócil. E ainda queremos ser honrados com os prêmios celestes a que chegamos de má vontade. Por que então oramos e pedimos que venha o reino dos céus, se o cativeiro terreno nos encanta? Por que, com preces frequentemente repetidas, suplicamos que se apresse o dia do reino, se maior desejo e mais forte vontade são de servir aqui ao demônio do que reinar com Cristo?" (Ofício das Leituras, Sexta-Feira da 34.ª Semana do Tempo Comum)

O que mais devo dizer? Sou pó e ao pó devo voltar. Tudo que faço é pó que poderia ser espalhado por outras mãos. Gosto de ficar à distância quando deveria preferir estar perto de Jesus. Pergunto-me: por que sou tão averso aos sofrimentos desta vida, às coisas que me contrariam, aos sentimentos que perturbam e me tiram a paz? Olho o Cristo e vejo-O feliz em situações semelhantes, absorvido pela paz e pela serenidade de uma liberdade verdadeira. Vi-O assim e quis segui-Lo, mas logo quis ficar à distância, longe de Sua companhia, longe de Seu exemplo. Mas hoje despertou-me Sua voz, Seu grito rompeu minha surdez e o brilho de Sua luz afugentou a minha cegueira (cf. S. Agostinho, Confissões, Livro X, 27).

Vejo-O agora e vejo-me ainda tão longe, mas já não fico à distância, dou passos em Sua direção. Cada vez que escuto Sua voz a chamar-me, cada vez que ouço Sua Palavra dou um passo adiante e me aproximo um pouco mais, encurto um pouco a distância, esperando não ficar à distância quando meus dias terminarem. Não quero ser mais um traidor.

Pai, eu Te dou graças
Porque me amas
Porque me chamas
E não Te cansas
De esperar-me chegar

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Artesanato

Queria saber escrever alguma coisa interessante para publicar aqui. Sinto que acabaram-se as palavras e que tudo que digo agora é improviso infértil e inoportuno, esforço estéril da razão para ocupar o espaço que ficou vazio quando se acabaram os temas de oração e meditação. No entanto, pensando no esforço maior que agora devo fazer, penso que seja oportuno passar por esses tempos de criatividade artesanal. Hoje falo por mim mesmo, e sinto que perdi a prática. Por isso digo que este texto de hoje é artesanal, preciso tomar nas mãos aquilo que de mim parecia descartável e tentar transformá-lo em algo que seja de proveito comum, uma arte-reciclagem do que parecia não servir-me mais. Em fazer orações e tecer aqui um Rosário perdi de vista os temas que apenas me agradavam, fixei os olhos naqueles que me propunha o Senhor e deixei-me levar, seguindo o ritmo que Ele me impôs. Por isso senti-me obrigado a escrever um pouco hoje, mesmo sem saber o que dizer, e deixar aqui ao menos uma semente do que restou do que semeei nos textos passados.

Meus motivos são simples, minhas razões são poucas, e nunca posso responder dignamente às exigências que Deus me faz em meu coração. Escrevo o que posso, como posso, usando um pouco do que Ele me deu. De dois talentos não faço quatro, mas um pouco mais de dois creio que faço e deixo aqui para quem quiser. Espero que no tempo que me resta conseguirei devolver ao Senhor meus dois talentos e outros dois que terei lucrado. Queria, por vezes, encontrar palavras novas, dizer novidades e encontrar jeitos diferentes de olhar a vida e de falar de Cristo, mas sempre me vejo repetindo os mesmos jeitos de outros tempos e reencontro sempre o mesmo motivo para minhas repetições. As ordens que ainda escuto ainda devo obedecer, só depois virão pedidos novos, palavras novas, motivos diferentes para escrever. Escrevo assim, fazendo memória das memórias passadas, até que o presente seja também memória e receba um lugar no papel.

Eis o que aprendi enquanto rezávamos o Rosário: preciso deixar sair de mim o que Deus quis colocar aqui dentro, depois o que com isso construí, o que agora digo, e buscar-encontrar primeiro o Reino no que entra e no que sai de mim, assim serei puro, sempre, e não poderei contaminar os outros com as maldades que ainda sobrevivem em meu coração, que assim aos poucos morrerão até que morra também eu, feliz, perdendo-me, enfim, para achar-me no Senhor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Salve Rainha

Salve, te saudamos, Rainha e Mãe de misericórdia, és nossa vida e esperança pela gloriosa missão de de Deus recebeste. És o tabernáculo do Divino Senhor e Salvador nosso, Jesus Cristo, e por tua resposta de amor ao convite do Altíssimo trouxeste a vida a todo ser e confirmaste a esperança do teu povo, o povo de Deus. Salve, rainha nossa, mãe do Deus Salvador. A ti elevamos nossas súplicas e pedidos de socorro, pedindo teu auxílio para nossa fraqueza, sustento no exílio, sustento em nosso regresso ao paraíso perdido. Choramos enquanto aqui sofremos, mas temos em ti um sempre presente consolo, certeza de que não padecemos em vão se como tu guardamos a fé que recebemos de Cristo. Roga por nós, Mãe Rainha, e socorre-nos em nossas necessidades, alcança para nós a misericórdia de teu Divino Filho e dá-nos, por tua intercessão, a salvação eterna. Dá-nos assim, Senhora linda, contemplar em teu rosto o rosto de teu filho e reconhecê-lo em ti. Assim dispôs o Senhor e convêm que em tudo façamos o que Ele nos diz. Quis Ele vir até nós por meio de ti e agora dispõe que a Ele iremos somente por ti, e tudo isso pedimos, saudando-te, Senhora Nossa, para mais vos obrigar a cuidar de nós, rendendo por nossa prece a ti o nosso coração, renovando em nossa súplica o mandato que o próprio Cristo te deu de cuidar desses mais pequeninos, agora teus filhinhos, pecadores.

Não cessará jamais a nossa oração se diante de Cristo fores tu a nossa voz. Por isso roga por nós, Santa Mãe de Deus e Rainha do Céu, para que sejamos dignos das promessas feitas por Teu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina para sempre. Amém.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Coroação de Nossa Senhora

Pai Nosso que estais no Céu, revelai-nos vossa glória e glorificai o Vosso nome pelas graças que nos dais, purificando-nos de nossas intenções egoístas e desejos impuros. Salvai-nos, por Vossa bondade e misericórdia, de todo apego ao que é temporário, de todo desejo de satisfação imediata, de toda impaciência, da intolerância, do egoísmo. Fazei-nos, Senhor, humildes, e sustentai-nos, Senhor, com o pão das lágrimas e a bebida copiosa do pranto (cf. Sl 79, 6). De nossos sofrimentos fazei o nosso pão, dando-nos por alimento a Carne e o Sangue de Vosso Filho que se dignou tomar sobre si as nossas dores e dar-nos a cura para todas as nossas enfermidades. Fazei, Senhor, que pela comunhão do Santíssimo Corpo e do Sacratíssimo Sangue de Vosso diletíssimo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, sempre mais nos assemelhemos a Ele, sobretudo na prática da misericórdia e no serviço da caridade, para que sejamos dignos de receber o prêmio das promessas feitas por Ele àqueles que neste mundo O amarem e testemunharem. Assim seja.

Ave Maria Rainha, Senhora nossa, a ti agora se voltam nossos olhares e preces, nossa gratidão, todo o nosso coração. Quem sobre a terra ou no céu ousaria pedir ao Cristo tão grande dádiva, quem poderia ousar querer de Deus um bem tão grande que somente é superado pela encarnação do Verbo, mas que a prece e a faz possível, pelos méritos que dela recebera? Foste feita rainha de todos os anjos e santos, glorificada pelas virtudes que em ti colocou o Senhor e pelo testemunho dos apóstolos, cuja afeição e devoção agora proclamam, qual coroa reluzente de virtudes, graças e incontáveis frutos, a tua santidade e exímia caridade, infindável bondade e absoluta submissão ao Divino Rei e Senhor nosso, Jesus Cristo. Tens sobre a cabeça a coroa dos apóstolos, primeira geração que te proclamou bem aventurada, feitos teus filhos pelo próprio Rei e tornados também coroa de tuas virtudes, filhos educados por quem foi educado por ti e agora cuidados pelas mesmas mãos, ensinados e aconselhados pela mesma voz que ensinou o menino Jesus a falar. Vestida de Sol, assim adornada por toda a graça do Deus Altíssimo, levada por Deus tu te elevas no céu sobre todas as coisas, envolvida por Sua infinita sabedoria e indizível caridade. Tens sob os pés a criação, passageira e mutável como vemos a lua no céu, e sobre a terra te elevas, Senhora poderosa, intercessora de súplica onipotente, Rainha de todos os santos. Por ti nos veio de Deus toda a graça do Céu, por isso és Rainha, Senhora Nossa, tu que moves o coração de Deus com tua prece e humildade, tu que com Deus és também onipotente, por tua nunca inoperante caridade, tua fé inabalável e inesgotável humildade. Dos santos, és a primeira, primeira redimida, primeira elevada em corpo e alma ao Céu, primeiro fruto da redenção de Cristo. És por isso Rainha, Senhora nossa, mãe de todos que a Cristo louvam louvando em ti as virtudes que Em ti quis Ele formar, que O amam amando a ti, que primeiro O trouxeste no seio e no coração.

Hoje te vemos no Céu, amada Maria, e louvamos aquele que assim te quis exaltar, colocando-nos sob os teus cuidados enquanto ainda somos peregrinos, para que cobertos de cuidados por ti não desfalecêssemos pelo caminho, para que fosses para nós abrigo e alívio nos caminhos no deserto e nos trouxesses o fogo do Espírito que em teu coração queima sem cessar, aquecendo-nos nas noites de nossa jornada. Hoje te vemos, Senhora nossa, e nos aproximamos de tão gloriosa contemplação, ouvindo de Deus a ordem: tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo (cf. Gn 3, 5). Assim nos aproximamos de ti e assim nos prostramos, contemplando em Ti a graça que Deus quis realizar e ouvindo em teu exemplo a ordem que Ele nos dá: liberta meu povo, anuncia a todos a boa nova da salvação. Vemos em ti a promessa cumprida e queremos vê-la em todos realizada também, levando a outros o calor do fogo que Deus quis fazer arder em nosso coração, quando O encontramos em ti, Maria Santíssima, virgem mãe do Redentor. Por isso roga por nós, Maria, para que a morte nos dê a recompensa que pedimos, em nossa prece e em nossos sacrifícios, em nossas obras, no exemplo que de ti imitamos. Amém.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo desde agora e para sempre, ao Deus que é, que era e que vem, pelos séculos. Amém

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Assunção de Maria

Pai Santo, Deus bondoso e fiel, a Vós sobem nossas preces e ações de graças, sacrifícios e oferendas, a Vós se voltam nossos olhos e corações, nossas mãos, nossos desejos e necessidades. Assim Vos glorificamos, Pai amado, pela nossa fé em Vossa onipotência e sempre fiel misericórdia, louvamo-Vos em Vossa majestade quando reconhecemos que podeis dar-nos aquilo que pedimos e que nos é impossível conseguir por nossos esforços. Confiamos em Vós, porque de Vós nos vem tudo que temos, também as forças pelas quais alcançamos por nossos esforços uma parte do que temos. Dais-nos sempre o pão e o sustento cada dia, e porque Sois fiel a Vós mesmo, nunca deixais de amparar a criatura que é fruto de Vosso amor, mesmo se ela foge de Vosso cuidado. Perdoai-nos, Pai, sempre e em cada instante de queda, na mesma medida em que fazemos o mesmo seguindo o exemplo e ensinamento de Vosso Filho. Guardai-nos assim, Pai, sob a Vossa proteção, até a Vida Eterna. Amém.

Ave Maria, mãe nova de todo vivente, és verdadeiramente cheia de graça. Verdadeiramente gozas da plenitude do favor de Deus e por Ele és elevada ao Céu em corpo e alma. És infinitamente agraciada, Maria, escolhida dentre todas as mulheres da terra, nascidas e que hão de nascer, para receberes em teu seio o próprio Deus Salvador. Por isso, de todo pecado foste pelo Pai preservada e guardada pura, sem mancha alguma no corpo e no espírito, e agora és glorificada no mais alto dos Céus pelo teu diletíssimo Filho, o Filho de Deus. Vejo em ti cumprir-se, desde tua Imaculada Conceição até o fim de tua missão na terra, os efeitos gloriosos da missão do Salvador, Sua paixão, morte e ressurreição. Da Encarnação és o primeiro fruto, Maria, tu que és a flor que nos trouxe o mais belo fruto da natureza humana, Jesus Cristo, o Senhor. Porque o Verbo devia fazer-se carne, foi tua carne preservada de todo mal, para que de tua carne desses um corpo a Jesus, um corpo que Ele recebeu do Pai para fazer Sua eterna Vontade, e assim Ele a cumpriu até o fim, realizando também em ti tudo aquilo que a natureza humana recebeu por meio da obra que Ele veio realizar. O Cristo, primogênito dentre os mortos, levou atrás de si a primeira dos mortais, a mais pura de toda criatura, a ti, Maria, estrela do mar, lírio de perfeita castidade, estandarte da beleza do Céu, porta do Paraíso, escrava santíssima do Rei Sempiterno, Filha de Sião bendita, mulher vestida de Sol, aurora da Salvação, virgem, mãe e esposa castíssima e puríssima. Como não mereceria o Céu uma tal criatura, alguém que fora agraciada desde que fora criada com os mais altos benefícios de Deus? De fato, Deus queria, Deus podia, Deus fez em ti maravilhas e Santo é o Seu nome. De todos nós és tu a primeira, Virgem Santa, a seguir Jesus em todo Seu caminho, na discrição e no silêncio, no sofrimento e na Paixão, no silêncio e na ressurreição e agora na Ascensão, tu, que agora és levada por Deus ao Céu de onde descera por meio de ti o Cordeiro de Deus.

Roga, então, por nós, Maria, a fim de que sejamos dignos das promessas feitas por Teu Filho àqueles que n'Ele acreditassem. Por teu testemunho cremos e por tua prece e auxílio permaneceremos fiéis à Palavra de Cristo, auxiliados, como Tu, pela graça do Espírito que nos cobrirá com Sua sombra e fará crescer em nós, enquanto imitamos teu exemplo, os sentimentos de Teu Filho, Jesus Cristo e Senhor Nosso, que com o Pai e o mesmo Espírito vive e reina para sempre.

Ao Deus trino e verdadeiro, unidade Eterna e Santa, Pai, Filho e Santo Espírito, seja a Glória, o Poder, o Louvor e a Majestade por todos os séculos dos séculos. Amém.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A vinda do Espírito Santo

Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome, glorificado sejais em nossa vida, em nossas decisões, em nossas pequenas ou grandes escolhas. Fazei assim, amado Senhor, que provemos já na terra do Céu onde habitais, que pela Força do Espírito enviado por Cristo do alto do Céu para lá sejamos nós atraídos, inseridos assim na comunhão Trinitária, da qual nos quereis todos participantes. Perdoai-nos assim nossas faltas, olhai a fé que nos anima e não o pecado em que tanto caímos, assim como nós perdoamos aqueles que falham conosco. "Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!" (Sl 32, 22). Assim seja.

Ave Maria virgem, gloriosa Senhora mãe da Igreja, mãe de Cristo, mãe de Deus. A ti voltamos também a nossa oração para no teu coração imaculado repousar o nosso. Em ti encontramos todos os frutos do Espírito, todas as graças do Céu, de ti recebemos toda a graça do Pai, Jesus Cristo, o Senhor. Vendo-te, Senhora linda, reunida no Cenáculo com os Apóstolos, teus filhos, alegra-se imensamente o meu coração ao ver o próprio Deus fazendo memória de teu chamado e de tua resposta que alegrou o universo inteiro. Naquele dia foi-te prometido o Espírito que em ti geraria o Filho de Deus. Assim se fez. Agora, estavas mais uma vez recolhida em coração, e desceu sobre ti e sobre os teus o mesmo Espírito, e a Igreja a ti confiada nasce em tua companhia, a mesma Igreja, da qual tu és perfeita imagem e mãe, como tu é coberta pela sombra do Espírito para gerar novos filhos para o Deus Altíssimo, novos filhos para ti, mãe, batizando a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Tantos filhos agora tens, Maria! E entre eles conto-me eu também, pela graça e misericórdia de Deus. Tantos acreditaram e se converteram naquele dia e também eles receberam o Espírito Santo. E tu estavas lá, levando Jesus, em teus novos filhos, à nova Isabel, a Jerusalém antiga e estéril que finalmente pôde gerar profetas e santos, futuros mártires e evangelistas, doutores e novos pastores! Ali nasceu a Igreja, renovando-se teu sim à tua vocação. És verdadeiramente mãe do Cristo total, do Cristo cabeça e do seu corpo que é a Igreja.

Por isso, roga por nós e cuida de nós, Maria, para que à tua visita sejamos cheios do Espírito e, conservando-te sempre em nosso coração, também não se afaste de nós aquele que nos trouxeste por teus sacrifícios e hoje por tua intercessão, até que a morte eternize nossa união com Ele. Amém.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Jesus sobe ao Céu

Pai Santo, a Vós quero dar o meu coração, meus sentimentos, meu entendimento, todo o meu ser em sacrifício, para que Vossa vontade se cumpra na terra como no Céu. Quero viver apenar para amar-Vos, Pai Santo, e que eu tanto Vos ame que prefira a morte a deixar de amar-Vos por um instante sequer. Que assim eu esteja de tal modo unido a Vós, cheio da presença do Espírito Santo, que eu seja em toda parte um sinal da presença de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, e por minha vida Vossa misericórdia alcance todos os que se achegarem a mim e assim seja eu também digno de receber misericórdia. Venha o vosso reino, viva em mim o Vosso Amor. Assim seja.

Ave Maria Santa, bendita e gloriosa Maria, amável mãe do Cristo Cordeiro, Mãe de Deus. Para sempre serás bendita e aclamada bem aventurada por tanta graça que em ti quis realizar o Senhor. Agora teus olhos benditos veem cumprida a missão de teu Filho, vês elevar-se ao céu aquele menino que trouxeste em teu seio santíssimo e imaculado. Vejo-o também, e vejo-o encarnado neste pequeno Céu que foi teu ventre imaculado. Sobe o Cristo para lá onde sempre esteve o teu coração, teus pensamentos, teus desejos. Vejo-te tão feliz agora, mãe, enquanto contemplas teu filho despedir-se feliz, olhando-te do alto outra vez, desta vez transfigurado e revestido de glória, deixando em tuas mãos a obra que veio fazer. Deixa Ele Pedro e os apóstolos à frente da Igreja e eles aos teus cuidados, teus novos filhos, teus pequeninos, e crês que cuidando Deles cuidas de novo de Cristo, teu menino, teu pequenino que agora se despede dos seus.

"Não sabeis que devo cuidar das coisas de meu Pai?" (cf. Lc 2, 49) Outra vez a pergunta de Jesus ecoa em teu coração. Fizeste bem em guardá-la, agora sabes o sentido do que Ele dizia. Não ficou aqui o Verbo de Deus, para que os olhos dos homens não se prendessem nas realidades que passam, por isso o Cristo sobe de novo ao paraíso e esconde-se no Sacramento, deixando-te também aqui conosco para apontar-nos o Céu, tu que sempre tiveste em Deus teu coração. Vai Ele preparar-nos lugar na casa do Pai e deixa-nos aqui em lugar seguro, deixa-nos no mesmo seio em que por primeiro Ele quis repousar quando quis nascer menino.

Sobe Ele para o Céu e deixa-nos também no Céu, aqui Ele fica e aqui ficas tu, Maria. Em ti nos refugiamos nós, pecadores, em ti encontramos o Cristo e a ti suplicamos proteção, agora e na hora de nossa morte. Roga sempre por nós, para que associados a ti por tua infinita caridade sejamos agradáveis a Jesus, a quem pedes por nós. E se tu te fazes nossa voz diante de Deus e de tua boca nada sai que não seja agradável ao Seu Sacratíssimo Coração, já não tememos não sermos atendidos. Sobe ao Céu o Cristo e lá o espera já teu coração, que sempre esteve lá, mesmo vivendo ainda aqui; foste tu a ponte entre céu e terra, bendita escada por onde desceu ao mundo o Salvador e por onde subimos do mundo a Ele. Enquanto Ele sobe subimos também, apoiando-nos em ti, Virgem Mãe, gloriosa escada do paraíso, seguindo a direção de teus olhos, obedecendo o conselho de teu coração, fazendo tudo o que Ele nos disser (cf. Jo 2, 5).

Unidos a todos os anjos e santos e a toda a Igreja de Cristo e em comunhão com a Virgem Maria, Mãe de Deus, damos todos glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ressuscitou

Pai Santo, Deus fiel e onipotente, rogamo-vos que nos deixeis nesta hora descansar de nossos trabalhos e nossas ocupações neste lugar que agora é feito Vosso colo, lugar de repouso e segurança para Vossos filhos e filhas que aflitos esperam Vossa constante companhia no Céu. Enquanto caminhamos ainda na esperança, Pai Santo, socorrei-nos com Vossos Dons e sustentai-nos com o que nos é necessário, o alimento que nos permitis produzir e a graça que gratuitamente nos dais, preservando-nos de todo excesso, a fim de que não nos sobre o que falta àqueles nossos irmãos mais necessitados do que nós, para que, juntos na carência e na saciedade neste mundo, gozemos eternamente também juntos de Vossa Glória. Amém.

Ave Maria Virgem, Vossos castos olhos, benditos olhos que tantas vezes fitaram os olhos do Salvador, voltai-os nesta hora para nós, teus filhos menores e frágeis, que agora nos acolhemos debaixo de tua proteção e recolhemos em tuas mãos as lágrimas de nossas dores. Tu, que tantas vezes viste o pequeno Jesus, teu filhinho, tão perto de ti que já antes que na carne fosse concebido já o tinhas no coração, tu o vês agora a um só tempo longe e perto, o Cristo outrora recolhido em teus braços, sepultado e apartado de teus cuidados. Tu, que naquele primeiro dia do novo princípio, viste em teus braços o próprio princípio pequenino, não és a primeira a vê-Lo ressurgir da morte, mas certamente a luz que deixou desfalecidos à porta do sepulcro os guardas romanos, já nas primeiras horas da primeira Páscoa do novo tempo alcançava teu coração transpassado por aquela espada de dor e lágrimas. Pela fresta desta porta do Paraíso, aberta pelo sofrimento de teu filho, vê-se agora a glória daquele que por ti nos veio. Não somente o Cristo ressurgiu das trevas, mas também a mãe que por primeiro mostrou-Lhe a luz da vida terrena. Renasce o Cristo e n’Ele a primeira por Ele redimida, a descendência da mulher esmaga, enfim, a cabeça da serpente e à mulher cura o calcanhar, restaurando-lhe o coração e por ela a toda criação. Unidos ao Cristo agora vivo, vivemos também nós vendo vencida já aos nossos pés como aos de Cristo a serpente que outrora de morte nos feriu, e vivemos pela graça de nosso Deus, que presos na morte não nos quis e veio Ele mesmo salvar-nos daquela morte que sem Ele merecemos.

Assim seguros pela mão pela mulher obediente que preparou a salvação, vendo cumprido o que seu sim prenunciou, felizes cantamos seu nome bendito entre todos os outros e que a todos os outros une ao de Cristo, único nome que nos traz salvação. E porque tão intimamente associada ao mistério, por tua intercessão certamente poderemos alcançar semelhante mérito e unir-nos totalmente ao corpo de Cristo, na Igreja de que és o mais perfeito ícone, escrito pelo próprio Criador. Assim roga por nós, Mãe Maria, linda Maria, simples e singela Maria, tão boa mãe por Cristo doada aos seus pobres amados, com Ele teus filhos, mulher que de Eva desfez o mal dizendo sim à nova criação.

À morte leva-nos todos felizes em teu Imaculado Coração. Enquanto restar-nos fôlego, não deixes calar nossa prece, mas quando for grande o cansaço e nossas poucas forças faltarem, socorre-nos com tua fortaleza constante e tua prece incessante, incomparável mãe de pobres tão afortunados, agraciados por Cristo com o dom de tua graciosa maternidade. Amém.

Por tudo e em tudo glorificado seja o Pai, o Filho e o Espírito Santo, como no princípio seja agora, nosso tempo e toda a eternidade. Amém.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Jesus Morre na Cruz

Pai, em Vossas mão entrego meu espírito e meu corpo, minha vontade e entendimento, minha memória e sentimentos, todo o meu ser para que de mim façais o que quiserdes, como quiserdes. Disponde de mim, Pai Santo, e inspirai-me continuamente com Vossa Santíssima e eterna vontade, a fim de que eu permaneça fiel a Vós tanto quanto Vós permaneceis fiel a Vós mesmo e a mim. Cuidai que não falte para mim nada do que for necessário para que, nutrindo o corpo, jamais me falte disposição e força para servir-Vos a todo instante e Vosso Filho me encontre vigilante, fazendo o que devo fazer, quando Ele voltar para colher o trigo em Vossos celeiros. Assim seja.

Ave Maria, Senhora das Dores, teu silêncio mais uma vez nos deixa uma preciosa lição que nos custa muito aprender. Onde encontraste forças para suportares tamanha dor? Como pudeste permanecer de pé ali, aos pés da Cruz de Jesus, quando tantos fugiram e outros tantos o negaram? Muito amavas, por isso muito pudeste sofrer sem te curvares. Teu coração e teus olhos permaneceram sempre voltados para o alto, nunca presos à terra. Buscavas sempre o que estava no alto, e tua vida deste a Cristo, em quem antes a encontraste e agora a encontras de novo. Ó glorioso intercâmbio de dons entre o céu e a terra! Ó inefável mistério celebrado em nosso altar de terra e pó, o Criador feito criatura, a criatura feita mãe do Criador!

Dois caminhos de mesmo destino que misteriosamente se entrelaçam em vias diversas e tão semelhantes, vias de amor. A mãe introduz o Filho em Seu caminho e missão de Salvador e agora o Filho, antes de entregar ao Pai o seu Espírito, introduz a mãe em seu caminho novo, fazendo-o um com o seu que ali terminava começando de novo naquela mulher a quem quis confiar o cuidado daqueles a quem Ele mesmo veio salvar.

Agora os discípulos são teus, Maria. Morreu o Mestre, deixando-os para ti. Tens agora a missão de abrir-lhes o coração ao dom de teu Filho, guardando-os em teu coração e levando-os contigo ao alto para ao alto voltar também os olhos desses pobres amigos de teu Filho, teus filhos. Foste feita porta do paraíso, escada do Céu, aurora do novo dia, bem aventurada Maria! Agora o Espírito que te cobriu chegará àqueles a quem acolhes e cobres com teu cuidado, sobre quem pousas o olhar comunicando-lhes a vida que deste a teu Filho e que Dele recebeste. Tuas lágrimas se tornaram mais um sinal do novo batismo, sinal do Espírito Santo.

Choras a morte de teu Filho, mas não choras triste. Choras por veres se perderem tantos que foram feitos teus filhos, mas não te entristeces, esperas, e nisto te alegras, que a misericórdia de Teu amado Filho alcance a muitos além de ti, e chegue a todos em todos os lugares da terra, em todos os tempos até o dia de Seu regresso. Por isso guarda-nos, Mãe, a nós que a ti nos queremos confiar e àqueles por quem rezamos, a fim de que por ti protegidos a tentação não nos vença e alcancemos a vida que para nós o Cristo conquistou em Sua Paixão. Amém.

Pela Paixão do Senhor sejam sempre dadas glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Jesus sobe ao Calvário

Pai de Misericórdia e Deus fiel, a Vós dirijo meus pensamentos, meus desejos e todo meu afeto, movido pela Vossa graça que irresistivelmente me atrai e me prende sem deixar-se furtar de minha presença. Onde estou, aí estais também Vós, Senhor meu, para cuidar de mim, a quem quisestes chamar Vosso filho unindo-me ao Vosso unigênito, em quem me reconciliastes com Vosso amor e me fizestes participante de Vossa vida, restaurando-me segundo a imagem perfeita do Verbo encarnado. Por Ele a todos nós alimentais todos os dias, por Ele nos dais o perdão segundo a medida da misericórdia que praticamos e por Ele nos quereis livrar dos males eternos, concedendo-nos a vida que Ele já conquistou para nós em Sua paixão, morte e ressurreição. Dou-Vos meu consentimento a tudo quanto quereis fazer por mim e em mim, certo de que sob Vosso cuidado nada me faltará. Assim seja.

Ave, Maria Virgem, mãe castíssima de Deus, tabernáculo puro e morada santa do Senhor do Universo, a ti quero agora voltar meu olhar e meu coração para aprender de ti a maneira melhor de amar teu divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Vejo-te aflita acompanhando a via dolorosa que segue Teu Filho. Teu rosto banhado de lágrimas, teu coração dilacerado pela espada de dor prenunciada pelo velho Simeão e que a cada passo dado por Jesus penetra mais profundamente em tua alma imaculada. Quê fizeste para merecer tal suplício? Qual teu filho divino, és também inocente. Tens puro o coração, tens puras tuas mãos. Vês o teu filho e com Ele choras, impotente, frágil, rendida com Ele aos mais cruéis açoites, e por tua obediência unida à humildade de teu Filho com Ele desfazes os males que o pecado causara no coração dos homens. Onde Eva caiu, tu triunfaste; onde Adão pecou, o Cristo saiu vencedor.

Chora Maria, chora a Igreja, chora o Cristo. O homem é redimido por sua própria culpa que mata seu redentor. Eis o Cristo que em silêncio deixa-se matar para da morte salvar Seus assassinos! Eis a Virgem Dolorosa, que silenciosamente assiste a Seu menino, rezando, rezando, rezando. Existe dor maior que a sua dor? A mãe vê seu filho injustamente ferido de morte, e o filho vê-se ferido por seus próprios amigos, vê chorar sua queridíssima mãe, vê-se privado de todo consolo, de qualquer alívio. Vejo-te aflita, Maria, olhando a crueldade dos homens, olhando os insensíveis carrascos, olhando a cruel ignorância que se incha de inveja e mata o Filho de Deus, a quem esperava e não recebeu. Parece triste o fim do caminho. Tens atravessada a alma por uma espada de dor e teu Filho o corpo inteiro desfigurado por incontáveis feridas, já quase sem vida chegando ao final do caminho. Como a serpente no desejo será levantado da terra o Filho do Homem. Aproxima-se a hora final e tu, Maria, esperas em silêncio, sem pressa, que se cumpra a promessa.

Roga por nós, Maria, a fim que de Cristo nos venha a capacidade de lhe sermos fiéis em todas as circunstâncias. Sem teu auxílio, Doce Mãe de Deus, facilmente nos perdemos do caminho que nos fora traçado por teu Filho divino e nos esquecemos de Seu Evangelho. Guarda-nos sob a tua proteção, para que sejamos dignos das promessas de Cristo, a quem sejam dadas toda honra e toda glória, com o Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Coroação de Espinhos

Pai amado, a Vós sobem nesta hora os nossos louvores, ações de graças e súplicas em favor de nós mesmos e de todos os homens, Vossos filhos, nossos irmãos. Estendei Vossa mão benigna sobre nós e dai-nos de Vossas graças aquelas de que mais necessitamos no meio dos sofrimentos desta vida, a fim de que não nos faltem forças para nos empenharmos em edificar já neste mundo o Reino que alegremente esperamos receber de Vós se vos formos fiéis. Alimentai-nos, portanto, na mesma medida em que empenhamos nossas forças no trabalho de Vosso Reino e sobre nós venha, Senhor, a Vossa graça da mesma forma que em Vós nós esperamos (Sl 33, 22). Livrai-nos assim, Senhor, de todo mal, a fim de que nenhum obstáculo se interponha entre nós e Vós e Vos possamos eternamente amar já desde esta vida até à eternidade. Assim seja.

Ave Maria Santíssima, gloriosa e simples filha de Sião, mulher bem aventurada a quem foi dado gerar o Santo de Deus, a descendência que pisaria a cabeça da serpente depois de ter por ela o calcanhar ferido. Tua obediência leva à ruína o reino de Satanás e de seus seguidores, teu silêncio cala os gritos do inferno e cobre de vergonha os que te insultam, manténs-te impassível como pedra diante das pedras que lhe atiram e que sabes não poderem fazer-te mal. Imita-te a Igreja, de que és perfeita figura e imita-te o Cordeiro, de quem a Igreja é esposa.

É, pois, coroado de espinhos o Rei do Universo, coberto de um manto púrpura o Senhor dos senhores. Tomando nas mãos um cetro, por zombadores é cortejado e escarnecido. Ele, porém, mantém-se impassível, não se rende àqueles que querem fazê-lo cair sob a vergonha e a difamação, permanece de pé e não abre a boca. Escolhe por súditos a pecadores, todos eles, e se deixa por eles coroar por suas práticas vergonhosas, por seus vícios, maledicências, impurezas e toda sorte de pecado. Eis o filho obediente, o servo sofredor, o cordeiro inocente, aquele que deve tirar o pecado do mundo. Deixa-se adornar de imundícies para com elas subir o calvário e deixá-las, mortas, no alto do monte. De lá não sairá Ele com vida, e mortas ali ficarão as misérias que com Ele terão subido.

Teu silẽncio, Doce Mãe de Deus, imitava e prefigurava a paciência de Teu Filho, Dele foste mestra e discípula. Calando-te te prostravas diante da divindade que aos teus cuidados se rendia e agora vês rendida, silencias vontade para que se salvem os que põem pecados sobre Teu Filho. Em silêncio vês Teu Filho mudo, recolhendo no coração tudo que se passa, os sofrimentos e males dos homens, para levá-los todos á morte consigo.

Roga por nós todos, Maria, a fim de que sejamos verdadeiramente nobres e honremos a herança que nos foi concedida por Cristo em Sua Paixão, morte e ressurreição. Ajuda-nos a reconhecê-lo como Rei, e rei coroado de espinhos, e assim saibamos entregar-lhe nossas dores, sofrimentos e pecados, para que, rendidos aos Seus Pés, O possamos amar sem amarras, livres das tristezas que mantinham baixos nossos olhos e não nos deixavam ver-lhe a glória que Ele mesmo nos quis revelar. Amém.

Glórias sejam dadas ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Jesus é Flagelado

Pai bondoso e cheio de misericórdia, Deus fiel e dileto Senhor de nossas almas, a Vós voltamos nossos olhares e pensamentos, afetos e desejos para pedir-Vos a única graça que nos é sumamente necessária: a santidade. Dai-nos, por vossa bondade, a disposição e a capacidade de cumprir Vossa vontade em todos os instantes de nossa vida. Nutri-nos incessantemente com o pão de Vossa graça e saciai nossa sede sempre com as águas puras do Espírito Santo, a fim de que sejamos sempre dóceis à Vossa vontade e saibamos progredir na santidade, na prática da justiça e no amor ao próximo. Assim seremos por Vós livres de todos os males, sobretudo saquele que nos ameaça na hora da morte, e encontraremos um final eternamente feliz junto de Vós. Amém.

Ave Maria Santíssima, Senhora Nossa, mãe das dores, Senhora do calvário, filha de Sião bendita cujo coração ferido de amor faz jorrar sobre o mundo o Amor que por Cristo tiveste a dita de guardar em teu seio. Vejo teus olhos vertendo abundantes lágrimas ao saber da prisão de teu amado filho e Senhor. Sinto a amargura e a tristeza de teu coração ao veres teu inocente Jesus, para ti para sempre o teu pequenino menino, ser conduzido por aqueles homens que ignoram a gravidade do crime que são forçados a cometer. Aqueles soldados veem nisso a obrigação de aplicar a sentença a um condenado e zombam deste homem que se dizia Filho de Deus, Rei dos Judeus, Senhor do Sábado, Mestre e Senhor e que guardava silêncio, não retrucava um insulto sequer, para que se convertessem os corações que o feriam, mais pelo amor do que por sinais ou prodígios. Ele queria a misericórdia, não o sacrifício, e por isso preferiu o amor aos prodígios, preferiu silenciar a defender-se. Imitou-te o exemplo, Maria, e aprendeu a obediência fazendo memória da obediência que viu em ti durante toda a Sua vida. Ele, em tudo semelhante aos homens, de tua virtude imitou o exemplo e silenciou, guardou tudo no coração e pelos sofrimentos que teve aprendeu a obedecer (cf. Hb 5, 8) e, obedecendo, pagou em nosso lugar o preço devido por nossos crimes.

Por isso és bendita Maria, por isso toda geração te proclama bem aventurada e eternamente feliz. O sim que disseste ao anjo ecoa na vida do Filho que de ti nasceu, a fortaleza que se vê no Filho viu-se antes na mãe, aquela que acreditou e viu cumprir-se plenamente o que da parte do Senhor lhe fora dito (cf. Lc 1, 45). Quem o poderia crer se não testemunhasse em teu favor o Filho que em ti gerou o Espírito, cumprindo ao máximo o mandamento de Seu Pai e, ao honrar o pai e a mãe que tivera na terra, prolongando os seus dias apesar de tão cedo encontrar a morte. Abraçou-a livremente, imitando a perseverança que no seio de sua família aprendera, consciente de que poderia livremente retomar a vida que ali entregava. Assim conquistou para si a vida prometida a quem cumprisse lei (cf. Ex 20, 12) e entregou o prêmio a todos quantos quisessem acreditá-lo e segui-lo. Livrou a todos da pena da lei, fazendo-a pesar sobre si. Ele, inocente, sofreu toda a pena, para que nós, culpados, da nossa culpa fôssemos remidos, recebendo dele o prêmio da vida, se lhe imitamos o exemplo que nos garante o perdão.

Isto alcança para nós, Maria, por tua constante intercessão e cuidado. Se por ti somos educados, como poderemos não nos parecer sempre mais com teu Filho? Isto queremos, somente isto desejamos, e que se perca todo o resto, contanto que, assim, de Cristo não nos percamos. Segura-nos, mãe, a fim de não cairmos na tentação final e te possamos encontrar na glória e contigo amar o Teu Filho, com o Pai e o Espírito Santo, por todo os séculos dos séculos. Amém.

Assim sejam sempre dadas glórias à Trindade Santíssima que a nós se quis revelar a fim de restaurar-nos a dignidade perdida pelo pecado. Ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito seja a glória e toda a nossa vida. Assim seja.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Agonia de Jesus

Pai nosso, criador nosso, providenciai em todas as nossas necessidades, supri o que falta às nossas forças para que te sejamos fiéis em todo tempo e jamais abandonemos a prática de Vossa santíssima vontade. Assim poderemos ver realizar-se já neste tempo o reino que dos Céus nos foi trazido por Vosso Filho, Jesus Cristo, por quem a cada dia nos alimentais a fim de que tudo isso seja possível, para maior glória de Vosso nome e bem de nossas almas. Amém.

Ave Maria, cheia de graça és e de Teu coração transpassado por aquela espada de dor pudemos aprender, nesta chaga que em Ti produziu o Amor, a sabedoria que Teu coração em tantos anos no silêncio recolheu. Abriu-se àqueles que o Cristo faria teus filhos a sede da Sabedoria, Teu Imaculado Coração.

Jesus sofre a agonia no Horto das Oliveiras e como da oliveira o fruto é esmagado, padece o Cristo sob nossos pecados, sob nossa ingratidão e indiferença. Este bendito fruto daquela oliveira santa começa a destilar o óleo que nos consagrará para sempre ao Seu Amor sempiterno e misericordioso. Deixando-se ferir pela crueldade dos homens, rega ele mesmo com Seu sangue a terra de cujo fruto comemos, começa a restauração da obra do Pai. Desfazendo agora o que fizera Eva, ofereces agora aos homens, Maria, o fruto bendito que vence o mal, que supera a morte e vence a astúcia do inimigo. A Eva que não fora enganada oferece de si o próprio fruto a todo homem e vê ser lançado na terra o pequeno grão de trigo que logo germinará, vê ser ferido o lenho verde para que os secos nele fossem enxertados e pudessem reviver.

Cristo, vislumbrando a própria morte e tomado de pavor, faz de si o sacrifício que a todos salvará e suando sangue se prepara para marcar os umbrais da morte para que aqueles que se tornassem seus irmãos da morte eterna fossem poupados e pudessem descansar em segurança nas moradas de Seu Pai, onde o anjo da morte não os poderá alcançar.

Roga por nós, Maria, para que de nossa morte as portas sejam também marcadas pelo Sangue do Santíssimo Cordeiro que tira o pecado do mundo, Teu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo, que escolheu salvar-nos para que pudéssemos escolher a salvação.

Pela nova Páscoa que começa e pelo exílio que termina, sejam dadas sempre glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Trindade una e indivisa, que reina pelos séculos dos séculos. Amém.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Instituição da Santa Eucaristia

Pai Santo, o que seria de mim sem Vós, que me socorreis quando já sem esperanças pereço debaixo de minhas próprias fraquezas e culpas? Sois verdadeiramente meu Pai, porque me conheceis, cuidais de mim e providenciais para mim vossos dons em todas as minhas necessidades, concedendo-me o que preciso antes que eu o mereça, negando-me o que quero e não me convém e amparando-me em minhas decaídas tão frequentes. Sede, pois, glorificado em tudo isso que fazeis por mim todos os dias de minha vida, e que assim, livre de todo mal por Vosso glorioso poder, eu Vos possa louvar e amar por toda a eternidade.

Ave Maria Santíssima, amável virgem jovem de Nazaré, acaso poderias imaginar que tanto serias agraciada? Gostavas de estar sempre com Deus, e de fato estavas e isto te bastava, mas aprouve-lhe dar-te ser ainda mais íntima Dele do que poderias querer, foste feita mãe do Verbo e pudeste gerar em teu seio aquele que no seio do Pai fora gerado na eternidade. Tu levaste em ti mesma a alegria do universo inteiro, a salvação dos homens, a restauração de toda a criação, e permaneceste humilde, simples e silenciosa. Teu alimento era fazer a vontade do Pai e por isso permanecias quieta, cuidando daquilo que era Dele, enquanto Ele te nutria o coração.

Nasceu Jesus e continuavas ali, em silêncio. Vias o Filho de Deus crescer em estatura e graça e guardavas em teu coração tudo que vias e ouvias do menino Deus, do homem Deus, enquanto tu também lhe ensinavas e ele de algum modo também guardava no coração o que do Pai havias aprendido na intimidade e no segredo do coração divino.

Chega, enfim, o momento derradeiro, aproximava-se a plenitude dos tempos e a consumação da obra redentora já estava às portas. Teu Filho reúne, então, para despedir-se deles, os discípulos tão amados que deveriam continuar Sua missão. Antecipa-se a Páscoa, antecipa-se o sacrifício. Nas palavras cheias de mistério e amor de Jesus faz-se sacramento o que em poucas horas escandalizaria milhares de homens e mulheres. Torna-se, à Palavra de Cristo, Sua Carne e Seu Sangue o pão e o vinho naquela ceia. E não faltou o cordeiro, Jesus já ali entregava Sua Carne e Seu Sangue para que os apóstolos Dele se alimentassem: era a Páscoa do Senhor.

Podiam agora, todos, participar daquela mesma união divina que tu provaste em toda a tua vida e que naquele glorioso encontro com o anjo se fazia dom para o mundo. E tu permaneces em silêncio, feliz por ver cumprir-se a promessa do Senhor: começava o Reinado de Teu Filho no coração dos homens, e disso te alimentavas, pois fizera o Senhor em Teu favor grandes coisas e agora, como tu, todos poderiam ter em si o próprio Salvador! Por isso és bendita, Maria, por isso és cheia de Graça! És a nova Arca da Aliança, sacrário bendito do sacramento que dá vida ao mundo, bendita custódia que ostenta diante dos olhares estupefatos do mundo o próprio Senhor do universo, feito homem, feito alimento, feito íntimo dos homens.

Roga por nós, Maria, a fim de que amparados por tua intercessão sejamos sempre fiéis ao desejo do Cristo para que em nós o fogo que Ele veio trazer ao mundo esteja sempre aceso e se possa espalhar por toda parte, até que todos os homens se inflamem do amor de Deus e todos juntos o adoremos na eternidade feliz. Assim seja.

Por tão grandioso mistério sejam sempre dadas, por nossas palavras e por nossa vida, glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Transfiguração

Pai Santo, criador nosso, misericordioso companheiro e zelador de nossas pobres almas, confortai-nos com Vossa adorável presença e salutar conselho em nossas indecisões. Sede-nos propício em nossas necessidades e favorecei-nos com os dons de Vossa piedade, sobretudo a mansidão e a fortaleza que somente alcançam aqueles que a Vós se confiam. Restaurai-nos segundo a imagem de Vosso diletíssimo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, para que se veja em nós Vossa imagem e sejamos homens e mulheres segundo a Vossa semelhança. Assim serás em nós glorificado agora e para sempre, como no princípio.

Ave Santíssima, puríssimo sacrário e guarda do mais precioso tesouro do universo, em ti quis o Verbo do Pai habitar e velar Sua glória sob a tua humanidade. Escondeu-se no lar de Belém e deixou-se cuidar por ti Aquele que sustenta todas as coisas, e tu, pobre e simples, foste o mais excelente dos vasos de barro, o único que mereceu trazer em si o mais rico e o mais humilde de todos os tesouros da terra e do céu. Por isso convinha que fosses pobre e simples, e o foste do modo mais perfeito possível. Mereceste isso por nós e aceitando o divino apelo deixaste que por ti se fizesse carne aquele que mais tarde se faria nosso alimento. Da tua excelência, ó Vaso espiritual, Vaso honorífico, Vaso insigne de devoção, imitamos o exemplo os que fomos feitos filhos teus e podemos trazer em nós também, pela Sagrada Comunhão, o Verbo feito carne.

No tabor quis Pedro fazer tendas para ficar ali com Jesus, Moisés e Elias, enquanto tu tiveste a graça de morar com Ele antes que o mundo o conhecesse, de saber-se agraciada com a vinda do tão esperado Salvador e conviver com aquele segredo, de glórias tão cheio e ao mesmo tempo vazio de todas elas, o Criador feito criatura para alcançar a criatura ferida para que para sempre não se perdesse. Preservada tu foste de todo pecado para mereceres receber dom tão Sagrado e naquele princípio foste tu a glória que anos mais tarde Pedro, Tiago e João veriam naquele monte.

Feliz és tu, Maria, pelas glórias que te deu Jesus, e porque Dele és tão íntima, pede por nós como quer Seu divino coração e alcança-nos a salvação no fim de tudo. Se a ti amamos somos felizes assim, podemos invocar-te na morte e ter segura a vida sem fim, no céu, amém.

Sejam por tudo isso dadas sempre glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, amém.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Convertei-vos e crede no Evangelho

Pai Nosso, estás no Céu e estás também na terra, no coração daqueles que Te amam e querem amar. Por isso, Pai Santo, faze que Teu nome seja em nossa vida reconhecido como Santo, Santo, Santo, instruindo-nos em todos os nossos atos a agirmos de acordo com Teu plano de santidade, traçado para nós de toda a eternidade, a fim de que sejamos semelhantes a Ti e em nós os homens Te reconheçam, vendo em nós também a tua imagem.

Ave Maria, cheia de graça, verdadeiramente podes ser chamada mãe de Deus, és a mãe de Jesus, aquela que mais perfeitamente cumpriu as palavras do Cristo. De fato, elogiando Jesus aqueles que cumpriam Sua palavra e chamando-os familiares Seus elogiava também a Ti, Senhora pura, santa e imaculada! Jesus anuncia Seu reino que já era realizado por ti e em ti, doce Mãe de Deus, cada vez que dizias sim à vontade do Senhor, e sempre dizias sim. Eis a perfeita cumpridora da Palavra, eis a quem devem imitar aqueles que desejam converter-se ao seguimento de Jesus. Se não fosse verdadeira tua permanente fidelidade, porque te chamariam de bendita todas as gerações? Grandes coisas fez o Senhor em teu favor e por ti em favor da humanidade inteira, e por Cristo foste preservada do pecado deste a tua criação até o fim de tua missão, perfeito sacrário do Santo dos santos. Levaste o próprio Deus em teu seio, por uns poucos meses, mas por toda vida o tiveste em teu coração, e por isso És cheia de graça.

Converte-nos, mãe Santíssima, abre nossos olhos para que contemplemos as maravilhas do Senhor realizadas em nossa vida e ao nosso redor e nos voltemos para Ele o quanto antes, para que a morte não nos surpreenda fora do Reino de teu Filho, Jesus Cristo, que com o Pai reina na unidade do Espírito Santo. Sejam assim dadas glórias ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princípio, agora, em toda a nossa vida e sempre. Amém.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O primeiro milagre

Pai, quero dar-Te a cada dia meu louvor, oferecer-te a cada instante minhas palavras e sentimentos, atos e pensamentos, singela oferta que Te faço, sem no entanto poder retribuir-Te todas as graças que me fazes. Dás-me a cada dia o pão de que preciso mesmo antes que te peça, mas mandas que eu Te peça para educar meu coração e ensinar-me que só posso depender de Teu favor. Ensina-me também a ter em mim misericórdia e compaixão, a perdoar aos que me ofendem para poder gozar de Teu perdão, de Teu favor.

Ave Maria, és verdadeiramente cheia de graça e gozas plenamente do favor do Pai, que a ti enviou o Espírito para conceberes Seu Filho. Estás de tal modo unida ao nosso Deus que um pedido Teu moveu o Seu querer divino em favor daqueles noivos já aflitos pelo vinho que faltava. Não hesitaste em apontar àqueles homens que serviam naquela ocasião a vontade de Teu Filho, bem conhecias aquele coração que viste crescer e sabias bem que Ele, como tu, se compadecia dos aflitos e lhes queria dar alívio. Sequer pediste um milagre ao Teu Jesus, mas logo te voltaste aos serventes mandando que fizessem tudo aquilo que Teu Filho lhes mandasse. Tu moveste a fé daqueles homens, voltaste-lhes os olhos para Jesus e de novo te escondeste, discretamente sorrindo pelo encontro que causaste.

Era tua missão trazer ao mundo o Salvador e agora ao mundo também o apresentas. Fazei tudo o que Ele vos disser, disseste àqueles servos e hoje também a nós, é Ele vosso Senhor, a Ele só deveis obedecer, nos dizes tu. Ajuda-nos, então, mãe Maria, a fim de que sejamos dignos nas promessas de Teu Filho, Senhor Nosso; roga por nós sobretudo na hora de nossa morte para que os temores daquela hora não nos façam perder a fé que por Teu conselho em nós cresceu.

Sejam por isso dadas ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo glórias, louvores, cantos e sacrifícios espirituais, à Trindade seja agradável nossa vida, todos os dias, até que se eternize o nosso louvor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Jesus é batizado

Pai Nosso, de nós quisestes fazer uma só família em Vosso Filho Jesus, que do céu desceu para resgatar-nos e levar-nos também ao Céu, onde estais, de onde nos chamais, de onde os bens devemos desejar apenas. Seja glorificado Vosso santo nome em nossa vida enquanto Vos celebramos pelas virtudes com que nos quisestes adornar. Sede sempre o nosso amparo, nosso sustento, guardando-nos sempre do perigo de perder-Vos para sempre. Assim seja.

Ave Maria, cheia de graça és porque concebeste o Salvador, aquele em quem habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Cl 2, 9). A este menino que um dia apresentaste ao Senhor o Batista também agora apresenta a Deus, batizando-O como se ele também precisasse de conversão. Fá-lo, porém, não para purificá-lo de algum pecado, mas já prenunciando o que Dele se diria mais tarde: "aquele que não conhecia pecado foi feito pecado por nós." (2Cor 5, 21). Se aquele primeiro mistério não entendias, tampouco entendes agora, Maria. De novo o apresentas ao Senhor, mas agora o deixas partir. Começa o tempo de anunciar. Vês agora ao longe teu pequenino, já crescido, e o continuas escutando, discretamente, guardando em teu coração as palavras deste que possui todo o agrado de Deus. Fora confiado a ti este menino, e nele também tu puseste todo teu agrado, e o teu agrado é agora vê-lo partir levando a felicidade que encontrou teu coração já naquele encontro com o arcanjo. Feliz dia, glorioso dia, é agora apresentado ao mundo o Filho da Virgem Maria, vero Filho do Homem, vero Filho de Deus!

Santa Maria, mãe de Deus, roga por nós, cuida de nós, para que sejamos dignos das promessas de Cristo, feitas a quem quisesse segui-lo, para que não nos desviemos do caminho que nos propusemos seguir, o mesmo caminho escolhido por Cristo. Poderemos beber do mesmo cálice que Ele bebeu? Poderemos permanecer fiéis até a hora de nossa morte e, passada aquela hora, sermos contados entre os eleitos? Com tua ajuda, Maria, certamente poderemos. Roga por nós, sê para Jesus a nossa prece permanente. Amém.

Ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo louvemos e exaltemos pelos séculos sem fim! Bendito sois, Senhor, no firmamento dos céus! Sois digno de louvor e de glória eternamente!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Jesus, perdido e re-encontrado

Pai nosso, olhai benigno para vossos filhos, homens e mulheres que tão facilmente se perdem do caminho onde lhes pusestes pela mão de Vosso Filho diletíssimo. Adotados fomos por Vós pela obra de redenção operada por Vosso amado Filho, quando pelo batismo morremos com Cristo e nele também ressuscitamos. Como irmãos vos pedimos, por nós e por todos os outros que conosco agora não rezam, alcançai-nos por Vossa misericórdia, cumulai-nos de Vossos dons, saciai-nos com o alimento que nos vem do alto a cada dia, dai-nos sempre ouvir, como ao pé do ouvido, Vosso Filho a dizer-nos: “tomai e comei, isto é o meu Corpo; tomai e bebei, isto é o meu Sangue” e, ao ouvi-lo, dai-nos as disposições convenientes para a cada dia obedecê-lo. Dai-nos, Vosso pão, dai-nos vosso perdão, dai-nos a Vossa Salvação.

Ave Maria, se assim saudou-te o anjo naquele dia com que razão me calaria? Não posso desdizer o que disse aquele mensageiro, que palavra não poderia trazer nos lábios senão o que pelo próprio Deus lhe fora ordenado, e assim te saudou, Ave Maria, plena de graça, o Senhor é contigo. Assim tu és, bendita Maria, és com Deus, és para Deus.

Com quanta dor deves ter corrido de volta a Jerusalém – três dias haviam passado – quando não encontraste Jesus ao voltares para casa com José! Para ti era como morrer, deixar perder-se teu filho querido, o Filho de Deus, mas ali também agia a mão da Providência que queria ensinar-te um pouco mais e dar-te um tanto mais de alegria pelo santo que de ti nascera. Certo é que não entendias, e sequer poderias, crias apenas no que o anjo dissera: o menino será santo, chamado Filho do Altíssimo, reinará para sempre sobre o povo escolhido. Quanta alegria e alívio quando o viste ali entre os doutores, quanta surpresa ao vê-lo discutindo com eles! Aparecia já a sabedora que superava Salomão, autoridade maior que aquela dada a Jonas. Na resposta à tua angústia mais um mistério te foi dito, “não sabeis que devo cuidar das coisas de meu pai?”, disse teu filho, mas ele logo levantou-se e despediu-se dos doutores, seguindo caminho ao lado teu. Aquele mistério guardaste no coração e mais tarde entenderias o que já o anjo dizia de ti. Ave, tu que tens o favor de Deus, encontraste graça diante d’Ele. Porque humildemente em tudo lhe obedecias recebeste em teu ventre Jesus e assim também o encontras no templo, o menino Deus que de ti segue o exemplo. “Não sabeis que devo cuidar das coisas de meu pai?”, disse Jesus, e no olhar a gratidão que dizia ao teu coração: “Mulher, assim tu me ensinaste, assim devo viver, fazendo tudo o que o Pai me ordenar.”

Roga, portanto, por nós que somos teus filhos, Maria, e enquanto nos achegamos ao teu coração ensina-nos também a nós a cuidar das coisas de nosso Pai que está no Céu. Ajuda-nos, Ave cheia de graça, para que a morte nos faça como tu e Deus para sempre seja conosco também. Demos glória a Deus Pai onipotente e a seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso, e ao Espírito que habita em nosso peito, pelos séculos dos séculos. Amém.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Jesus é apresentado no templo

Pai Santo e diletíssimo, Senhor do Céu e da terra, criador do mundo e providente conselheiro dos humildes, solícito ajudador de quem em Vós confia, pródigo dispensador de Santos Dons aos desmerecedores, ouvi solícito a prece que ora faço e prova Vossa misericórdia pela confiança que Vós mesmo me inspirais enquanto rezo. Concedei-me como alimento Vossa Palavra, Vossa Sabedoria, pão diário de que carece a natureza, livrai-me do que me faria perecer e guardai-me puro para no fim poder entrar em Vossa casa e convosco viver na eternidade, onde não há sombra de variação que possa ameaçar nossa união, que então será perfeita como desde o princípio desejais.

Mãe Santa, casta e pobre virgem, humilde serva de um Deus que quis tornar-se filho daquela que se declarara Sua escrava, tua humildade te faz a mais digna de todas as criaturas, a mais perfeita, por ela mereceste ter em teus braços aquele que a tudo sustenta em Suas mãos. Grande mistério é neste dia este teu gesto de solícita obediência à ordem do Senhor, que um dia te pedira que acolhesses em teu seio o verbo eterno e agora pede que apresentes a Ele mesmo o fruto de teu consentimento. Ave, virgem puríssima, feita pura pelo rebento que em teu seio se formou e que agora apresentas a Deus Pai, glorioso menino que merecia uma mãe com uma dignidade como a tua, pura como só Ele mesmo poderia ser, pura por tua humildade, pura por tua simplicidade, pura por não trazeres a mancha que a outros em teu lugar tornaria soberbos. Pura, porque assim Deus te quis para em ti poder habitar.

Por tua virginal pureza e tua inabalável união com Deus nada queres que não seja querido pelo filho que trazes nos braços, vero Filho de teu Deus a quem agora o apresentas como teu querido filho, querido por Deus para ti e para todos seus fiéis. E porque queres tudo quanto quer o próprio Deus, pede para mim a graça que ora peço, sede meu auxílio oportuno em toda prece que faço e que calo, sede para mim a prece incessante que minha fraqueza não permite que eu sustente, até que na morte se calem as fraquezas e permaneça em mim, por teu favor, somente a graça do Senhor que plenamente em ti quis habitar.

Sejam por tudo isso dadas sempre glórias a Deus Pai, ao Seu Filho que menino quis nascer e ao Santo Espírito que à virgem envolveu com Sua sombra para que se fizesse carne o Verbo, por todos os séculos do séculos, amém.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Nasce Jesus

Pai, quisera encontrar um tempo, um espaço dentro de mim mesmo para encontrar-te sozinho, tu e eu, para poder ser sem a intromissão dos meus medos, sem os gritos de desespero de meu passado frustrado que por tanto tempo sobreviveu e que por isso não pôde ainda ressuscitar. Encontra-me nesta hora assim, Pai, e dá-me a Tua vontade como alimento, santifica-me com Tua simples presença que a toda sombra dissipa e vence os inimigos teus que ainda vivem no meu coração.

Maria, mãe dentre todas bendita, doce flor que adorna o deserto da vida e tão doce fruto nos dá! Dá-me nesta hora partilhar um pouco da alegria do teu coração naquela hora, bendita hora, em que davas à luz à própria Luz, em que teu silêncio fez memória do princípio e de novo a Luz se fez à voz de Deus que assim ordenara. Fez-se carne o Verbo Eterno que agora nasce, desce à terra em teu silêncio a voz que a tudo deu início, chora a criança, ouve-se o criador, pequeno rebento de homem, do Pai único filho.

Canta teu coração enquanto cala tua voz, nada querias dizer, nem poderias, podias apenas olhar e sorrir ao ver em teus braços a esperança do mundo, de teu povo, de teu coração! Por isso és bendita, Maria, porque disseste sim à salvação do mundo inteiro!

Mãe Santíssima, que de tão íntima de Deus não podes querer o que Ele não quer, dá-me da parte de Cristo uma humildade como a tua, um silêncio como o teu, um coração como o teu. Quero acolher Jesus dentro de mim, como tu, ouvir a Deus, como tu, guardar tudo dentro do coração, como tu, para fazer tudo o que Ele disser, como tu. Seja assim até à morte, assim seja.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo desde agora e para sempre, ao Deus que é, que era e que vem, pelos séculos. Amém.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Maria visita Isabel

Pai Santo, Deus eterno e Todo Poderoso, olha este teu pobre filho que nesta hora se recolhe para falar-Te um pouco, para ouvir-Te um pouco. Quero entregar-Te tudo que tenho dentro de meu coração e de Ti quero receber tudo, Teu coração, Tua vontade, água e alimento, o sustento do corpo e a salvação da alma.

Maria Santíssima, quanta alegria sinto ao ver-Te assim dócil à vontade do Senhor! Logo que recebeste o anúncio da encarnação a ele disseste sim e igualmente sem tardança foste ao encontro de Isabel e ali ficaste até que ela desse à luz a João Batista. Feliz és tu, Maria, porque cumpriu-se o que da parte do Senhor te fora anunciado! Bendito é o fruto de teu ventre, Jesus! Ave, Cheia de Graça, assim cantam desde então a ti os homens todos a cada geração, enquanto louvam nosso Deus pelas maravilhas que em ti Ele quis realizar.

E porque tens nas mãos e coração toda graça e o favor de Deus, roga por estes pobres filhos teus, que hoje penam neste mundo e se alegram naquilo que o Senhor prometeu nos conceder. De tuas mãos receberemos o que teu sim tornou possível, a salvação e a vida eterna que com teu auxílio alcançaremos.

Por toda graça que por ti recebemos e de ti receberemos, damos glória à Trindade Onipotente, Pai, Filho e Santo Espírito, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos. Assim seja.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Verbo fez-se carne

Pai, Vossa é a minha vida e a Vós confio o governo dos meus dias, minhas vontades e necessidades, até que na morte Vos possa encontrar e estar convosco para sempre. Fazei, Senhor, que a participação nos Vossos mistérios restaure em minha vida o amor e a confiança e me faça submeter-me sempre à Vossa Vontade Santíssima, que assim se cumprirá na terra como no céu. Peço-Vos que me ajudeis a compreender o mistério da encarnação de Vosso filho, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Mãe, Maria, o que terá se passado em teu coração naquele dia, em que absorta em tuas orações, tiveste aquele encontro com Gabriel, o anjo que anunciava os desígnios de Deus? Verdadeiramente o Senhor é contigo, que assim és bendita entre todas as mulheres de todos os tempos. Por tua humildade mereceste ver aos teus pés inclinar-se um anjo a saudar-te como rainha, doce Ave Maria. Ave cantamos a ti, menina que fazes o que Deus te pediu! Bendito é o fruto que te torna bendita, fruto da vontade de Deus, fruto da obediência de teu coração. Quebraste os grilhões forjados por Eva, por ti veio-nos o Rei outrora traído para resgatar seus traidores! Bendito é Jesus, Deus que nos salva, e que declara bendita aquela que cumpre o que Ele nos diz!

Roga por nós, tu que tens o favor de Deus, pedimos a ti socorro, que a vida nos vem por meio de ti, singelo berço que acolheu o autor da vida. Acolhe-nos, Mãe, e roga por nós, agora e na hora da morte, hora feliz em que acabará o tempo e para nós, com teu favor, começará a vida na eternidade. Amém.

Glorias damos ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, Trindade Onipotente, Soberana Unidade, Deus e Senhor do tempo e da eternidade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Profissão de Fé

Creio em Deus, Pai Todo Poderoso, em Cristo Jesus, Seu unigênito e no Santo Espírito que de ambos procede. Creio que o Verbo, existente desde o princípio, fez-se carne e entre os homens viveu, por eles à morte foi condenado mas ao terceiro dia ressurgiu e subiu ao Céu. Creio que de novo Ele virá, para julgar os vivos e os que já tiverem morrido e aos justos dará a coroa da vida eterna. Por Cristo, com Cristo e em Cristo somos todos outra vez ligados a Deus, por meio da Igreja fundada por Ele, associados a Ele mesmo e unidos num só corpo no Filho somos todos filhos de um mesmo Pai.

Ao Pai nós damos todo nosso afeto e a Ele pedimos que enquanto vivemos vejamos em todos o Amor que Ele nos dá. Seja santificado Seu nome santíssimo por Sua graça inspirando todas nossas ações, palavras e pensamentos. Assim faremos todos Sua santa vontade tal como é feita no céu e já nesta vida começará a eterna que n’Ele esperamos. Dará Ele mesmo a nós o sustento para que sem cansaço em todo tempo o sirvamos, vivendo unidos num só coração. A quantos nos tiverem ofendido daremos perdão e assim perdoados seremos por Deus das vezes que não lhe fomos fiéis. A Ele pedimos que cuide de nós, de nós afaste todo mal e pecado e nos salve da morte no momento final.

Nos guardará nesta vida a Virgem Santíssima, a cheia de graça e dos favores de Deus que pôde em si conceber o Verbo encarnado. Pelo fruto bendito por ela gerado foi todo filho de Adão redimido e por isso é ela bendita entre todas as mulheres da terra. A mãe de Deus, mãe do Verbo, guardará os que Cristo salvou do pecado e na hora da morte lhes será o auxílio para que os temores daquela hora bendita não afastem da vida os que a Ela recorrem e levados por Ela conheceram o Filho.

Por esse mistério ao Pai seja a glória, também a Jesus, seu unigênito e igualmente ao Espírito seja o louvor, toda glória no céu e em todo universo. Assim seja.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Amar

Tenho medo de ver oportunidades passarem por mim deixando a lembrança de que eu nada fiz. Tenho medo de ver quem se aproxima de mim partir sem levar o que tenho de Deus, sem tocar o amor que me toca também. Tenho medo. Minhas forças não me ajudam, minha capacidade é de todo insuficiente, mas Deus continua me dando oportunidades para vencê-las, continua acreditando em mim. Não poucas vezes eu o traí, deixei de cumprir o que Ele me mandava fazer, calei-me, escondi-me com medo. Em outras tantas vezes comecei a obedecer e depois me esqueci, por conveniência, comodismo, desânimo, por não acreditar tanto em mim. Vi pessoas partirem, perdi amigos e outros tantos que passaram por mim e ficaram para trás. Era o que via do lugar onde estava, mas aos poucos me convenço de que foram eles que seguiram, eu fiquei para trás. Olho de longe e já não os vejo, tento chamá-los mas não sei se ainda me escutam, espero. Quisera poder refazer tudo que eu fiz errado, poder corrigir onde não pude acertar, perdoar o que ainda não foi perdoado e encontrar o perdão, recomeçar.

Sei que não posso abraçar todo o mundo, mas vejo tantas pessoas esperando que alguém apareça lhes dando socorro, alguém que olhe pra elas como olhava Jesus. Pessoas que esperam apenas encontrar o amor, amor que eu deveria viver, simplesmente por dizer-me cristão.

sábado, 21 de maio de 2011

O silêncio

O silêncio sempre me inquieta quando me é forçado por minha própria incapacidade de quebrá-lo. Inquieto-me por não saber comportar-me direito, por sentir saudade das palavras que me ocorriam com facilidade e hoje me fogem sem que eu sequer as veja passando por mim. Tenho medo do que isso se pode tornar dentro de mim se eu não souber recolher as lições que me cabem nesse tempo. Tenho medo de ser importuno ao escrever essas coisas e trair essa condição que me foi imposta e deixar que se percam os frutos que produziria. Tenho medo também de deixar que se percam os frutos já maduros deste tempo se guardar o silêncio além do tempo.

Preciso arriscar-me. Se deixo o medo vencer, no dilema constante de minha inconstância, no querer-nascer da arte que me escapa das mãos para livre voar até outros corações, traio minha própria condição, torno estéril o dom que creio ter-me sido dado por Deus. Sei, o medo nunca é a escolha mais sábia. As sugestões que o medo de dá são sempre egoístas, estreitas, limitadas. O remorso é seu único destino.

O silêncio me inquieta, minha incapacidade de descrevê-lo me incomoda um tanto mais e minha razão se revolta contra sua própria insuficiência. Raciocínios já não cabem nas razões que busco para o que sinto e a voz que sem forças tenta falar já não sabe o que dizer, os sentidos não sabem mais o que sentem. À porta de entrada de meu coração, cerrada ao que outrora me agradava, ouço uma única voz me dando conselhos. É o que dela ouvi que aqui escrevo, ensinamentos que para sempre hão de durar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ser cristão

Gosto de olhar as pessoas e ver como reagem ao que lhes acontece, os lugares que escolhem no ônibus, suas expressões quando são contrariadas. Fico pensando no que estão pensando e fico surpreso com o que vejo em seus olhares, quase sempre evasivos, às vezes envergonhados, recolhidos em seus próprios pensamentos. Refugiados em si mesmos, todos sentem-se seguros, no ônibus escolhem, sempre que possível, lugares em não sejam acompanhados de um estranho.

Todos se vão tornando estranhos uns para os outros e as pessoas são estimadas [e procuradas] em proporção à sua utilidade. Nosso próximo é como o balcão de informações do supermercado ou o posto de achados e perdidos. Como ele está, pouco importa, desde que forneça a informação que lhe solicitam.

Os interesses particulares vão tomando o lugar de nossos afetos e por vezes nos dirigimos a alguém, desconhecido ou não, apenas para ter nossa curiosidade ou necessidade satisfeita. A urgência da informação suplanta a afeição, de aparência frágil e facilmente descartável. "Tudo bem?", quando é dito, é uma mera saudação a que se responde repetindo: "tudo bem?". E assim se passa uma vida de afetos simulados, relações apenas diplomáticas, funcionais, comerciais.

Tenho medo do que tem se tornado o ser humano, principalmente por ver essa mesma superficialidade em muitos daqueles que deveriam ser "um só coração" (At 4, 32) e de quem se devia dizer: "vede como se amam!" Por isso é cada vez menor o número dos que creem; Naquele tempo, "o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação" (At 2, 47) e nós os vamos expulsando nos dias de hoje. Vamos, bilhões, dispersando os que doze tornaram assim numerosos. Seremos doze de novo ou menos? "Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda fé sobre a terra?" (Lc 18, 8).

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Minha liberdade

Se de Deus é o poder que me sustém a vida, porque eu não a poderia colocar em suas mão inteiramente? Há quem diga ser insano assim viver e chamam loucura abandonar a pretensa liberdade de prover tudo quanto eu pudesse desejar. Porque eu escolher não poderia a maneira que mais me convém para viver, enquanto eles todos se gabam de gozar tal liberdade? Quisera eu calar a voz que calunia, que levanta infâmias que denunciam sua própria hipocrisia! Quantos são os que se ufanam por seus feitos, por quanto dinheiro puderam ajuntar mais que os outros, tolos que perseguem iguais objetivos rotos! Porque condenam a liberdade em que escolhi viver, igual à liberdade que tiveram eles para tomar para si o que quiseram. Trabalharei aqui por muito mais do que dinheiro, feliz por não precisar de nada do que avidamente eles desejam. Não lhes serei um concorrente, não roubarei o que cobiçam. Vivam livres e deixem-me aqui, nada do que querem quero eu.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sabedoria


Queria saber retirar provérbios de tudo que me acontece. Desejo estranho? Pode ser, mas não me incomodo. Penso que a sabedoria que se encerra nas poucas palavras de um provérbio deveria levar-nos a filtrar mais as palavras e dizer somente o essencial. Se eu soubesse retirar dos fatos lições para minha vida eu certamente falaria menos e seria mais atento a todas as coisas.
Às vezes eu falo demais. É meu ego que reclama atenção, procura aplausos e risos, tenta atrair para si o olhar de quem está perto. Às vezes me calo demais. É meu ego que procura saber quem se importa, que espera dos outros a iniciativa de dar-me atenção, esperança de recompensa pelo que atraiu louvores no passado.
“Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam sempre melhores do que teu silêncio.” É esta a palavra que devo reaprender a viver. Acredito que o mundo seria menos ruidoso se ao menos uma pessoa tivesse a coragem de viver assim no meio dos que falam muito.
Quero começar...

terça-feira, 22 de março de 2011

Uma virtude

Pudesse eu escolher
Uma só virtude para viver
Preferiria a todas outras
A querida paciência

Com ela saberia esperar
E toda dor passaria por mim
Em paz sempre iria viver

Nenhuma angústia teria lugar
Entre as minhas companhias
E nada me poderia estorvar
Ou perturbar o coração

Com ela poderia viver
Sem imaginar que a morte
Sempre tarda a me encontrar

sexta-feira, 11 de março de 2011

Possibilidades

Fico pensando no alcance dos meus gestos, no que sentem os destinatários de meus atos. Temo fingir um amor que não tenho, inventar afetos e encontrar dentro de mim fantasmas que disfarcem meus medos. Não posso enganar meus sentidos, atraiçoar meus próprios sentimentos, mas posso fingir ter afeição pelos que me desagradam ou forjar virtudes falsas que atraiam a afeição de outros. Posso viver entorpecido pela mentira, imitando os bons exemplos que vejo apenas em meus gestos e esquecer-lhes o desejo. Posso querer ser agradável, procurar abraços e sorrisos, algum afeto que supra o que me falta e o amor que não tenho. Posso pretender amar assim e oferecer de mim apenas o que me pareça bom. Posso viver de parcialidades, deixar oculta aquela parte de mim mesmo que não atrai louvores, dizer de mim meias verdades, imaginando que não minto se escondo minhas maldades. Posso amar e posso interpretar personagens que amam. Posso escolher...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meus segredos

Não sei dizer onde vivem meus medos, minhas incertezas, minha insegurança. Tudo que sei é que às vezes me cercam e sem saída me deixam, as palavras me roubam e me fazem esconder-me até de mim mesmo. Sei também onde nascem meus males, raízes de minhas culpas e medos.

Por vezes é clara a visão de minha própria fraqueza e meus passos tornam-se incertos e frágeis e Deus parece distante de mim, por minha própria culpa. As trevas de meu cativeiro impedem a luz de chegar a meus olhos, a esperança se esconde e minha ruína parece certa. Minha alma, vazia, procura encontrar uma lembrança, uma pequena memória de tempos mais felizes, tentando consolar-se na saudade, mas nenhum bem pode fazer a si mesma. A busca frustrada de consolações antigas torna ainda mais sentida a dor presente e parece aumentar o vazio que sinto dentro de mim. Nem mesmo as lágrimas me aliviam a dor, o pesar por meus erros passados cresce diante de meus olhos cansados de procurar um alívio.

Foi neste cenário que Jesus apareceu, silencioso, discreto, iluminando as virtudes e dons que meu mal escondia de mim. Chegou sem fazer alarde e sem acusar-me de minhas culpas, aproveitou-se de minha fragilidade e sensibilidade naquela hora para conquistar-me, trouxe à luz não somente o bem que tinha perdido de vista, mas também o grande dom que me fez deixando-me sentir-me sozinho, mergulhado nas minhas fraquezas. Sem luz não era possível perceber as mercês que me fazia o Senhor, e assim não as podia tocar ou sentir.

Descobri assim no meu coração a nascente da humildade. Jesus fez brotar água da rocha, como Moisés no deserto, e minha sede já não me molesta tanto quanto no passado. O alimento novo que me deu o Senhor tem me sustentado até aqui, e creio que assim será até o final do caminho.

Assim creio, assim espero, seja sempre feita Sua santíssima vontade. Amém.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Minha Oração

Meu corpo não deixa minha alma rezar, mas não sabe que nisto também rezo. De mil maneiras me fere saber que não posso ir além de meus limites e das fraquezas que me prendem não posso fugir, mas pacientemente espero que do Senhor alcance forças para vencê-las todas.

Fica-me a lembrança dos tempos de maior liberdade, delas se nutre minha esperança de ver dias melhores por aqui. Não me entristeço, porém, ao ver que hoje as coisas parecem que não vão tão bem quanto no passado, eu apenas creio que quando vejo pouco Jesus age em mim com maior liberdade do que em outros tempos.

Padece meu corpo, faltam-me forças para cumprir o que devo cumprir e o que deseja minha alma. Ela está pronta, mas o corpo foge do que faz a alma livre, ficando ela cativa do que não posso fazer. É graça, porém, o que encontro aqui; por serem frágeis, as algemas se quebram logo e minha alma fica logo livre. Quebram-se as correntes por si mesmas, não podem durar muito tempo se minha vontade por elas não se deixa prender. Minha inteligência pode ficar cativa de minha fraqueza e minha memória presa da saudade, mas a vontade não precisa fazer-lhes companhia, seja para render-se ou para tentar livrá-las, se ela segue livre atrás dela seguirão também.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Escrever

Escrever é abrir as portas da alma e ter acesso mais livre ao nosso próprio coração, é alargar as frestas que os vícios não fecharam. Escrever acostuma-nos a estar dentro de nós e a frequentar o nosso íntimo com mais honestidade. É exercício de paciência, liberdade e humildade que nos faz a pouco e pouco mais amenos no julgar o nosso próprio coração. É cultivar a esperança de ver crescerem as virtudes e ferir de morte os vícios que no segredo crescem rápido. Escrever é deixar rastros onde pisam nossos pés, onde caem nossas lágrimas, é arar as terras e plantar nelas tudo aquilo que aprendemos por nossas dores e alegrias.

Escrever é desfazer e refazer o nosso próprio coração, sangrar feridas e curá-las, aprender lições que o silêncio sozinho não ensina. Escrever é dar o direito a quem viver depois de nós de aprender com aquilo que sofremos e cantamos, preservá-los dos sofrimentos que passamos e deixá-los comer dos frutos que colhemos. Escrever é partilhar o que somos, é não reter a própria vida e não perdê-la no final.

Quero viver e poder deixar um pouco de mim quando partir, não deixar perder-se o que aprendi, o que puder servir pra que outros sigam os caminhos de virtude que trilhei. Seja a minha vida sempre útil, mesmo depois de minha morte, e não passe o bem que fiz.