quarta-feira, 17 de março de 2010

Voltar

Deus me manda voltar ao início, refazer os caminhos por onde passei distraído e perceber os detalhes que poderiam ter-me ensinado mais. Mas é difícil encontrar um sentido claro para as coisas que faço movido por sentimentos assim, nostálgicos e, ao mesmo tempo, inovadores. É a novidade do retorno ao passado sem voltar lá, pisar caminhos antigos com as cores de hoje. E que a vida seja colorida de novo!

Deus me manda voltar ao início, e chego a tocar até mesmo o cansaço que me pesava quando pela primeira vez passei por aqui, quando despreparado e distraído percorri os caminhos que me trouxeram até onde estou. Estou nos sentimentos que me prendem, sentimentos que nunca são repentinos, mas costumam ser cultivo e, às vezes, displicência. Distração, obstáculo maior que todos os outros que encontrei, obstáculo invisível que me fez chegar atrasado, que me fez ter de voltar. E espero não encontrá-la de novo.

Deus me manda voltar ao início. E, pensando bem, é essa a ordem natural das coisas, já ilustrada naquela palavra de que todos avidamente fugimos: és pó e ao pó voltarás. Voltar ao início é refazer os caminhos antigos e trilhá-los ao contrário, é passar por eles duas vezes, é a um só tempo voltar e seguir, descansar e caminhar, ver, rever, conhecer, reconhecer, é experiência, saudade que se faz conhecimento, novidade, ensinamento, recordação do que ainda não se sabe. Deus me manda chegar à páscoa, epifania da felicidade que só nos chega no início.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Mundo mudo

Vivo num mundo mudo
Vivo num mundo sem voz
A monotonia envolve meus dias
Pouco muda no horizonte da vida

Pra quê dizer o que penso
Se há outros que pensam por mim?
Vivo perto de quem pensa assim
De quem assim pensa viver

Há tantos que dizem de si para si
"O que faço é feito por todos,
Pra quê admitir o meu erro?"
Quanto a mim, temo morrer assim

Mas aqui é tudo sempre igual
Por aqui todo mal é normal
A monotonia envolve meus dias
Pouco muda no horizonte da vida