sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Causa de queda

"Ele será causa de queda e soerguimento para muitos em Israel." (Lc 2, 34)

O que se diz de Cristo deve(ria) poder ser dito dos cristãos. Assim deveriam os cristãos ouvir o Evangelho: como regra de vida, conselhos que deveriam ser sempre levados em consideração, e não só, seguidos em qualquer circunstância. Desses cristãos, um é mais eminente, eleito por todos, escolhido dentre todos para ser vigário de Cristo. Dele, Cristo, somos [os cristãos] imitadores e, portanto, de seu vigário, o que de Cristo faz as vezes por excelência, o sumo pontífice. Todavia, não o ouvimos, não seguimos seus conselhos, não compreendemos suas palavras. Temos olhos e não vemos, ouvidos e não ouvimos, tateamos, voluntariamente, sob as trevas de nossa própria ignorância. Por isso tomo a palavra, voz silênciosa que deixo aqui, em silêncio, a quem quiser ouvir.

Não quero aqui, apesar dessa minha posição, falar em defesa de uma doutrina, de uma tradição religiosa ou de um corpo hierárquico. Quero falar do que vi e do que entendi, apesar das interpretações várias da mídia e dos preconceituosos.

Vejo um homem, homem que leva um título e deixa o cargo, a autoridade, o poder. O vigário de Cristo desce do trono e já não é o que era, embora conserve-se como era, o mesmo homem, chamado ainda papa, pontífice, vigário de Cristo. Levando consigo o título, leva consigo a história, uma história que assumiu para si, não como custódia, mas como agente, paciente, responsável e desce de lá o homem, para esconder-se dos olhares de todos, das interpretações, das especulações. Esse homem não foge, mas se cala, à maneira do homem de quem toma o lugar, faz silêncio ante as acusações, cala-se e se deixa matar. Fica ali, nos palácios, um cargo, o poder, a popularidade. Não questiono seus motivos, basta-me o que o ouvi dizer. Faltava-lhe vigor para exercer tão excelso mandato, vigor extenuado pelo tempo, pelo esforço, pelo martírio de um homem que foi ali colocado, e a isso consentiu, como voz de todos e voz de Deus. Aquele que sempre disse que seu cargo era serviço e nunca poder, deixa o poder que lhe adveio do cargo para poder apenas servir, em silêncio.

Prefiro não dar ouvidos às especulações, às interpretações. Se a todos dão a isso o direito, faço-o também, interpreto, descrevo o que vejo com os olhos que tenho.