segunda-feira, 19 de julho de 2010

Artista

Não sou um artista como tantos outros, apenas cumpro um mandato que sinto dentro de mim, devo fazer minha arte sem guardá-la para mim, nem mesmo os bens que dela me vêm. Vivo assim, sem remorsos, enquanto as riquezas que poderia guardar se dividem por outras mãos e saciam outros corações; o meu fica aqui, sangrando, sem remorsos. Pesares, não os tenho muitos, meu ofício não me permite frustrações. O que faço me satisfaz e me alivia quando escapa ao silêncio e se torna concreto.

Não sou um artista como tantos outros, não vivo mendigando louvores, nem me prostituo vendendo minha arte por uns poucos elogios e fotos em capas de revista. Prefiro o anonimato. Pudesse eu esconder-me e distribuir ao mundo os frutos produzidos no segredo, certamente o faria, mas não posso. Há quem precise dos frutos produzidos por esta árvore que sou eu, e não posso impedi-los de encontrar-me. Por isso continuo aqui, exposto e vulnerável, frágil e trêmulo, enquanto são atiradas contra mim as flechas do orgulho, da vaidade e dos elogios dos homens.

Não sou um artista como tantos outros, sou de Deus.