terça-feira, 10 de abril de 2012

Sou frágil

Sou frágil, minhas forças poucas não me deixam caminhar por longas distâncias, minhas forças são poucas e as quedas são as pausas que tenho e me diminuem as forças enquanto aos poucos morro tentando chegar. Quisera fosse já o fim do caminho a luz que quero ver despontar quando eu despertar, quando me levantar e minha pausa acabar. Mas guardo comigo um pesar, um peso que aumenta a frequência das quedas, o medo, o fracasso que finge o sucesso diante dos outros, a força forjada à força de aplausos à virtude inventada, esconderijo do vício, do crime secreto, do mal encoberto por sorrisos e cantos, clamores e prantos de devoção. A hipocrisia transborda em meus lábios, cai de meus olhos, toma minha voz e canta belezas desconhecidas descritas por outros que conheci. Roubo louvores alheios, recolho em meu próprio celeiro o fruto que não produzi, fruto do esforço de outros, minha maldade, meu crime inconfessado. Creia-me quem me quiser ouvir e faça-me se puder um gesto de compaixão e graça e não deixe que passe, por caridade, meu tempo, se ainda há tempo, de recomeçar. Sou frágil e preciso de braços que sustentem meus braços em minha oração, preciso de vozes que rezem por mim, preciso de amigos que ouçam meus gritos e os ofereçam em prece a Jesus. A caridade me valerá muito mais que a necessidade que move minha própria oração. Seja-me o amparo de Cristo um abraço de amigo, um olhar compassivo, uma mão estendida por quem me encontra caído mesmo me vendo de pé. Creia-me se me confesso, se admito que caio, sou criminoso mais criminoso que um assassino ou ladrão. Quisera ter a sorte de encontrar minha morte ao lado de Cristo como aquele ladrão e conhecê-lo naquela hora e pedir-lhe perdão, mas já vi Sua morte, Sua ressurreição e ainda lhe nego entregar-lhe de todo o meu coração. Tenho só mais uma chance, um sacramento, assim quero crer, assim quero viver. Posso não reencontrar o perdão se de novo cair, pode acabar-se meu tempo e terminar o caminho sem ter chegado ao final, por se me terem esgotado as forças e não me ser mais possível chegar ao final. Que de hoje em diante as quedas não me sejam as pausas, que minhas pausas sejam o suave descanso que posso encontrar aos pés do Senhor. Seja-me o Sacramento Santíssimo de meu Amado Senhor meu perene viático, repouso, consolo, restauração.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Despedidas

Despedir-me, sina permanente, hábito forçado pelo próprio tempo e que não posso evitar. Despeço-me e espero deixar rastros e restos que sirvam para compôr histórias novas e que minha história seja parábola que ensine o bem. Sejam curtos ou longos meus dias, numerosos ou escassos meus anos, será parco meu contentamento, moderadas as minhas satisfações e mortificadas minhas vontades. Tempo sempre será pouco, dias sempre curtos, sempre poucos, anos sempre incertos. Escura é a estrada da vida, oculto sempre o destino, embora haja sempre um vislumbre falso do final que espero. Confesso, nada vejo e espero pouco mesmo sendo grande meu desejo por um final feliz. Não me contradigo dizendo que quero pouco quando quero apenas um final feliz, porque o muito não pode ser simples, excessos não fabricam felicidades duradouras.

Felicidade, aliás, não deveria ter plural, ela é simples, única, singular. É por ela que espero enquanto espero a chegada, enquanto meus passos aguardam o último passo, enquanto temo ser este passo o derradeiro. Há vislumbres falsos do final que espero, mas a promessa na qual espero, a Palavra que meu Jesus deixou me basta para negar-lhes minha atenção. Ando pela fé, não pela clara visão. Mas tenho medo de chegar, de despedir-me, de deixar atrás quem eu quisera viesse comigo, de deixar que cheguem novos amigos e logo despedir-me deles, tenho medo de deixar-me para trás, de encontrar um outro eu em outra parte, mas destarte encontrarei a mim mesmo, deixando atrás meu antigo eu, meu coração que não conhecia a noite embora fossem noite os meus dias todos.

Já é aurora, é chegado meu último dia. Despedi-me de poucos, de ninguém, talvez, mas deixo aqui um último adeus àqueles que deixo atrás de mim. Precedo-os no céu, é o que espero, é o que quero, e sinceramente espero desde já que minha vida seja parábola que lhes aponte o reino de meu Cristo que já me espera às portas do Céu, chamando-me, olhando pra mim, pedindo que eu parta, que não demore, porque a saudade lhe rasga o peito, porque chegou-me o tempo de secar as lágrimas, de descansar o corpo, de fechar os olhos e na eternidade abri-los, naquele dia sem fim.