quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Comungar Deus

Colocar-se em comunhão com alguém significa ter iguais sentimentos, desejos, objetivos; quem recebe o Corpo e o Sangue de Deus na Sagrada Comunhão deveria, em virtude da presença real da pessoa de Jesus na sua totalidade divina e humana, colocar-se, ou antes, ser colocada em total comunhão com a divindade, não somente nos sentimentos, desejos e objetivos, mas também nos afetos, sonhos e planejamentos, e, sobretudo, no amor, porque o Santíssimo Corpo e o Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo são a fonte inesgotável do Amor Divino, de onde devemos beber para sabermos amar.

A razão pela qual tão poucos corações são modificados pela presença real de Cristo na Eucaristia é que poucos o recebem no Santíssimo Sacramento certos de que a realidade não é aquilo que os sentidos denunciam, mas sim o que Deus diz: "Isto é o meu Corpo; isto é o meu Sangue"(1). Estes cultivam uma fé que convém à sua razão, e, na verdade, não comungam, mas apenas comem e bebem a Carne e o Sangue de Cristo como se fossem pão e vinho, que no entendimento deles são apenas representações; comungam assim a própria condenação, recebendo o Santíssimo Corpo e o Preciosíssimo Sangue de Deus sem os discernir nas sagradas espécies do pão e do vinho. "Aquele que o come e o bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação"(2).

Não podemos nos aproximar assim da Mesa Eucarística, por conveniência, com uma "fome" de sermos absolvidos de nossas culpas e de nossa impiedade pelos que nos veem "comungar", famintos de receber a aprovação daqueles que nos veem "guardar a fé e os bons costumes". Que belo disfarce para nossa infidelidade! O apóstolo adverte os que assim procedem dizendo: "quem tiver fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para a vossa condenação"(3). Aqueles que ainda duvidam da realidade do Sacramento, ouçam o que o próprio Cristo diz antes da instituição da Eucaristia: "Eu sou o pão vivo que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade. E o pão que eu darei é a minha carne para que o mundo tenha a vida"(4). Essas palavras corriam o risco de serem entendidas num sentido simbólico, mas os judeus as interpretaram literalmente, e Jesus, ao contrário do que, talvez, seus corações esperavam, reafirma a verdade que acabara de proclamar, não um símbolo, mas a própria realidade: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele"(5). Jesus toma o cuidado de dizer textualmente que Seu Corpo e Seu Sangue são verdadeira comida e verdadeira comida, não um símbolo qualquer que poderia ser criado por um homem qualquer. O Santíssimo Sacramento é um dom que o intelecto humano jamais seria capaz de conceber, nenhum homem ou mulher jamais ousaria pedir a Deus que Ele mesmo se fizesse comida e bebida; prova disto é que muitos ainda duvidam da realidade do Santíssimo Sacramento, porque limitam as experiências da fé àquilo que a razão é capaz de alcançar. "Felizes os que creram sem ter visto"(6).

Muitos não creem, também, porque a maioria dos que dizem crer no Santíssimo Sacramento apenas o recebem, não o comungam. Jesus disse: "Como o Pai, que é vivo, me enviou e eu vivo pelo pai, assim aquele que comer de mim viverá por mim"(7). Quem come um símbolo pode apenas despertar em si sentimentos de afeto e imaginações, mas quem comunga a Carne e o Sangue de Deus é nutrido por Cristo, come de Cristo, e vive por Cristo.

 

(1) Cf. Lc 22, 19-20

(2) I Cor 11, 29

(3) I Cor 11, 34

(4) Jo 6, 51

(5) Jo 6, 53-56

(6) Jo 20, 29

(7) Jo 6, 57