segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sentimentos, superfícies

Nossa fé deveria fazer-nos desejar ir além do que permitem nossas capacidades. Absurdo isso? Não. A verdade do homem foi fragmentada ao longo da história, fomos, aos poucos, perdendo espaço dentro de nós mesmos, nos encolhendo em nossas impossibilidades, e o que nos era possível, deixamos pela estrada, e os animais comeram as migalhas de pão que indicavam o caminho de volta. Procuramos constantemente sentimentos e sentidos novos que tomem o lugar daquilo que escolhemos perder, mas nunca ficamos satisfeitos, como um copo cheio de pedras, que fica mais pesado e parece estar todo cheio, mas na verdade está cheio de espaços vazios também. E para quê serve um copo cheio de pedras?
 
Hoje resolvi descrever a vida de um jeito um pouco alegórico, moldado de metáforas, para falar desta pequena riqueza que dizemos possuir em nós, e da qual a todo tempo, um pouco sem querer, fugimos por não compreendê-la, a fé. Quando pecamos pela primeira vez, a fé pareceu ter-nos sido retirada, e hoje devemos nos esforçar para guardá-la dentro de nós. Ela, porém, é contrária ao que nos tornamos sem ela.
 
O mundo quer depender de constatações, de provas concretas, fatos, de tudo que pode ser conhecido a partir de experimentações e descrições. Acreditamos na vida, mas não vemos a vida; o que vemos, na verdade, é a manifestação da vida, mas não a vida em si mesma. Alguns crêem em Deus a partir de Suas incontáveis manifestações. Aí nasce a fé, e a partir daí ela começa a crescer e desenvolver-se, mas o que apreendemos por meio de nossos sentidos não deve limitá-la. Se nossa fé se limita àquilo que nos é manifesto aos sentidos, ela não se desenvolve, e se fragiliza à medida que vai contando dias no calendário. É a subnutrição do espírito. As realidades espirituais fazem parte de  nossas vidas, somos corpo e espírito, mas muitas vezes negamos essa realidade por não alcançarmos mais com facilidade isto de que voluntariamente nos afastamos. Falta-nos coragem para aceitarmos essa verdade, por que ela nos obrigará a abandonarmos os muitos vícios que nascem, exatamente, dessa "ignorância", e que são alimentados pelo orgulho que nos faz desejar e acreditar estarmos sempre certos em nossas vagas opiniões sobre aquilo que, na verdade, nem sequer nos dispomos a conhecer.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Reflexão

Vivo em um mundo de respostas prontas, nem sempre certas, de fatos feitos, repetidos. Aqui o diferente é estranho, absurdo, subjetivo, relativo, moralista. A vida exige atitudes ousadas de quem não deseja, e não espera, ser apenas mais um, mas deseja ser, apenas; não ser um entre tantos, entre muitos, como muitos, quase todos, que rejeitam os últimos poucos que querem identidade própria. Ser igual a todos não exige esforço, é a atitude inútil de nada fazer, e não melhorar, permanecer, até que outros o levem, aonde querem, sem querer impedir que façam o que a maioria permite.
Aqui há regras que mudam segundo o desejo de cumpri-las, instinto institucionalizado, instituído como mestre da razão. Racional? Responda você.
Aqui há comportamentos previsíveis, prostituição de valores socializada, profanação da individualidade e da identidade, distorção de verdades e transfiguração de mentiras em aparentes verdades, alimento para a razão irracional daqueles muitos. Vivo no meio desses tantos que não sabem mais o que são, que pensam ser homens, mulheres, meninos, meninas que vivem cativos dos próprios desejos, reféns dos próprios medos, dos conceitos falsos formados de si mesmos, que sobrevivem às custas do acaso.
Pertence aos poucos modificar os muitos e trazê-los à luz, indicar-lhes o único caminho que devem seguir se desejam chegar à felicidade que têm buscado nos lugares errados. Cabe aos poucos mostrar-lhes onde está a alegria que esperam, a paz que procuram, a paz de que precisam, o consolo de que carecem. É tarefa de santos mostrar-lhes Deus que nos quer todos juntos, diferentes unidos no mesmo caminho, e que entregará a todos no final a felicidade que buscam. E assim já não seremos muitos e poucos, mas seremos, então, todos, um só coração.