quarta-feira, 1 de abril de 2009

Poetizando

A mística e a poesia sempre me pareceram íntimas. Uma é alma, a outra, revelação. Imagens, alegorias, metáforas, símbolos, moedas de um mesmo tesouro, revelações de um mesmo único mistério, o espírito. A tentativa de descrever sentimentos é uma preocupação constante nossa, e é às vezes frustrante o não saber, a falta de voz, a falta de palavras que digam o que queremos dizer. Poetizar é deixar que voem livres melodias às vezes silenciosas de palavras que nem sempre encontram destino certo, que partem sem saber aonde vão, ou como vão, com o desejo oculto de apenas serem o que são, sementes que ainda brotarão. É manhã que surge sem esforço, sol que nasce sem que o mandemos subir. Poesia é exercício, é escrever sem pretensão de saber, mas de apenas ser, é saber-se inculto, pela própria virtude mudo, com o simples desejo de comunicar. O que sei que não o saibam outros melhores que eu, que viveram desde antes que eu fosse, que disseram o que agora digo em palavras passadas que agora encontram eco em sentimentos de outro coração, que em mudas canções quer propagar o mesmo canto dos mesmos sentimentos? Experiências que permanecem, que prevalecem, verdades que mais falam de nós que as palavras com que tentamos exprimi-las, veladas, escondidas, resplandecentes atrás de véus, vultos luminosos que um dia verão a Luz.