quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ser cristão

Gosto de olhar as pessoas e ver como reagem ao que lhes acontece, os lugares que escolhem no ônibus, suas expressões quando são contrariadas. Fico pensando no que estão pensando e fico surpreso com o que vejo em seus olhares, quase sempre evasivos, às vezes envergonhados, recolhidos em seus próprios pensamentos. Refugiados em si mesmos, todos sentem-se seguros, no ônibus escolhem, sempre que possível, lugares em não sejam acompanhados de um estranho.

Todos se vão tornando estranhos uns para os outros e as pessoas são estimadas [e procuradas] em proporção à sua utilidade. Nosso próximo é como o balcão de informações do supermercado ou o posto de achados e perdidos. Como ele está, pouco importa, desde que forneça a informação que lhe solicitam.

Os interesses particulares vão tomando o lugar de nossos afetos e por vezes nos dirigimos a alguém, desconhecido ou não, apenas para ter nossa curiosidade ou necessidade satisfeita. A urgência da informação suplanta a afeição, de aparência frágil e facilmente descartável. "Tudo bem?", quando é dito, é uma mera saudação a que se responde repetindo: "tudo bem?". E assim se passa uma vida de afetos simulados, relações apenas diplomáticas, funcionais, comerciais.

Tenho medo do que tem se tornado o ser humano, principalmente por ver essa mesma superficialidade em muitos daqueles que deveriam ser "um só coração" (At 4, 32) e de quem se devia dizer: "vede como se amam!" Por isso é cada vez menor o número dos que creem; Naquele tempo, "o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação" (At 2, 47) e nós os vamos expulsando nos dias de hoje. Vamos, bilhões, dispersando os que doze tornaram assim numerosos. Seremos doze de novo ou menos? "Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda fé sobre a terra?" (Lc 18, 8).