quarta-feira, 4 de abril de 2012

Despedidas

Despedir-me, sina permanente, hábito forçado pelo próprio tempo e que não posso evitar. Despeço-me e espero deixar rastros e restos que sirvam para compôr histórias novas e que minha história seja parábola que ensine o bem. Sejam curtos ou longos meus dias, numerosos ou escassos meus anos, será parco meu contentamento, moderadas as minhas satisfações e mortificadas minhas vontades. Tempo sempre será pouco, dias sempre curtos, sempre poucos, anos sempre incertos. Escura é a estrada da vida, oculto sempre o destino, embora haja sempre um vislumbre falso do final que espero. Confesso, nada vejo e espero pouco mesmo sendo grande meu desejo por um final feliz. Não me contradigo dizendo que quero pouco quando quero apenas um final feliz, porque o muito não pode ser simples, excessos não fabricam felicidades duradouras.

Felicidade, aliás, não deveria ter plural, ela é simples, única, singular. É por ela que espero enquanto espero a chegada, enquanto meus passos aguardam o último passo, enquanto temo ser este passo o derradeiro. Há vislumbres falsos do final que espero, mas a promessa na qual espero, a Palavra que meu Jesus deixou me basta para negar-lhes minha atenção. Ando pela fé, não pela clara visão. Mas tenho medo de chegar, de despedir-me, de deixar atrás quem eu quisera viesse comigo, de deixar que cheguem novos amigos e logo despedir-me deles, tenho medo de deixar-me para trás, de encontrar um outro eu em outra parte, mas destarte encontrarei a mim mesmo, deixando atrás meu antigo eu, meu coração que não conhecia a noite embora fossem noite os meus dias todos.

Já é aurora, é chegado meu último dia. Despedi-me de poucos, de ninguém, talvez, mas deixo aqui um último adeus àqueles que deixo atrás de mim. Precedo-os no céu, é o que espero, é o que quero, e sinceramente espero desde já que minha vida seja parábola que lhes aponte o reino de meu Cristo que já me espera às portas do Céu, chamando-me, olhando pra mim, pedindo que eu parta, que não demore, porque a saudade lhe rasga o peito, porque chegou-me o tempo de secar as lágrimas, de descansar o corpo, de fechar os olhos e na eternidade abri-los, naquele dia sem fim.