sábado, 23 de abril de 2016

Segue-me

“Para onde eu vou, vós não podeis vir.” (Jo 13, 33c)

A essa afirmação de Jesus Pedro corresponde com uma ousadia imatura e irrefletida: darei a minha vida por ti (v. 37b). Essa ousadia é imediatamente corrigida por Jesus no anúncio da tríplice negação que se seguiria àquela ceia. Todos conhecemos o desenrolar da história: Jesus é preso e os discípulos se dispersam, Pedro nega Jesus três vezes, Jesus é julgado, flagelado e condenado à morte, morre depois de terríveis torturas, é sepultado e, ao terceiro dia de sua morte, ressuscita dos mortos. O que vem a seguir é impressionante. Sucedem-se diversas aparições do ressuscitado a alguns daqueles que o seguiam e, numa dessas aparições, conversando com Pedro, Jesus diz: Segue-me (cf. 21, 19).

Pedro talvez se tivesse esquecido, àquela altura, de sua impulsiva resposta que lhe valera uma repreensão em tom de advertência por parte de Jesus, mas esse mesmo Jesus, trazendo à memória de Pedro a tríplice negação e instando-o a uma fidelidade maior, conclui sua lição com o mesmo convite com que começara a formar aquele seu amigo: Segue-me. Mas esse ‘segue-me’ é aqui ressignificado, carregando agora todo o Mistério Pascal em sua matriz. Aqui, é como se Jesus dissesse: agora podes seguir-me, já me amas verdadeiramente. Outrora te amavas mais que a mim, por isso te disse que me seguirias mais tarde (cf. Jo 13, 36), mas agora amas a mim mais que a ti mesmo e mais que aos outros, por isso agora podes seguir-me, podes despojar-te de tua vida por mim despojando-te de tua vida por aqueles que contigo me amam e para que me amem os que ainda não me conhecem. Apascenta minhas ovelhas, vive minha vida, dá a tua vida por mim.

“‘Em verdade, em verdade, eu te digo, quando eras jovem, amarravas o teu cinto e ias para onde querias; quando ficares velho, estenderás as mãos e um outro atará o teu cinto e te conduzirá para onde quiseres’. Jesus falou assim para indicar com que morte Pedro devia glorificar a Deus; e, tendo assim falado, acrescentou: ‘Segue-me’.” (Jo 21, 18s)