domingo, 16 de setembro de 2012

Racionalidades


Não me importa ser acreditado
Incauto por crer no que creem
Irracional, infértil razão
Que não soube crer na razão
Que só soube ver o que vê
E só crê no que sabe conhecer

Creem-me irracional, retardado
Por razão já superada, vencida
Pela razão prática, superficial
Do experimento, da constatação
Da ciência rasa das conclusões
Do raciocínio, proto-racionalidade

Creem-me ingênuo, resignado
A padrões ultrapassados, moralidade
Há muito deixada no passado
Regras que serviam outros tempos
Já não servem à nossa modernidade
Conhecer-me-ia reinventando-me

Mas não me importa a condenação
Rápida de quem só vê a superfície
Importa-me a verdade que creio
A razão alargada pela fé-esperança
Que tenho em minha natureza
E numa outra que assumiu a minha

Tornou-se divina a humanidade
Ao tornar-se humana a divindade
Fazendo-me crer no que poderia
Ser mera imagem da imaginação
Tomando para si a minha condição
Tornando a morte em redenção

Creio-me agraciado, felicitado
Por mérito que não é meu
Ao ver a lei que dantes oprimia
Tornar-se apoio à frágil natureza
Ferida pela própria altivez
Que contraria a própria natureza

Creio-me vencido por uma razão
Mais racional que a minha, pura
Conhecedora de profundidades
Que minha racionalidade não pode
Nem poderia alcançar sozinha
Assim conheço-me como sou conhecido

Conhece-me a divina razão, o amor
O divino motivo de crer e viver
Como vivo e creio, assim creio
Que não pode ser irracional a razão
Que se faz humilde e crê em Deus
Que a tudo supera e conhece melhor