terça-feira, 22 de maio de 2012

Encontro

Encontrei Jesus num coração amigo, num olhar que encontrou o meu sem preconceitos, num abraço que me acolheu e me recordou quem sou. Meu coração carecia de cuidados, cuidados de minhas mãos e do amor que já não me alcançava, que eu já não percebia, tal era a cegueira que me roubava a razão. Aquele olhar fez-me sair de mim, aquelas lágrimas me fizeram chorar também, chorar dores que não eram minhas, colocá-las em meu coração, sentir compaixão como Jesus sentia, estender a mão e derramar meu coração, minha vida, como meu Jesus fazia.

Aquele olhar iluminou meu coração, aquele abraço pôde fazer-me sair de mim, aquela voz alcançou meus ouvidos e fez a voz de Deus alcançar minha alma e romper a surdez que minhas faltas causaram. Naquele encontro encontrou-me o Senhor, pude vê-Lo de perto, olhar nos Seus olhos, ouvir Sua voz mandando-me amar e me mandando ofertar minha vida, meu tempo, meu coração, minha voz a todos quantos se aproximam de mim, a todos quantos querem aproximar-se de Deus.

Sou ponte, por vocação e arte, assim chamou-me o Senhor. Apontar o céu é minha missão, oferecer degraus a quem quer subir também, conselhos quando posso aos que seguem perto ou não tão perto de mim. Ofereço o que sou, oferto o que tenho, tudo está posto no altar do Senhor, sou inteiro sacrifício, feito sagrado pelo Sangue que me consagrou, pelas mãos que para si me tomaram para fazer-me instrumento de Seu Amor, da restauração que Ele quer operar por minhas mãos, por meu coração, que Ele tomou para Si. Eu apenas disse sim ao chamado que Ele me fez, escolha feliz que não deixa vazio o meu coração e conserva meus olhos sempre voltados na mesma direção e assim os meus passos desviar-se não podem mesmo se pedras me fazem cair.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Miserere

Vejo olhares, vejo lágrimas sulcando almas, rios que nascem e secam e nascem sem termo, dores pulsantes, nascentes permanentes, contaminadas e contaminantes, murmúrio que ecoa e ressoa de um lado ao outro do mundo. Ouço e vejo lágrimas, ícone fúnebre do que vejo sentido e vejo latente no coração de outro, de outros, de tantos que passam, de tantos que ficam, de tantos que não querem passar. Vejo lamentos, ouço sorrisos tristes que tentam esconder o medo, a esperança frustrada de um final diferente do presente, coração humano, vale de sangue regado de lágrimas, montes, planícies, depressões, gritos contínuos vindos de todos os lados, lamento constante de almas que choram, pobres sempre presentes em toda parte, silêncio ausente aos ouvidos que querem ouvir, dor que se faz presente aos que não se aproximam indiferentes.

Vale mais que a vida a possibilidade de fazer a pena valer mais que lágrimas que caem em solo infértil, fazer valer a pena mais que um lamento, que um murmúrio incompreendido, que um grito que parece surdo aos passantes moucos, voluntariamente loucos. Trago comigo as lagrimas, os gritos que ecoam também dentro de mim, trago comigo as paisagens que vi como se foram elas cenário também meu, mesmo pisando meus pés em lugares diversos, e trago em meus olhos as mesmas nascentes que vejo, em minha alma sulcos abertos por lágrimas que não são minhas.

Encarnou-se o Verbo e tomou para si as misérias da carne que tomou para si, trouxe em seus olhos lágrimas que antes não tinha, choro sempre às portas por causa das dores que via, dos lamentos que ouvia por toda parte, estendeu a mão e ofereceu o coração aos que o tinham quase morto e morreu para dar-lhes vida e viveu além da morte que escolheu. A ele sigo e trago comigo seu coração enquanto morre o meu das dores que sinto dos outros que também morrem. Vive o Cristo onde morre o homem, vive o Cristo em mim quando morro e vivo nele, quando O vejo nos que padecem e me encontro neles e O encontro neles chamando-me a amá-Lo mais, a amá-Lo com toda a vida do meu coração.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O amor

O amor me constrange a dar mais do que tenho, dar mais do que posso e posso dar tudo que tenho e mais do que poderia. O amor ultrapassa toda medida e se multiplica em fazer-se menor, doando-se sempre e dividindo-se em partes que sempre contém o todo, dividindo-se multiplica-se e nunca se torna pequeno, é sempre o mesmo, imutável, estável. O amor me constrange a dar sempre mais do que posso, a dar amor mais do que tenho, meu amor pequeno feito dom junto ao amor do Senhor. O amor me constrange a dar sempre mais do que vejo que tenho, a descobrir dentro de mim novas riquezas, antigos tesouros e dons que serão ofertados a tantos quantos passarem por mim. O amor torna-me dom, torna oblação também meu coração, minha vida, minha decisão, o amor transforma-me em si, sou com ele um quando me esqueço de mim e lembro-me dele só, da oferta sempre maior do que poderia fazer. Sou amor no amor que doou-se por mim, sou dom, oferenda já posta no altar.