segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Escrever

Escrever é abrir as portas da alma e ter acesso mais livre ao nosso próprio coração, é alargar as frestas que os vícios não fecharam. Escrever acostuma-nos a estar dentro de nós e a frequentar o nosso íntimo com mais honestidade. É exercício de paciência, liberdade e humildade que nos faz a pouco e pouco mais amenos no julgar o nosso próprio coração. É cultivar a esperança de ver crescerem as virtudes e ferir de morte os vícios que no segredo crescem rápido. Escrever é deixar rastros onde pisam nossos pés, onde caem nossas lágrimas, é arar as terras e plantar nelas tudo aquilo que aprendemos por nossas dores e alegrias.

Escrever é desfazer e refazer o nosso próprio coração, sangrar feridas e curá-las, aprender lições que o silêncio sozinho não ensina. Escrever é dar o direito a quem viver depois de nós de aprender com aquilo que sofremos e cantamos, preservá-los dos sofrimentos que passamos e deixá-los comer dos frutos que colhemos. Escrever é partilhar o que somos, é não reter a própria vida e não perdê-la no final.

Quero viver e poder deixar um pouco de mim quando partir, não deixar perder-se o que aprendi, o que puder servir pra que outros sigam os caminhos de virtude que trilhei. Seja a minha vida sempre útil, mesmo depois de minha morte, e não passe o bem que fiz.