tag:blogger.com,1999:blog-1248533783248355242024-02-19T13:54:33.401-03:00textificando“Sim, creio ser meu dever, enquanto habitar nesta tenda, despertar vossa memória. Por isso, eu me empenharei para que, depois da minha partida, vos recordeis destas coisas.” (2Pd 1, 13.15)Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.comBlogger225125tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-88495405505214646052020-08-22T13:47:00.002-03:002020-08-22T13:47:35.786-03:00És pó!
<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqdl9njL_Xt1y1CenRMCWqD26F5dv9fJu44_0K5m8bPGHXsdYupqInJAt4Ik__n4vLRJz3RrA3VdEGQ9-B3IFYaZEVttO56v_DdA_-XzWNkwknogSB4zV2BH4Lb6qxgqpiuEvKJHOf6kyQ/" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1197" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqdl9njL_Xt1y1CenRMCWqD26F5dv9fJu44_0K5m8bPGHXsdYupqInJAt4Ik__n4vLRJz3RrA3VdEGQ9-B3IFYaZEVttO56v_DdA_-XzWNkwknogSB4zV2BH4Lb6qxgqpiuEvKJHOf6kyQ/s320/Saint_Francis_in_Prayer-Caravaggio_%2528c.1606%2529.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><font size="1"><span face="" style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-weight: bold; text-align: left;">São Francisco</span><span face="" style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; text-align: left;"> em Meditação (1606) de </span><span face="" style="background-color: white; font-family: arial, sans-serif; font-weight: bold; text-align: left;">Caravaggio</span></font></td></tr></tbody></table><center><i><br />“No tempo da abundância, lembra-te do tempo da fome, no dia da riqueza, lembra-te da indigência e da miséria.”</i><br /></center><div align="right">(Eclo 18, 25)</div><p></p>
<p style="text-align: justify;">Não reze para que seu sofrimento fique mais fácil, reze para que ele tenha sentido! A oração não é uma barganha, é uma relação, é um encontro entre duas pessoas que se conhecem e se amam e a Graça, muito mais do que um favor dado por Deus, é uma participação em Sua vida, é Ele mesmo dado a nós gratuitamente.</p>
<p style="text-align: justify;">Não podemos nos iludir pensando que Deus providenciará uma solução mágica para essa pandemia. Não podemos tentar a Deus pensando que ele é obrigado a nos proteger se dizemos que temos fé nele. Não podemos dizer que tudo isso é castigo de Deus, que os homens são maus e que Deus nos está punindo. Não! Mas podemos fazer uma leitura sadia de tudo isso, podemos “entrar em nós mesmos” enquanto nos recolhemos mais do que em tempos “normais”. Esse vírus tem nos recordado o óbvio tantas vezes esquecido: nossa vida é frágil e curta, ninguém pode prologar a própria vida à força de preocupar-se com isso e o momento da morte é imprevisível!</p><p style="text-align: justify;">Você pode pedir a Deus que não deixe você pegar essa doença e pode ser que Ele o faça. Pode ser também que você ou eu sejamos soberbos e a doença nos ensine a humildade. Deus pode interferir e impedir a doença e pode permiti-la, pode deixar a natureza seguir seu curso e eventualmente sermos infectados, ou não. E quem saberá dizer o que se passou? Um olhar de fé, no entanto, descobrirá sempre a mão oculta de Deus que sabe sempre tirar dos males um bem que jamais poderíamos imaginar! Em todo caso, podemos nos tornar pessoas melhores, mais atentos às necessidades dos outros porque conscientes das nossas, mais solidários, mais presentes na vida. No fim, a graça de Deus nos acompanha e em tudo teremos sido conduzidos por Sua Providência, porque “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8, 28).</p>
<p style="text-align: justify;">Se soubéssemos que morreríamos amanhã, como viveríamos até lá? Não reze para que sua vida fique mais fácil, reze para que ela tenha sentido!</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-44881970858406026142020-02-24T14:41:00.000-03:002020-08-22T13:54:01.632-03:00Olhar o Alto!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg18kMOZzUbDmlXhdUf72wYHVVRnWYyIG0aYacSc2ig0xCXtCHfzIQAl0aZ4O-m-0LF5nym0g6b4G3x5v20x6uX5c13T4D4foxvUgYFzkB5BOMtFly3zWVwlAZUfWlWKcGuD92HsGChyphenhyphenCnx/s1600/clara.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg18kMOZzUbDmlXhdUf72wYHVVRnWYyIG0aYacSc2ig0xCXtCHfzIQAl0aZ4O-m-0LF5nym0g6b4G3x5v20x6uX5c13T4D4foxvUgYFzkB5BOMtFly3zWVwlAZUfWlWKcGuD92HsGChyphenhyphenCnx/s320/clara.png" width="227" height="320" data-original-width="555" data-original-height="782" /></a></div>
<p align="justify">Eu quis ser perfeito… pretensão estúpida! Pensava que para ser perfeito bastaria “não ter defeitos”, ocultar minhas fraquezas e meus pecados até que desaparecessem, lutar contra eles construindo uma imagem, um ídolo, na verdade – pude compreender isso mais tarde – feito de mim mesmo e das opiniões alheias a meu respeito. Tentei ser perfeito. Alcançou-me, porém, um olhar que me via através das máscaras, que parecia discernir entre minhas virtudes verdadeiras e falsas e me falava, muito além das sílabas, do amor que minha pretensa perfeição escondia. Não posso explicar esse encontro senão pelo Amor de Cristo, que misteriosamente se serve de instrumentos humanos para chamar os seus e chamá-los a Si sem coagi-los, mas atraindo-os por meio daqueles laços com que nos deixamos prender (cf. Os 11, 4). Aquele olhar percebeu em mim uma luz que eu mesmo não percebia – eu a procurava como se ela devesse emanar de mim mesmo – e quis deixar-se iluminar por ela, era a luz de Cristo cujo resplendor parece mais evidente onde as trevas são mais densas (cf. Rm 5, 20).<br /></p>
<p align="justify">Hoje não sei contar minha história sem me lembrar daquele encontro que ainda perdura no tempo, que ultrapassou os limites que eu considerava possíveis, que ainda penetra meu coração e me ajuda, como instrumento da graça Divina, a não fixar os olhos em mim nem em minhas incapacidades, mas tê-las nas mãos como o único dom que posso fazer ao Senhor, conservando em meu coração a prece incessante, como desejo sempre insatisfeito – meus gemidos inefáveis –, esta prece: “Recebe, Senhor, minha fraqueza e insuficiência, meus pecados e minhas infidelidades, é minha oferta e tudo que tenho de verdadeiramente meu.”<br /></p>
<p align="justify">Não posso explicar o que se passa em meu interior, não há linguagem humana capaz de exprimir o que trago dentro de mim. Sei apenas que descobri – e tenho aprendido isso lentamente – na fraqueza um “lugar” em que Deus se faz tangível, é aí que Ele se deixa encontrar. E tenho aprendido que a perfeição, aquela que Cristo pede no Evangelho, consiste em amar, em ser amor, um amor que simplesmente é. Fitando aquele mesmo olhar que me alcançou, pude ver uma alma com suas feridas e medos, as marcas de suas lutas, suas fraquezas e aquela luz em seu íntimo que me alcançara e me alcança sempre. Não sei dizer quem de nós foi alcançado primeiro, só sei dizer que, olhando o chão, a terra de nossa condição, vislumbramos o Céu e já não sabemos olhar noutra direção. Olhamos juntos para a mesma luz e aqui embaixo vemos o alto, a vida do espírito, a vida melhor!<br /></p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-75731374265095463082019-05-05T15:49:00.000-03:002019-05-05T15:49:02.940-03:00Tu me precedes<p>Pergunto a cada dia se<br />
te amo, e amo pouco e<br />
me constrange o teu amor<br />
que me escolhe mesmo<br />
enquanto posso te trair<br />
</p><p>
Teu amor me alcança<br />
e me precede, antecipas<br />
sempre a minha prece<br />
e bem antes que eu a<br />
faça, Tu já a escutaste<br />
</p><p>
Assim por ti meu amor<br />
é nascido do teu por mim<br />
que és de tudo em mim<br />
anterior e se te quero<br />
é porque tu me quiseste<br />
</p><p>
Mas é ainda tão pequeno<br />
o amor que eu te tenho,<br />
diante do Teu é pouco<br />
mesmo que seja tudo<br />
sempre tudo que ofereço<br />
</p><p>
Tu perguntas se te amo<br />
mas amo pouco, sempre<br />
menos do que pedes, mas<br />
é para ti suficiente para<br />
que me queiras para ti<br />
</p><p>
Pois meu amor por ti<br />
não move teu querer,<br />
tu sempre me precedes<br />
e és maior que tudo<br />
que eu te possa oferecer</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-46837417032243109752019-03-25T09:57:00.000-03:002019-03-25T09:57:54.098-03:00Merecer<p>Enquanto ainda se diz ‘hoje’<br />
É imperfeita minha oferta,<br />
Quero dar-te a minha vida<br />
e tua vida receber, és tu<br />
o meu pedido e minha prece,<br />
tua caridade, meu impulso,<br />
esperança, prece, sacrifício</p>
<p>De teu desejo é só um eco<br />
esse gemido inexprimível,<br />
É tua a obra e a promessa,<br />
de ter o Céu já nesta vida<br />
e a vida eterna oferecer,<br />
ser da graça despenseiro,<br />
dom que não posso merecer,</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-44320361320235298992019-01-04T22:59:00.000-02:002019-01-04T22:59:57.670-02:00Estás vindo!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhByArLC7cB8QpEuJ5u-LgJSp29b9Bc_OOqvndqMD1ZU2SAj2Ovs9hCNGkzJG73I6T8SW-F_CMw1WBySMYxCcNCBaI5qz_6A68GbsHNzJ1wkJKcem0ANt99AwgK8DweVmWHEEM09LF5zsru/s1600/Triptych_%25281305-08%2529%253B_Duccio_di_Buoninsegna.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhByArLC7cB8QpEuJ5u-LgJSp29b9Bc_OOqvndqMD1ZU2SAj2Ovs9hCNGkzJG73I6T8SW-F_CMw1WBySMYxCcNCBaI5qz_6A68GbsHNzJ1wkJKcem0ANt99AwgK8DweVmWHEEM09LF5zsru/s320/Triptych_%25281305-08%2529%253B_Duccio_di_Buoninsegna.png" width="320" height="228" data-original-width="1073" data-original-height="766" /></a></div>
<p>Contamos os anos desde que te encarnaste e pareces já tão distante no tempo, mas estás perto, estás sempre perto e estás vindo, estás vindo sempre até que cesse toda esperança e nossa vida seja inteira o fruir perpétuo de tua presença! Ah, se fosse logo nosso fim, se hoje mesmo pudéssemos em verdade dizer que vimos tua glória! Mas ainda esperamos teu santo e glorioso dia, somos ainda peregrinos no caminho que preparasse para nós, felizes por termos sido escolhidos para crermos em tua salvação e ainda mais felizes porque fizeste de nós para ti “sacerdotes e povo de reis” (Ap 5, 10), teus sinais para que outros creiam em ti. É esse nosso desejo, posto em nós por ti mesmo, que em nós se faça tua vontade, que nossa vida se torne tua epifania, que cresças tu e nós sejamos sempre menores, que a ti seja a glória e não a nós! Por isso consagramos cada ano à tua mãe, o Ano do Senhor é também ano da Virgem Mãe de Deus, pois seu sim à tua vontade foi o novo princípio, tua encarnação, nossa salvação! O “faça-se” dito por tua mãe ainda ecoava em teu “perdoa-lhes” e foi por ti consumado, pois sem ti “nada se fez de tudo que foi feito” (Jo 1, 3).</p>
<p>Contamos os anos desde que nos vieste resgatar, quando à voz de uma mulher te fizeste carne, te fizeste homem. Grande mistério! Num choro de criança ouve-se a voz que a tudo criou, tu te fizeste pequeno e vulnerável, dependente de quem depende de ti, submisso a teus próprios servos e encontraste tuas delícias em estar com os filhos dos homens! (cf. Pr 8, 31) Por amor nos criaste e por amor nos desejas, não nos queres perder! Preferes te aniquilares a perder-nos, dás tua vida em troca da nossa, tu nos amas como se fôssemos teu Deus! (S. Tomás de Aquino)</p>
<p>Mas ai! Somos ainda tão lentos em acolher os teus dons! Se te amamos, nosso amor é ainda pequeno, mas nós muito desejamos amar-te, amar-te com todo amor possível, imitando o quanto pudermos o amor que nos devotaste! Pois para ti é grande o amor pequeno que deseja ser grande! E nosso amor será sempre pequeno até que se funda ao teu amor divino, quando não mais contarmos os anos, quando enfim tudo estiver consumado de tudo que nos mandaste fazer, da vida que por ti escolhemos viver! És nossa esperança, nossa certeza, nosso céu já neste tempo em nosso coração feito para ti manjedoura, patíbulo, sepulcro e teu paraíso.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-42201559152753139572018-11-06T23:18:00.000-02:002018-11-06T23:18:00.762-02:00Feliz<p style="text-align: justify;">
<i>“Feliz de quem tomar parte no banquete do reino de Deus”</i> (Lc 14, 15b). Feliz de quem tem um coração de pobre, chora, é manso, tem fome e sede de justiça, é misericordioso, puro de coração, pacífico, é perseguido por causa da justiça e caluniado por causa de Cristo (cf. Mt 5, 3-12). Os que disso se esquecem são como aqueles que não provarão da Ceia do Senhor (cf. Lc 14, 24). Esqueceram-se que o fruto do Espírito é um só, chama-se <i>“caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança”</i> (Gl 5, 22s) e assim também é simples a atitude daqueles em quem esse fruto é gerado, a felicidade de que gozam é única e una, porquanto <i>“observar toda a lei e tropeçar em um só ponto é tornar-se culpado de tudo”</i> (Tg 2, 10).</p>
<p style="text-align: justify;">
Eis aí o Legislador que sobe ao monte e enuncia a nova lei, a condição para <i>“tomar parte no banquete do reino de Deus”</i>, Ele abre o próprio coração e mostra-se como que desnudado em sua atitude mais íntima de total de humildade, generosidade e compaixão para com os seus. É este o sentimento de Cristo Jesus, sua pobreza, suas lágrimas, sua mansidão e humildade, sua misericórdia e sua paz, seu desejo de cumprir toda a justiça (cf. Mt 3, 15).</p>
<p style="text-align: justify;">
É Ele o caminho e a porta (cf. Jo 14, 6; 10, 9), é Ele o Sacerdote (cf. Hb 3, 1), o altar (cf. Hb 10) e o Cordeiro (cf. Jo 1, 29). É Ele a Palavra que ordena e que realiza. Feliz de quem tomar parte no banquete do reino de Deus, felizes <i>“os que ouvem a Palavra de Deus e a observam”</i> (Lc 11, 28), os que escutam a Sua voz (cf. Jo 18, 27), os que tem os mesmos sentimentos de Cristo Jesus: <i>“ele, que é de condição divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus. Mas despojou-se, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens, e por seu aspecto, reconhecido como homem; ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e morte numa cruz.”</i> (Fl 2, 6-8)</p>
<p style="text-align: justify;">
Ora, é justo que tomem parte no banquete somente aqueles que por esse caminho e por essa porta puderem passar, ou não deveria o Senhor fazer o que quer com o que é Dele? (cf. Mt 20, 1-16) Se não queres crer nestas coisas, não esperes chegar a essa porta por outro caminho.</p>
Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-91759556442737610852018-08-25T17:53:00.000-03:002018-08-26T22:25:37.256-03:00Damas Pobres<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3msidBS6QSpcJuN5vcwmsqXk7MuNJQ37K97BpBqA2qksz6ALNd1HBLUnddNMZn69cVHfGl56uUZttDjGQIzHMItfUWWph7cdLFoLqckiCqjUbtfbRnqCYqjuK51lHpVdFS5GO81_ZLt44/s1600/Clarissas_bsb.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="774" data-original-width="1032" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3msidBS6QSpcJuN5vcwmsqXk7MuNJQ37K97BpBqA2qksz6ALNd1HBLUnddNMZn69cVHfGl56uUZttDjGQIzHMItfUWWph7cdLFoLqckiCqjUbtfbRnqCYqjuK51lHpVdFS5GO81_ZLt44/s320/Clarissas_bsb.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mosteiro de Santa Clara do Deus Trino - Brasília/DF</td></tr>
</tbody></table>
<p>Elas são pobres, talvez cumprindo o que dissera seu mestre, “pobres sempre os tereis” (Mt 26, 11); sinal profético e tremendo, imitam o mestre que em seu íntimo ouviram, seguraram-no e não o deixam partir (cf. Can 3, 4). Ei-las todas, o corpo sobriamente coberto, só aparecem seus rostos, resplendentes qual luz, marcados qual na promessa final com o selo do Eterno, assim geram o fruto perene do Espírito, “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5, 22s). Brilham no mundo qual cidade no monte e qual luz sobre a mesa para que todos as vejam! Vivem, porém, escondidas onde todos as podem achar, são de Cristo cativas e delas Cristo é prisioneiro, são suas esposas fiéis, imagens da Igreja, imagens da Virgem das virgens, prudentes, trabalham e rezam, perpétuo pulsar de vida e de graça aos de longe e aos de perto e ao mundo inteiro! Vemo-las silenciosas, risonhas e sérias e em tantos humores são sempre felizes: das dores que segredam no íntimo fazem sementes de flores e em seus rostos reluz a beleza de Cristo!</p>
<p>Ah, doce liberdade! Para elas o mundo é pequeno, as grades que as cercam o fazem menor e de lá elas vêem o resto do mundo atrás dessas grades: tantas prisões, cadeias, correntes, tantos medos e preocupações. Elas, porém, são livres e cuidam só do Senhor, dos seus interesses, dos desejos do Esposo que um dia escolheram - dia feliz! -, que um dia as escolheu para viverem só para Ele!</p>
<p>Não olham a vida de fora, mas a vida do Espírito, a vida melhor! Seu mundo é imenso, é já a eternidade no tempo, sua casa é um recorte do Céu e estão em todas as partes, onde está a Igreja: sem deixarem o claustro, alcançam todos os recantos do mundo, escuros ou claros, buscando a todos os que não conhecem a Cristo ou dele fugiram.</p>
<p>Nada falta ao que Cristo lhes pede, deram-lhe tudo, desposaram o Senhor do universo e a ele se uniram como Ele unira-se a nós, na pobreza, no silêncio, escondidas onde todos o podem achar.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-48050409328568963472018-05-18T20:38:00.000-03:002018-05-18T20:38:20.000-03:00Tua prece<p>Põe em mim tua prece,<br />
desejo de ser um contigo<br />
e trazer em mim tua força,<br />
tua vida, teu vigor e luz,<br />
eu ferido de outra morte<br />
serei teu e tu serás meu<br />
Deus, caminho e vida,<br />
verdade e luz, capacidade<br />
de ser o que tu queres</p>
<p>Tu podes tudo, eu não,<br />
tu és Deus, eu homem,<br />
tu és Homem, eu barro,<br />
homem frágil, ferido,<br />
e tu te abaixas quando<br />
eu quero me exaltar<br />
e me alcanças, levantas<br />
do chão a mim traidor<br />
e matas minha inimizade</p>
<p>Que Tu sejas em mim<br />
é minha prece e a tua<br />
que em mim ecoa ainda<br />
hoje, é meu desejo<br />
ali onde sou frágil,<br />
onde me faltam forças,<br />
onde sou cego e mudo<br />
e coxo e surdo, em tudo<br />
que sou ou quero ser</p>
<p>Sê forte em mim, tu,<br />
que te fizeste homem<br />
e te fizeste fraco, tu,<br />
força de toda força,<br />
vigor de todo vigor,<br />
Sede forte em mim<br />
que nada posso só,<br />
que apenas erro se<br />
me falta tua ajuda</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-48341919602130437572018-05-13T19:11:00.000-03:002018-05-13T19:11:36.470-03:00deus menor<p>Alguém disse que Deus está morto, mas talvez sua profecia não se tenha cumprido e aquele deus, reflexo dos ideais que o homem nutre a respeito de si mesmo, ainda esteja bem vivo em nosso inconsciente, em nossas ambições e em nossas pretensões megalomaníacas.</p>
<p>Disse ainda alguém que sonhávamos um deus onipotente que superasse nossas impossibilidades, esperança entorpecente que nos fazia esquecer nossas frustrações e nossa covardia. Um deus onipresente, diluído na realidade, permeando tudo para nos assegurar uma conduta moral a que nossa liberdade não pudesse macular. Forjamos um deus onisciente, para que, imaginando-nos observados, fosse-nos mais fácil seguir as regras que inventamos e atribuímos ao gênio divino. Estaria, porém, realmente morto esse deus imaginário, esse produto de nossa loucura? Creio que não, mas sobrevive multiplicado, presente nos ideais quase inconscientes de nosso tempo.</p>
<p>Ainda sonhamos, com mais força que outrora, com aquela onisciência, já não projetada numa entidade que veneramos, mas na pretensão de nos fazer oniscientes, capazes de um conhecimento instantâneo de tudo, sobretudo da vida alheia, de estranhos e familiares, próximos ou distantes, anônimos e celebridades. Queremo-nos, assim, onipresentes, não suportamos a monotonia do presente e do tangível, queremos alcançar tudo sabendo de tudo, estar virtualmente presentes em qualquer lugar, em todos os lugares, ser vistos por todos, apreciados por todos por nossa imagem ou nossas ideias, por mais tolas que sejam. Arvoramo-nos em nossa soberba pretendendo-nos onipotentes, possuidores de aboluta liberdade, senhores de nós mesmos e de tudo, como deuses. Ainda hoje repete-se a angústia inventada pela serpente, a angústia que nutrimos em nosso coração por não sermos deuses, por querermos sê-lo e não podermos, a angústia da invenção, da farsa, do ídolo pesado e oco, mudo, inerte, inútil.</p>
<p>Eis o ópio de nosso tempo, o super-homem que pretendemos ser, o ideal a que tende a vontade de poder que nutrimos com nossas fantasias à custa de nossa sanidade, em detrimento de nossas relações e, ouso dizê-lo, de nosso próprio ser. Destruímo-nos tentando fazer deuses de nós mesmos, deuses concorrentes que se pretendem únicos ou ao menos soberanos sobre todos os outros. Quisera esse deus estivesse morto, assim seria conhecido o verdadeiro, aquele que é, que era e será, o único, o Deus de Abraão, Issac e Jacó, o Deus de Jesus Cristo, Senhor do tempo e da história, que <i>“pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal”</i> (Ef 1, 22).</p>
<p><center>——</center></p>
<p><i>“Àquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as gerações de eternidade. Amém.”</i> (Ef 3, 20s)</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-58892695872949939642018-04-25T12:06:00.001-03:002018-04-25T12:06:58.759-03:00Ação de Graças<p>Hoje dou graças a Deus pela primeira vez que vi a luz, pelas lágrimas que por primeiro molharam meu rosto, pelo ar que naquele dia me “feria”, naquela festa de São Marcos Evangelista do ano do Senhor de 1986. Dou graças por aquele dia e por toda a história que se seguiu, história que me fez quem sou.</p>
<p>Quero que minha ação de graças, porém, não seja simples gratidão, mas dom, sacrifício, silêncio, eucaristia. A cada ano, no momento da celebração do Santo Sacrifício neste dia de São Marcos, sinto Deus me pedindo o mesmo que pediu àquele santo, a mesma humildade, a mesma simplicidade de coração, a mesma consciência das próprias fraquezas e o consequente abandono à Divina Providência que ele soube cultivar e acolher como dom de Deus.</p>
<p><center>“Deixa-te Paulo, e a Paulo segues,<br />
vais imitando a sua lida;<br />
perfeita é cópia que consegues,<br />
dando por Cristo a própria vida”</center></p>
<p>Não pude conter as lágrimas quando rezava esses versos com a Igreja hoje, louvando a longanimidade de Marcos em sua decisão de dar a vida por Cristo. É o que celebro hoje, minha ação de graças pela vocação que recebi do Senhor, pela resposta que até hoje tenho sido capaz de dar-lhe e pelo desejo, embora frágil, de corresponder à altura de tão grande dádiva. Celebro meu natal com desejos de páscoa, renovando meu compromisso de seguir meu Mestre aonde Ele for, aonde Ele me enviar, e meu desejo, que é também uma prece de pedido de socorro, de ser capaz de oferecer-lhe tudo, tempo, suor, lágrimas, sangue e o que mais for preciso para amá-lo por toda eternidade.</p>
<p>São Marcos, rogai por nós!</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-36209410702218336062018-04-12T15:51:00.000-03:002018-04-12T15:51:12.436-03:00O Amor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTXkbOgaZGTlgEqUlpjEQd-gehiTVv_GjI9T1j5RjBhXFuPz875rB5W9fXG66Xpf8t7MHFvmvgECRQCEo1cUElhYDMsV29DBcFLKlqagOm1y5KXWdNU3mCCVttidKKozPR0sTfyqAgIQ6W/s1600/people-1550501_1920.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTXkbOgaZGTlgEqUlpjEQd-gehiTVv_GjI9T1j5RjBhXFuPz875rB5W9fXG66Xpf8t7MHFvmvgECRQCEo1cUElhYDMsV29DBcFLKlqagOm1y5KXWdNU3mCCVttidKKozPR0sTfyqAgIQ6W/s320/people-1550501_1920.jpg" width="320" height="213" data-original-width="1600" data-original-height="1067" /></a></div>
<p>O amor se esconde, nos becos, nas sombras, nos lugares frios e úmidos e escuros e esquecidos, no abandono e no esquecimento. O amor se esconde, naquela terra estéril esconde-se o amor, naquelas sombras que ocultam vidas que se refugiam, que fogem dos mortos, salvando suas vidas onde não há nada aos olhos dos outros, daqueles que vivem em trevas mais densas.</p>
<p>Quem encontrará o amor? Quem descobrirá sua luz senão aquele que o quiser plantar, que o quiser lançar nas sombras, nos lugares frios e úmidos e escuros e esquecidos, no abandono e no esquecimento?
<p>O amor floresce tão logo é plantado, é grande porque é pequeno, semente lançada na terra e regada a suor, regada de sangue, é flor e fruto de um dom integral, de uma vida que escolhe esquecer-se por outra, por aquela abandonada, esquecida ali onde o amor se esconde, na sombra e no frio, no abandono e no esquecimento.</p>
<p>Encontra-o quem já o possui, quem se faz amor, quem vai ao encontro do outro e se faz próximo e se esquece de si, o amor não busca seu próprio interesse, não guarda rancor, não vive nas trevas nem a sombra o pode conter, o amor não mata nem pode morrer, é mais forte que a morte e faz reviver.</p>
<p>O amor se esconde esperando encontros para aparecer. Ele já nos atrai, deixemo-nos mover!</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-58861890688152009892018-03-17T17:47:00.000-03:002018-03-17T17:47:21.685-03:00Coroa de Cristo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji8pM-Nta1hbT4Zu9gwfO06W4gVOoKKDohpUhob7DGhyphenhyphenxA9Qb1OoP_4HXaFsb6toNeVgOJHdrxGhRrjP3eB7P2rX_bcV2eD-IqD83Xp7tYgXUPzAfTwh7DaWuZ4vP2bf2JgTPIOBjM-xVu/s1600/cross-2914547_1920.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji8pM-Nta1hbT4Zu9gwfO06W4gVOoKKDohpUhob7DGhyphenhyphenxA9Qb1OoP_4HXaFsb6toNeVgOJHdrxGhRrjP3eB7P2rX_bcV2eD-IqD83Xp7tYgXUPzAfTwh7DaWuZ4vP2bf2JgTPIOBjM-xVu/s320/cross-2914547_1920.jpg" width="240" height="320" data-original-width="1200" data-original-height="1600" /></a></div>
<p><b>Coroa de Cristo, coroai-me</b>, purificai meus pensamentos e sentimentos de qualquer vestígio de orgulho, vaidade e presunção que me possam arrastar para longe de Cristo. Ensinai-me a humildade de meu Redentor e Salvador, para jamais pretender conseguir por minhas próprias forças o que somente a graça de Deus me pode dar: a justificação e a Salvação Eterna.</p>
<p><b>Manto ensanguentado de Cristo, cobri-me</b>, cobri a vergonha de meu pecado e de minha rebeldia e ensinai-me a mansidão do Verbo Encarnado, o silêncio e a livre submissão à vontade do Pai, a fim de que jamais me rebele quando se dilatar o tempo das penas em vista do prêmio da Glória futura.</p>
<p><b>Sudário de Cristo, envolvei-me</b>, fazei-me viver já morto para a vida presente, olhos fixos na Promessa de Vida Eterna feita por meu Senhor, sepultado para o pecado, vivo para o Reino de Deus.</p>
<p><b>Santa Cruz de Cristo, sustentai-me</b>, servi de bastão para acelerar a marcha para o cume, ao mais alto cume, ao Calvário de minha existência tão breve, para que Ele, Meu Jesus, cresça e eu diminua, que Ele apareça em minha pequenez.</p>
<p><b>Paixão de Cristo, atraí-me, amor de Cristo, consumi-me</b>, sede meu motivo, razão de cada palavra e de cada silêncio, de cada gesto, de cada sacrifício, de cada escolha e de cada renúncia e da opção fundamental de minha vida.</p>
<p><b>Olhar amoroso de Cristo, consolai-me</b> em meus medos e frustrações, em minhas esperas sede meu conforto e minha força!</p>
<p>Jesus Cristo, ternura do Pai, chamai-me e perdoai minhas culpas, a fim de que, livre de todo fardo, vos siga fielmente até o fim de meus dias e possa merecer estar contigo no Céu por toda a eternidade. Assim seja.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-66856518070274431292017-10-18T13:56:00.000-02:002017-10-18T13:56:19.831-02:00Perdoai<p style="text-align: center;">
<i>“Quantas vezes hei de perdoar?”</i> <br />(Mt 18, 21)</p>
<p style="text-align: justify;">
A pergunta esconde uma indisposição, já quer prever uma justificativa para perder a esperança e condenar, para sentir-se melhor do que alguém que supostamente errou e fez o mal. Mas quem conhece o coração do homem? Se permanecem ocultas para nós as razões alheias, porque temos pressa em emitir juízos e criar partidos e tribos? Não digo que todas as ações sejam justificáveis, digo apenas que não temos tudo ao alcance de nosso juízo, não temos acesso a todas as variáveis que levam alguém a tomar atitudes que julgamos erradas, ainda que tais atitudes sejam objetivamente más. Eis o princípio da misericórdia: o esvaziamento de si, o rebaixamento, a humildade, a humilhação voluntária, o “amar o próximo como a si mesmo” levado ao cúmulo pelo “amai-vos como eu vos amei” ordenado por Cristo. “Tende em vós os mesmos sentimentos que eram os de Cristo Jesus!” (Fl 2, 5)</p>
<p style="text-align: justify;">
Pergunto: de quem Cristo se aproximava, com quem ele tomava refeição? Ora, os que se chamam <i>Cristãos</i> não devem ser imitadores de Cristo, semelhantes ao seu mestre? Se o mandamento do perdão é verdadeiramente <i>universal</i>, por que a prática é tantas vezes limitada pelos nossos critérios de merecimento? O problema é que aquele “sereis como deuses” que precedeu o primeiro pecado do homem ainda ecoa em nossos corações e ainda tendemos a decidir o bem e o mal, pretendemos ser como deuses e nos colocamos no lugar de Deus, portadores de seus oráculos! A nós, cada vez que nos fazemos deuses, Deus mesmo diz: <i>“É mentira o que esses ‘profetas’ anunciam em meu nome: não os enviei nem lhes dei ordem ou lhes falei. Visões espúrias, apinhações vãs, e fraudes que eles mesmos inventaram, eles vos propõem como oráculos; Eu não envio esses profetas, e, no entanto, eles se apressam; Eu não lhes falo e, no entanto, eles profetizam. Se estivessem no meu conselho, fariam ouvir ao povo <b>minhas palavras</b>; fariam com que voltassem de sua conduta malvada, de suas ações perversas.”</i> (Jr 14, 14; 23, 21s)</p>
<p style="text-align: justify;">
A lei de Cristo é simples, o mandamento é um só: amai! A ordem não impõe critérios de merecimento, não faz restrições nem acepção de pessoas, mas refere-se a todos! <i>“Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, a fim de serdes verdadeiramente filhos do vosso Pai que está nos céus, pois ele faz nascer o seu sol sobre os maus e os bons, e cair a chuva sobre os justos e os injustos.”</i> (Mt 5, 44b-45). Lembremo-nos sempre de que quando a Salvação de Deus nos foi oferecida éramos maus como julgamos que são aqueles a quem nos apressamos em condenar. <i>“Sim, quando ainda estávamos sem força, Cristo, no tempo determinado, morreu em prol dos ímpios.”</i> (Rm 5, 6)</p>
<p style="text-align: center;">
<i><b>“Muitos se dizem bons,<br />mas um homem fiel,<br />quem o achará?”</b></i><br />(Pr 20, 6)</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-34415398798977386662017-10-10T13:19:00.003-03:002017-10-10T17:52:16.799-03:00A morte<p>Há pouco senti a morte, seu escuro silêncio parecia passear entre os homens, entre as árvores, como se parasse o vento, um peso que oprimia por escapar aos cálculos humanos. Senti como se visse seu rosto, seus olhos negros fixados nos meus, em meu coração, desejosa de ver-me içar minhas âncoras como aquele que eu vira partir. Seu manto negro a roçar os corpos dos vivos fazia-me estremecer, seu terror me atravessava e meus pensamentos, numa espiral de memórias e projetos, de sonhos e frustrações, perdia-se naquela contemplação fúnebre, entorpecida pela melancolia, porém transfigurada por uma estranha luz que irradiava do centro daquele turbilhão que me fazia vislumbrar uma pequena parte do futuro que nos espera a todos.</p>
<p>O manto negro da morte esconde uma esperança, sua aparência aterroriza, mas rompe fios, cordas e correntes que nos mantêm cativos de nós mesmos. Àquela visão, perguntava-me o que restaria de mim, o que eu levaria daqui. Restará uma lembrança que não durará muito e não levarei nada, só a mim mesmo, todo o resto ficará esquecido para sempre. A morte não tem memória, não tem passado, não tem história, só os vivos as têm e são elas que os fazem quem são. Como, então, escolher uma morte que não nos tire a vida, uma morte que ao nos encontrar nos cubra com o manto negro do esquecimento e revele a esperança outrora oculta aos nossos olhos? Como escolher a morte e alcançar pelo desejo o que alcançaremos por necessidade?</p>
<p>Aquele vislumbre das sombras abriu-me os olhos para ver a luz que essas mesmas sombras ocultavam, uma luz que não se irradiava sobre mim, mas dentro de mim, uma luz que me atraía e me impulsionava a desejar aquela morte, antecipá-la cobrindo com ela meu presente e minha história, esforçando-me por romper já os fios, cordas e correntes que me mantêm cativo de mim mesmo para que, quando eu vir a morte aproximar-se de mim, já não haja âncoras para içar e eu tenha deixado meu porto e meu destino esteja perto já antes de partir.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-34730892761862884362017-09-28T18:04:00.001-03:002017-09-28T18:04:09.479-03:00Cem vezes mais<p><i>“Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo.”</i> (Lc 14, 25)</p>
<p>O que significa esse ódio, aparecentemente tão contrário ao bom senso e à caridade? Eis um mistério da fé, exigência estranha, necessidade interior tão profunda que, em vista de uma única preferência, Cristo, tudo se torna relativo ao ponto de ser objeto de ódio se se torna impedimento ao seguimento do mesmo Cristo. Eis as negativas que acompanham o “ódio” à própria vida. Eis o martírio, o testemunho, o Evangelho como deve ser por nós encarnado, sangrado, cravado em nossas mãos e pés para que nossa única liberdade seja o Amor. Negar a si mesmo implica em muitas outras negativas. É preciso deixar pai, mãe, irmãos, terra, casa, amigos, lugares, bens, desejos, sonhos e assim o que parecia ser caminho revela-se apenas parte dele, degrau necessário, mas passado.</p>
<p>Parece paradoxal, mas <i>“não há quem tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa e por causa do Evangelho, que não receba cem vezes mais desde agora, neste tempo, casas, irmãos e irmãs, mãe e filhos e terras, com perseguições; e, no mundo futuro, a vida eterna”</i> (Mc 10, 30).</p>
<p>Eis o Amor, a Verdade, a Liberdade. Quem perguntou o que é a verdade ficou sem resposta. Quem, porém, rendeu-se a ela, encontrou-a no abandono, no deserto, naquele vazio onde tudo se faz, onde se faz a luz e ressoa o Verbo: faça-se, e tudo foi feito!</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-79076072749560105132017-05-21T19:34:00.001-03:002017-05-21T19:34:57.308-03:00Crescer e Santificar-se<p>Santificar-se é como crescer. Nascemos quando fomos batizados e nos nutrimos se nos aplicamos aos meios dados por Cristo para isso: oração, penitência, sacramentos, comunidade, partilha, missão... mas crescemos e não nos damos conta disso, não percebemos os detalhes do processo, vemos apenas, quando nisto concentramos nossa atenção, o caminho trilhado e os contrastes entre nosso estado presente e algum ponto de referência que escolhemos em nossa história. Devemos cuidar, porém, porque na vida espiritual pode-se crescer ou encolher, mas o caminho é igualmente dilatado no tempo.</p>
<p>Há, com efeito, alimentos que nutrem mais que outros, que nos fortalecem mais que outros. Na vida espiritual o melhor alimento é a caridade, primeiro a caridade de Cristo na Penitência e na Eucaristia, depois a nossa caridade, que é, na verdade, efeito da caridade de Cristo em nós. Se vivemos pelo amor, conhecemos o coração de Deus, somos elevados às alturas de sua graça e alcançamos as baixezas que ele alcança, somos levados a nos entregar àqueles a quem ele, antes de nós, se entregou, àqueles entre os quais nos encontrávamos nós quando fomos alcançados por ele.</p>
<p>Deixemo-nos envolver por esse amor que é tanto maior quanto menor se faz e que é tanto mais penetrante quanto mais se faz pequeno! Sejamos sinal e instrumento da divina caridade, que penetra até o mais íntimo de nós, que discerne nossos pensamentos e desejos, nossos egoísmos e nossa mesquinhez, que nos liberta de nós mesmos e faz resplandecer o que a ele nos assemelha! A santidade está em ser para o outro. A consciência de que nossa vida é espelho de santidade para alguém nos faz vigiar com mais atenção sobre nosso estado: nossa vida já não nos pertence e o cuidado de nossa santificação é revestido de caridade e torna-se dom desde seu fundamento! Coloquemos isso em prática e seremos felizes!</p>
<p><i>“O servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes.”</i> (Jo 13, 17)</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-44936238810905479342017-04-02T20:10:00.000-03:002017-04-02T20:10:12.359-03:00Vou para ti<p>Desceste, rasgaste céu e<br />
terra e a própria morte<br />
que me esconde, não me<br />
deixas perecer longe de ti</p>
<p>Chamas-me à vida, vens<br />
buscar-me e reerguer-me,<br />
e me fazes novamente andar<br />
e ver, provas teu poder</p>
<p>Chamando à morte sono<br />
e na minha morte choras<br />
a tua e em tuas lágrimas<br />
lavas todo o meu pecado</p>
<p>Vens a mim tão frágil<br />
e eu tão débil em ti<br />
venho apoiar-te e tu<br />
te ergues e eu contigo</p>
<p>Sigo tua luz, teus passos<br />
e guia-me teu chamado,<br />
tua voz que ecoa sempre<br />
nos túmulos de outrora</p>
<p>Persigo teu destino, subo<br />
ao calvário, só vejo tua luz,<br />
vou para fora, saio de mim<br />
para os teus, vou para ti</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-73104939059128239452016-11-14T21:50:00.001-02:002016-11-14T21:50:21.264-02:00Glorifica o Teu nome<p>Fazer-se inteiramente dom, imitando nosso divino modelo em seu rebaixamento até a assunção de nossa miséria, somente é possível com a ajuda da graça. <i>“Não é por causa de uma capacidade pessoal, que poderíamos atribuir a nós mesmos, é de Deus que vem a nossa capacidade”</i> (2Cor 3, 5). Para mim, conhecendo minhas limitações e defeitos, pensar que pudesse encontrar em mim tal capacidade parecia absurdo, mas Deus não ma pediu nem pedirá, pede apenas que eu me submeta a Ele livremente. Contudo, teria valor uma obediência sem liberdade? Por isso obedeço, crendo que, quando o faço, escolho melhor do que se seguisse meus próprios critérios e preferências.</p>
<p>Hoje tenho minha vida totalmente nas mãos de Deus, de sua guia depende totalmente meu destino e meu próximo passo. Sei que Ele me pedirá muitos sacrifícios, renúncias ao habitual e costumeiro, para subir à barca e enfrentar águas agitadas até a outra margem. Mas que farei? Tomo para mim a oração de quem sigo os passos: <i>“Agora a minha alma está perturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas é precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome.”</i> (Jo 12, 27)</p>
<p><i>"Meu coração está pronto, meu Deus, está pronto o meu coração."</i> (Sl 107, 1)</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-78286946643126781042016-06-12T13:14:00.001-03:002016-06-12T13:14:43.554-03:00Amar-te<p><i>“Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, soube que Jesus estava à mesa, na casa do fariseu. Ela trouxe um frasco de alabastro com perfume, e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com o perfume.”</i> (Lc 7, 37-38)</p>
<p>Ao grande amor daquela mulher precedeu o perdão de Cristo e ao perdão de Cristo precedeu o grande amor daquela mulher. Amor e perdão se correspondem, implicam-se mutuamente. Ela não pediu perdão, mas arrependeu-se e amou muito, amou ao ponto de ultrapassar os limites da lei, tocar o Santo com suas mãos culpadas, banhar-lhe os pés com as lágrimas de sua culpa, ungindo-os com o perfume de seu passado. Quem poderá compreender o amor? Quem ousará dar-lhe medidas?
<p>Dizia alguém que será triste chegar ao fim e ver terminada a vida sem naufrágios, ter vivido sempre à superfície. Ah, que espantosa verdade! O movimento do amor e do perdão, das sucessivas quedas redimidas, das lágrimas de arrependimento que se tornam dom e reconciliação, dos passos errantes que reencontram a direção quando encontram repouso: eis, aos pés de Deus, a Salvação feita história, maravilhosa transfiguração!</p>
<p>Ama, descobre Deus nestes fragmentos de teu frágil vaso despedaçado e o perfume, o encontro de dois amantes, tu e teu Deus, espargido no mundo: eis tua história, prostrada, rendida, imitando o madeiro que elevou da terra o Salvador!</p>
<center>
<p>Amar-te é meu desejo sempre<br />
imperfeito, insatisfeito,<br />
simples e grande, martírio<br />
que assusta e me destrói e<br />
me deixa em pedaços, tantos<br />
pedaços aos pés de teu amor</p>
<p>Deixas-me aqui, vertidas<br />
as lágrimas de minha prece,<br />
derramado o perfume de meu<br />
passado, o amor incompleto,<br />
meu coração despedaçado<br />
e meus pedaços todos aqui</p>
<p>No ar o perfume desta vida,<br />
o perdão, o amor que nasceu<br />
quando ouvi teu nome e vi<br />
teu rosto ao longe, ouvi a voz<br />
de teu amor no coração agora<br />
despedaçado, minha gratidão</p></center>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-82887773974217674422016-06-10T21:00:00.000-03:002016-06-10T21:00:06.784-03:00O coração da Lei<p>Os Dez Mandamentos. À simples menção da regra alguns já se contorcem imaginando aquela série de proibições categóricas da lei de Deus. Pergunto: será que, de fato, são proibições? O Evangelho proposto pela Igreja para o dia de hoje (cf. Mt 5, 27-32) nos oferece alguma luz para compreendermos isso.</p>
<p>Jesus fala do adultério e transcende a transgressão “prática” da lei para chegar ao coração da mesma lei: o ato mal já começa no desejo de praticá-lo. Por que Jesus quer fazer-nos olhar além do ato? Porque Ele não está preocupado com o simples cumprimento da lei, isso seria muito pouco, mas está preocupado com a pessoa, comigo, com você, com cada um de nós. Porque você é importante Ele pede que não cometa adultério e todas as outras coisas já bem conhecidas.</p>
<p>Aqueles “nãos” talvez pareçam opressores, mas definem com clareza os limites de nossa liberdade que, naturalmente, será limitada em qualquer circunstância. A questão aqui é a nossa dignidade. Quando Deus diz ‘não cometerás adultério’ Ele está dizendo mais do que isso, muito mais do que isso. Poderíamos entender, em palavras simples, assim: <i>ama, dá de ti ao outro sem querer algo em troca, oferece teu coração, livre, ao teu próximo</i>. Não é preciso raciocinar muito para compreender a beleza do “coração da lei”, o amor, que deixa nossa vida muito mais simples, mais leve, mais livre. Consegue imaginar todo cristão amando assim? Parece mera utopia, mas seria possível se cada um se comprometesse com isso.</p>
<p>De fato, a lógica da caridade é bastante simples, ainda que por vezes seja árdua. Se o <i>eu</i> devesse ser o centro de tudo, seria impossível haver ordem e paz entre os homens e a ordem e a paz propostas pela caridade resumem-se nisto: <i>“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”</i> (Jo 13, 34). É essa a liberdade do Evangelho, que exige de nós responsabilidade e compromisso e faz um duro desafio à nossa vontade: à Palavra ouvida na Igreja deve corresponder uma vida que a torne concreta, viva e visível. Termino com uma constatação: se não fosse verdadeira e se sua proposta fosse impossível, há muito essa Palavra seria apenas mais uma peça de museu.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-19345507713016084392016-04-23T15:40:00.000-03:002016-04-23T15:40:50.437-03:00Segue-me<p><i>“Para onde eu vou, vós não podeis vir.”</i> (Jo 13, 33c)</p>
<p>A essa afirmação de Jesus Pedro corresponde com uma ousadia imatura e irrefletida: <i>darei a minha vida por ti</i> (v. 37b). Essa ousadia é imediatamente corrigida por Jesus no anúncio da tríplice negação que se seguiria àquela ceia. Todos conhecemos o desenrolar da história: Jesus é preso e os discípulos se dispersam, Pedro nega Jesus três vezes, Jesus é julgado, flagelado e condenado à morte, morre depois de terríveis torturas, é sepultado e, ao terceiro dia de sua morte, ressuscita dos mortos. O que vem a seguir é impressionante. Sucedem-se diversas aparições do ressuscitado a alguns daqueles que o seguiam e, numa dessas aparições, conversando com Pedro, Jesus diz: <i>Segue-me</i> (cf. 21, 19).</p>
<p>Pedro talvez se tivesse esquecido, àquela altura, de sua impulsiva resposta que lhe valera uma repreensão em tom de advertência por parte de Jesus, mas esse mesmo Jesus, trazendo à memória de Pedro a tríplice negação e instando-o a uma fidelidade maior, conclui sua lição com o mesmo convite com que começara a formar aquele seu amigo: <i>Segue-me</i>. Mas esse ‘segue-me’ é aqui ressignificado, carregando agora todo o Mistério Pascal em sua matriz. Aqui, é como se Jesus dissesse: agora podes seguir-me, já me amas verdadeiramente. Outrora te amavas mais que a mim, por isso te disse que me seguirias mais tarde (cf. Jo 13, 36), mas agora amas a mim mais que a ti mesmo e mais que aos outros, por isso agora podes seguir-me, podes despojar-te de tua vida por mim despojando-te de tua vida por aqueles que contigo me amam e para que me amem os que ainda não me conhecem. Apascenta minhas ovelhas, vive minha vida, dá a tua vida por mim.</p>
<p><i>“‘Em verdade, em verdade, eu te digo, quando eras jovem, amarravas o teu cinto e ias para onde querias; quando ficares velho, estenderás as mãos e um outro atará o teu cinto e te conduzirá para onde quiseres’. Jesus falou assim para indicar com que morte Pedro devia glorificar a Deus; e, tendo assim falado, acrescentou: ‘Segue-me’.”</i> (Jo 21, 18s)</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-34168422279099129272016-03-25T11:20:00.000-03:002016-03-26T19:06:15.070-03:00Desceste<p><i>“Ah, se rompesses o céu e descesses!”</i> (Is 63, 19b) Tu desceste e <i>“nós vimos a tua glória”</i> (cf. Jo 1, 14), glória velada sob a pobreza herdada de nós, herança que imita a glória primeva de que apareces agora despido: nosso ser à imagem de tua beleza criado privado dos bens que desprezamos outrora. Vemo-nos em ti refletidos agora e não se cala nossa consciência ferida. Tu desceste. E onde te procuramos? Ainda olhamos o céu desejando que desças, ainda buscamos-te glorioso e vestido de esplendor, desejamos saciar nossa esperança com uma visão, com algum sentimento capaz de fazer-nos crer mais facilmente e dissipar-nos as dúvidas, vencendo de súbito nossa morbidez que tanto nos custa admitir. Ainda olhamos o céu depois que desceste.</p>
<p>Em verdade desceste depois de elevado, tu sempre desces e te furtas às nossas buscas, tu te escondes para que te busquemos e te encontremos. Sobes para descer, elevas-te para mais te baixares! É-nos mais fácil imaginar um Deus glorioso e buscar-te assim, desejar manifestações de tua majestade, pedir que desças e rasgues o céu, que apareças glorioso e suscites em nós uma fé não mais vacilante, que nos convenças pelo que vemos e por sinais que imaginamos convir à tua grandeza. Mas não te rendes a nós! Embora rendido à nossa maldade te tenhas deixado levar ao patíbulo infame, rendido à nossa incredulidade te deixaste ferir e humilhar. Desceste e rasgaste o céu, rasgaste os véus, destruíste nossas pretensões de alcançar-te, expectativas humanas e rasas, desejos curtos e frágeis produtos de nossa invenção. Ah, rompeste o céu e desceste! Vemos diante de nós tua divina humanidade, tua humana divindade, nossa carne escondendo a grandeza de Deus e tua glória totalmente velada. Não se derreteram os montes, tampouco se ouviram sons de trombeta anunciando tua chegada. Vieste em silêncio e habitaste entre nós, escondido te mostraste o melhor dentre nós.</p>
<p>Se te víssemos glorioso parecería-nos mais fácil crer, mas te perderíamos. Era fácil desejar ver-te glorioso, mas não te rendes a nós. Nós nos perderíamos no que podíamos conceber. Se te mostrasses glorioso em teu corpo mortal ficaríamos cegos, perderíamo-nos na razoabilidade de um deus glorioso ou estarrecidos diante de um esplendor que nos esmaga. Por isso te escondes, para dilatares o alcance de nosso desejo, para que vejamos além do que vemos e busquemos teu coração.</p>
<p>Por que ainda te buscamos no alto? Eis que desceste e habitaste entre nós. Tu, imagem visível do Deus invisível, baixado à altura de nossos olhares e de nossa natureza ferida, deixas-te conhecer, deixas-te alcançar. Por que ainda buscar-te no alto se te temos tão próximo, se com um simples desejo te podemos tocar? Ah, rasgaste o céu e desceste, deixaste rasgar teu coração e nos resgataste, tu te deixaste elevar vestido de miséria em vez de glória e atraíste-nos a ti, Senhor do Céu e da Terra!</p>
<p>Eis-nos aqui, Senhor, prostrados diante de teu trono, beijando este madeiro lavado em teu sangue, pisando esta terra por teu sangue regada e em que foi semeado o grão de trigo que devia morrer. Eis-nos agora vivos, arrancados da morte por tua morte, porque desceste, porque te humilhaste e apareceste fraco, porque em ti nos apoiamos, ó divindade enfraquecida, e tu, glorioso, enfim te levantaste do sono da morte e nos reergueste contigo!</p>
<p><em>Ave crux, spes unica!</em></p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-57574016610451819692016-03-07T20:37:00.000-03:002016-06-15T08:41:51.670-03:00Sangue e lágrimas<p dir="ltr">Passaram-se alguns meses desde que deixei este lugar, reinou o silêncio daquele último êxtase que deixei aqui, umas pobres palavras sobre meu Jesus. Hoje volto com vontade de ainda fazer silêncio e sem saber o que dizer que não seja esta minha confissão. Talvez eu faça pouco de minhas capacidades e minha intenção, aqui, seja mesclada de levantes de vaidade e soberba que me custa admitir. Seria absurdo, talvez, imaginar um escritor que escreva só para si, escondido e feito solitário por si mesmo. Mais possível, talvez, seja aquele que espera ser lido e compreendido, embora haja muitos que só querem ser lidos para serem exaltados por serem herméticos. Não sou este, movem-me a curiosidade e o olhar alheios, o desejo de dar-me, já não anonimamente, nessas palavras em que pretendo deixar algo apreciável, qual uma arte, que me valham alguns elogios. Mas em vez de mover-me qual impulso primeiro, fere-me este desejo, move-me, antes, a caridade de Cristo, que transforma minha maldade numa lança que me atravessa e faz-me sangrar, deixando cair aqui umas gotas de sangue e de lágrimas, um pouco de mim em minhas lutas, um pouco de minhas chagas e cicatrizes.</p>
<p dir="ltr">O medo e o silêncio, às vezes, tornam-se-me uma dolorosa evidência de minha vaidade e escondo-me para não expor minha vergonha, mas abrir os olhos e ver a luz exige o movimento contrário, o êxodo, o "quase" exílio cujo destino é apenas esperança e promessa, comunicação de alguém que tampouco viu o que ele mesmo promete, sonho e possivelmente uma ilusão. Escrever, para mim, é recordar-me de Abraão, Moisés, Josué e tantos outros, peregrinos que não somente deixaram terras e seguranças, mas deixaram a si mesmos e sobre seus ombros levavam multidões, calcando aos pés as próprias esperanças passadas e abraçando aquelas de que somente ouviram falar. É isto que quero fazer de minha literatura: sacrifício, êxodo, imitação de meu mestre.</p>
<p dir="ltr">Eis-me aqui, despido, acusando-me de umas poucas fragilidades que os menos íntimos desconhecem, desejando que essas letras sejam lágrimas a lavar-me os olhos e o coração. E já são lágrimas secas e negras, o meu olhar, já turvado, voz embargada e o silêncio que acompanha o choro já prevalece, por hora, enquanto caem as últimas gotas do que tenho a dizer. Quisera falar da vida e do mundo, algo que me parecesse útil, mas escolhi “sangrar e chorar” nesta prece silente que aqui faz-se capaz de outras vozes, ausente a minha.</p>
Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-13556705907110514102015-12-25T17:44:00.000-02:002015-12-25T17:44:58.896-02:00Rei humilde<p>Demos-te umas pobres palhas<br />
e um teto pobre, alguém que<br />
pôde redimir nossa raça<br />
e dar-te um abrigo, ignorava,<br />
porém, quem eras, ó rei
</p><p>
Nascias naquele dia, estranho,<br />
em viagem fugias levado num<br />
burro, tua mãe em suspiros,<br />
teu pai, homem justo, sequer<br />
imaginava quem serias
</p><p>
Rei nascido tão pobre, eis<br />
nossa devoção, demos-te<br />
pouco naquele que te deu<br />
a manjedoura por berço<br />
sem prever o que farias
</p><p>
Ei-lo, o Rei ainda menino<br />
e já soberano, excelso tão<br />
pequeno, inábil ainda, pouco<br />
menos que nós, ei-lo abaixado<br />
e nós ainda exaltados
</p><p>
Rei misturado a seus súditos,<br />
disfarse perfeito, descobre-se<br />
velando-se e descobre-nos tudo,<br />
eis-nos desnudos, vê-nos o Rei,<br />
nada lhe está escondido
</p><p>
Agora que o vimos, que faremos?<br />
Eis-nos rendidos, não fez caso<br />
do pouco de nós recebido e deu<br />
de si tudo, fez-se um de nós,<br />
fez-se o nosso melhor
</p><p>
Dar-te-emos, ó Rei, nossa vida,<br />
um berço melhor, coroa de ouro,<br />
o que outrora era nosso, nosso<br />
roubo, é teu em verdade, pois<br />
que nosso coração tu roubaste</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-124853378324835524.post-84440001735880102742015-09-24T14:58:00.000-03:002015-12-25T17:26:52.100-02:00O lugar do silêncio<p>Qual é o lugar do silêncio? Podes entender esse "lugar" como uma metáfora, uma imagem que te faça pensar na importância que dás ao silêncio. Podes também imaginar um espaço, como uma igreja, um parque, teu quarto, um cemitério, uma biblioteca ou algum outro em que seja possível fazer certo "silêncio material". Há que se considerar todas essas coisas, mas uma outra é mais importante. O silêncio é uma atitude interior, uma disposição de nosso corpo e de nosso espírito, o oportuno recolhimento de nossas faculdades para nos voltarmos inteiramente para nós mesmos, numa serena contemplação de nosso mundo interior. Aí deparamo-nos com tudo o que fazemos orbitar ao nosso redor, os barulhos interiores aos quais, nessa hora, não devemos nos submeter, nossas fadigas e angústias, nossa imaginação e fantasia sugerindo-nos inúmeras ocupações para nosso pensamento, o incômodo de ouvir nossa própria voz, de dar ouvidos às nossas inquietações mais secretas. Aí encontramos Deus, ouvimos Sua voz, sacramentada em nossa consciência, instando-nos a acolher sua graça a fim de que nos assemelhemos a Ele na comunhão com Sua vontade. Nesse ponto podem ajudar-nos aqueles meios há pouco enumerados, o tempo e o espaço que dedicamos a esse exercício, mas, faltando-nos estes, não pode faltar-nos decisão, resiliência, persistência, desejo, liberdade.</p>
<p>Olhar para si mesmo talvez não seja fácil, sobretudo quando à nossa volta tudo parece concorrer para fazer-nos olhar para fora, ver o mundo, preocupar-nos com tudo e com todos a todo tempo enquanto justifica suas propostas com o prazer anestésico da dissipação e da distração. É onde muitos se perdem, acreditando que o silêncio seja mágico e instantâneo, tal como o mundo quer fazer-nos crer que devem ser todas as coisas. Ao contrário, descobre em ti mesmo o lugar do silêncio, deixa crescer em ti o desejo de encontrá-lo e procura-o, incansavelmente, até que o encontres. Persevera em tua busca e não te rendas ao cansaço ou ao desânimo, esforça-te, supera os limites que julgas ter, corre além do que te julgas capaz de correr: tuas forças se esgotam sempre depois do que podes prever. Não te poupes, esforça-te ao máximo sem desistires, até que caias, esgotado, sem forças, por te haveres gastado totalmente.</p>Paulo Chaveshttp://www.blogger.com/profile/13884968754015339228noreply@blogger.com0