quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ReColhendo Vida

Passos, pegadas e rastros, quadro da vida pintado em passados, presentes. Mãos nossas que alcançam somente belezas que passam, olhares distraídos em curtos encantos.Olhos cansados fixos em luzes poucas, ávidos por artificiais desejos. Chegado o tempo da colheita, o que colheremos? Dos fragmentos de vida caídos no chão, quanto recolhemos? Falo de pedaços da vida partida dos corações sofridos, abandonados por corações que se julgam inteiros, que se destroem a si mais que aos que desprezam. Falo dos atos e gestos criados por nosso egoísmo e por nossa vaidade, fatos inúteis provocados por instintos irracionais e irrefletidos. Falo da descrença do coração nosso, ferido por si mesmo por medo de encontrar vitória, por ter medo e vergonha daqueles que desprezam o esforço de viver. Falo da falta que nos faz um sentido, uma simples razão para vivermos e sermos úteis, sem as distrações que nos fazem perder de vista nossa própria vida. Falo de jardins que carecem de cuidado, porque os jardineiros andam ocupados demais em caçar borboletas e fugir de abelhas. Chegará o tempo da colheita, mas quantos de nós terão frutos para colher? Quantos de nós terão frutos que se aproveitem, quantos de nós terão alimento quando forem ceifados nossos campos? Quantos de nós enfeitarão o altar de Deus com as flores de seus jardins? Quantos de nós quererão ter feito que que agora não querem fazer?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Outrora e Agora

Outro dia passei por uma experiência desagradável, dolorosa, ao presenciar uma espécie de "velório festivo" da moral de alguns a quem costumava chamar amigos. Mudanças de conduta que me surpreenderam e colocaram em mim uma pergunta intrigante: se mudaram tão rápido, será que antes eram, de fato, diferentes? Preciso confessar-lhes, a ausência deles não me faz falta alguma, o amor que lhes tenho não sobrevive de proximidades, mas sente-se traído cada vez que vejo o Amor que me faz amá-los sendo traído de maneira torpe, indecente, com incoerências sem tamanho. "Amigos" que encontraram outros lugares para armarem suas tendas, ao lado de alguns que outrora eram inimigos, a quem agora chamam "amigos", somente porque se interessam pelos mesmos assuntos, e de quem aprovam outras preferências, por mais irracionais que sejam. Meu rosto não escondia minha insatisfação, não podia olhar para eles sem ouvir o eco das palavras que eles mesmos costumavam dizer, palavras que reprovam a conduta que agora assumiram; sua incoerência me machuca, e minha alma chora ao vê-los afogarem-se no dilúvio de sua própria vaidade.

Espero que, ao lerem essas palavras, não se ofendam. Não os condeno, condeno o que fazem, o comportamento e os valores que assumiram, incompatíveis com aqueles que diziam guardar.
Apenas descrevi aqui os sentimentos de minha alma; prefiro deixar a advertência a cargo de alguém possuidor de uma autoridade mais elevada, com um espírito mais esclarecido que o meu.

"Eis pois o que digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva ao nada. O seu pensamento é presa das trevas e eles são estranhos à vida de Deus, por causa da ignorância que neles é produzida pelo endurecimento do seu coração. Em sua inconsciência, eles se abandonaram à devassidão, a ponto de se entregar a uma impureza desenfreada. Quanto a vós, não é assim que aprendestes de Cristo, se ao menos foi bem dele que ouvistes falar, se é ele que vos foi ensinado, de conformidade com a verdade que está em Jesus; renunciando à vossa existência passada, precisais despojar-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das concupiscências enganosas; precisais ser renovados pela transformação espiritual de vossa inteligência e revestir o homem novo criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade." (Ef 4, 17-24)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Passos

Hoje senti o mal muito perto, ouvia sua respiração ofegante, meio rouca, atrás de mim e o ruído de seus passos lentos e suaves, quase silenciosos. Com ruídos repentinos que produzia, sem que eu soubesse como, ele tentava me distrair e fazer-me desviar do caminho inicialmente escolhido. Confesso que algumas vezes meu coração se sentiu atraído pela furtiva tranqüilidade que inspiravam aqueles passos lentos e suaves, quase silenciosos.

Mas não cedi. Algumas vezes, subitamente atraído pelas distrações repentinas que me causavam aqueles curtos ruídos que o mal produzia, esquecia-me por alguns instantes que alguém caminhava comigo, e por pouco não voltei meu rosto para trás a fim de ver o rosto daqueles pés de passos lentos e suaves, quase silenciosos.

Havia uma forte luz à minha frente, na qual não podia fitar os olhos por muito tempo, ela me cegava; precisava piscar os olhos às avessas para conferir a direção em que andava, enquanto ouvia a voz daquele que me acompanhava num esforço contínuo para prestar atenção ao que Ele dizia e não me distrair com a respiração ofegante, meio rouca que me seguia, que sugeria que eu seguisse depois, que eu fizesse uma pausa para recuperar as forças; mero pretexto para me fazer tropeçar tão logo ouvisse sua voz e me esquecesse da voz daquele que me acompanhava. Queria ele que meus passos fossem como os dele, sem direção certa, lentos e suaves, quase silenciosos.

Percebi, então, que os passos daquele que me acompanhava não produziam ruído, e que os meus eram igualmente silenciosos enquanto, no mesmo ritmo, acompanhavam seus passos. Notei que os passos do mal eram ruidosos porque eram mancos, e, sempre que eu me distraía, meus passos produziam um ruído semelhante, e se tornavam igualmente lentos e suaves, quase silenciosos.

Aquele que me acompanhava, e acompanha, é bom, Ele não produz ruído que possa distrair-me e fazer-me esquecer de sua voz, que é o único som que produz. Este que me acompanha me fala ao ouvido com voz mansa e Sua bondade expressa em palavras e no calor de sua mão segurando a minha supera infinitamente o passageiro contentamento que sentiria na distração que o mal ainda me oferece. Escolhi manter o ritmo, a mesma direção, e, por mais que me incomodem esta respiração ofegante, meio rouca, e o som destes passos lentos e suaves, quase silenciosos, escolho acompanhar esses outros passos lentos e suaves, sempre silenciosos.