domingo, 13 de maio de 2018

deus menor

Alguém disse que Deus está morto, mas talvez sua profecia não se tenha cumprido e aquele deus, reflexo dos ideais que o homem nutre a respeito de si mesmo, ainda esteja bem vivo em nosso inconsciente, em nossas ambições e em nossas pretensões megalomaníacas.

Disse ainda alguém que sonhávamos um deus onipotente que superasse nossas impossibilidades, esperança entorpecente que nos fazia esquecer nossas frustrações e nossa covardia. Um deus onipresente, diluído na realidade, permeando tudo para nos assegurar uma conduta moral a que nossa liberdade não pudesse macular. Forjamos um deus onisciente, para que, imaginando-nos observados, fosse-nos mais fácil seguir as regras que inventamos e atribuímos ao gênio divino. Estaria, porém, realmente morto esse deus imaginário, esse produto de nossa loucura? Creio que não, mas sobrevive multiplicado, presente nos ideais quase inconscientes de nosso tempo.

Ainda sonhamos, com mais força que outrora, com aquela onisciência, já não projetada numa entidade que veneramos, mas na pretensão de nos fazer oniscientes, capazes de um conhecimento instantâneo de tudo, sobretudo da vida alheia, de estranhos e familiares, próximos ou distantes, anônimos e celebridades. Queremo-nos, assim, onipresentes, não suportamos a monotonia do presente e do tangível, queremos alcançar tudo sabendo de tudo, estar virtualmente presentes em qualquer lugar, em todos os lugares, ser vistos por todos, apreciados por todos por nossa imagem ou nossas ideias, por mais tolas que sejam. Arvoramo-nos em nossa soberba pretendendo-nos onipotentes, possuidores de aboluta liberdade, senhores de nós mesmos e de tudo, como deuses. Ainda hoje repete-se a angústia inventada pela serpente, a angústia que nutrimos em nosso coração por não sermos deuses, por querermos sê-lo e não podermos, a angústia da invenção, da farsa, do ídolo pesado e oco, mudo, inerte, inútil.

Eis o ópio de nosso tempo, o super-homem que pretendemos ser, o ideal a que tende a vontade de poder que nutrimos com nossas fantasias à custa de nossa sanidade, em detrimento de nossas relações e, ouso dizê-lo, de nosso próprio ser. Destruímo-nos tentando fazer deuses de nós mesmos, deuses concorrentes que se pretendem únicos ou ao menos soberanos sobre todos os outros. Quisera esse deus estivesse morto, assim seria conhecido o verdadeiro, aquele que é, que era e será, o único, o Deus de Abraão, Issac e Jacó, o Deus de Jesus Cristo, Senhor do tempo e da história, que “pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” (Ef 1, 22).

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“Àquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as gerações de eternidade. Amém.” (Ef 3, 20s)