quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Silêncio

Silêncios sempre motivam reflexões frutuosas (mesmo que nem todos concordem, creio que não minto nem me precipito em afirmar algo alheio à experimentação). Apesar de estar isento de culpa por este motivo, peço perdão a quem costuma ler o que escrevo, olhem com misericórdia para este pobre escritor que não tem tudo a dizer e gosta de falar pouco. Peço perdão, mas ofereço-lhes o fruto de meu silêncio culpulsório que, certamente, produziu frutos semelhantes em quem lê o que escrevo. Ouso dizer que o que direi aqui não será oferta de novidades descobertas ou criadas por mim, mas poderá ser um pouco de luz para que se vejam os frutos que se produziram aí, em vossos corações.

Quero falar da vaidade, talvez numa tentativa de comentar o que escrevi em outro lugar (leia aqui). Calar minha voz foi uma reação involuntária aos elogios que ouvia em razão da primeira publicação impressa de meus escritos. Movimentos involuntários, porém, podem também ser impulsos vitais, e creio que assim foi. Forçosamente (re)aprendi a apreciar minha condição artística, a sensibilidade que Deus quis conceder-me para realidades que me ultrapassam e misteriosamente me alcançam. Os elogios que ouvia, antes da dita publicação, me faziam sentir-me desconfortável, descobriam-me a timidez e me desconcertavam, mas nunca haviam perturbado minha alma como agora. Tudo o que via e ouvia que dizia respeito aos cantos de mim que não seriam mais restritos à minha intimidade me intimidava, me agredia, me fazia querer esconder aquilo mesmo que me fazia saber quem eu sou, o dom que Deus me deu para fazer-me conhecer a mim mesmo e a Ele nesse processo. A santificação que viria desse esforço seria o que transbordaria de meu coração para o próximo.

Ouvia elogios, mas nada eu podia apontar para Deus como verdadeiro destinatário daqueles louvores. Era a estética que prevalecia, a habilidade artística, este pobre que ora escreve. Deus nunca me ditou literalmente as palavras que escrevo, reconheço-o e confesso-o sem medo, mas creio firmemente que a capacidade de registrar o que toca e o que se passa em meu coração foi-me dada por Ele. Isto basta para que todo mérito seja a Ele referido. Por isso digo que "Não vejo mais o sorriso, o olhar agradecido a Deus pelo conselho encontrado ali nas palavras ditadas por Ele ao meu coração." Meu ministério perdera o sentido, as publicações tornaram-se despropositadas e inúteis, porque só alcançavam os olhos, não mais corações. Por isso calei-me, por isso "escolhi" o silêncio.

Se minha vida não glorifica o Senhor e se quem me conhece não o pode encontrar ao encontrar-se comigo, ao ler o que escrevo, ao encontrar o que digo, prefiro o exílio, o silêncio, a solidão, o anonimato.

Por isso rezo: "Senhor, que eu não me ocupe fazendo o que quero, mas só o que queres ocupe o meu pensamento."