quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Cem vezes mais

“Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14, 25)

O que significa esse ódio, aparecentemente tão contrário ao bom senso e à caridade? Eis um mistério da fé, exigência estranha, necessidade interior tão profunda que, em vista de uma única preferência, Cristo, tudo se torna relativo ao ponto de ser objeto de ódio se se torna impedimento ao seguimento do mesmo Cristo. Eis as negativas que acompanham o “ódio” à própria vida. Eis o martírio, o testemunho, o Evangelho como deve ser por nós encarnado, sangrado, cravado em nossas mãos e pés para que nossa única liberdade seja o Amor. Negar a si mesmo implica em muitas outras negativas. É preciso deixar pai, mãe, irmãos, terra, casa, amigos, lugares, bens, desejos, sonhos e assim o que parecia ser caminho revela-se apenas parte dele, degrau necessário, mas passado.

Parece paradoxal, mas “não há quem tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa e por causa do Evangelho, que não receba cem vezes mais desde agora, neste tempo, casas, irmãos e irmãs, mãe e filhos e terras, com perseguições; e, no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 30).

Eis o Amor, a Verdade, a Liberdade. Quem perguntou o que é a verdade ficou sem resposta. Quem, porém, rendeu-se a ela, encontrou-a no abandono, no deserto, naquele vazio onde tudo se faz, onde se faz a luz e ressoa o Verbo: faça-se, e tudo foi feito!