quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Realizações

Depois deste tempo de vida como leigo consagrado, separado por Deus para não me perder Dele com a mesma facilidade de antes; depois de ter sido tomado pela mão e conduzido por caminhos antes desconhecidos, e que por isso mesmo me amedrontavam, levado a lugares em que minha alma pôde provar delícias do paraíso que nem sequer era capaz de desejar, porque minha imaginação não era capaz de alcançar realidades semelhantes; depois de tudo isso, ao ver pessoas que deveriam ser conduzidas de maneira semelhante pela vontade do mesmo Deus que me conserva aqui, uma dor aguda alcançou meu coração, e também o coração delas antes mesmo de poderem tocar naquilo que Deus lhes prometera entregar como prêmio pela obediência à Sua vontade. Outros, que não foram chamados ao mesmo caminho que nós, pais, parentes, amigos que se julgam no direito de determinar as escolhas dos outros, levantaram-se e se fizeram obstáculo à realização da vontade de Deus na vida daqueles que deviam partir para onde o Senhor os mandava ir. Fere-nos a alma sobretudo a atitude de alguns pais, cujo pensamento está de tal forma cristalizado num egoísmo disfarçado de amor que muito lhes custa a separação do que não mais depende de seus cuidados. Pais e mães que, frustrados em algum desejo passado, esperam a realização deles nos filhos. Em outras palavras, vêem na pessoa de seus filhos a continuidade de seu próprio ser, com todos os seus desejos e sonhos. É a atitude própria da primeira infância, o não saber diferenciar-se do outro, que aqui se apresenta de maneira semelhante, mas em pessoas de quem se espera um mínimo de maturidade afetiva que as faça capazes de deixar partir o que não lhes pertence mais. É como uma regra que se vem arraigando no pensamento comum, afirmando que os filhos devem ser a realização das frustrações de seus pais, e que qualquer comportamento que ponha em risco essa realização deve ser coibido de qualquer forma. Aqui a moral passa a ser negligenciada, quando tudo se torna justificável pelo desejo egoísta de alguns que não pensam na felicidade e realização dos filhos, mas de si mesmos neles.