segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ide a Jesus

Quando foi que te vimos preso e não te fomos visitar? Isto perguntarão muitos no dia final. E o que responderá o Senhor? Ele mesmo antecipa a resposta: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer (Mt 25, 45).

Ora, de uma outra forma encontra-se Jesus preso nesta terra. É o divino Redentor prisioneiro no Santíssimo Sacramento. A Eucaristia é Ele mesmo, feito nosso alimento para nos unir a Ele. De fato, no Santíssimo Sacramento Cristo continua seu aniquilamento total, realizado desde sua encarnação no seio virginal de Maria Santíssima. No estado Sacramental, Cristo encontra-se totalmente aprisionado, e submetido à vontade humana, que o pode transportar para onde quiser; a transformação do pão e do vinho em seu Corpo e Sangue acontece pelas palavras de um homem. Ao pronunciar as palavras da Consagração, o sacerdote de Deus, falando na pessoa de Cristo, torna presente sobre o altar o santo sacrifício da Cruz, e é somente mediante a proclamação daquelas santas palavras que isto ocorre. Cristo submete-se ao querer humano, e faz-se dele prisioneiro. Assim, aprisionado, permanece Cristo no tabernáculo, e dali só sai quando retirado por mãos humanas. Ali permanece Jesus até que alguém dali o retire. Ali permanece Jesus, esperando pacientemente que alguma alma o vá visitar.

No tabernáculo Cristo espera pelos homens, e a todos quantos dele se esquecerem dirá aquela mesma palavra: estive preso e não viestes me visitar. Dirá isto para que saibam que o destino mal que os espera foi escolhido por eles mesmos quando escolheram não visitar o Senhor que os esperava no Santíssimo Sacramento.

Quem, pois, verdadeiramente ama o Senhor, haverá de fazer-lhe freqüentes visitas no Santíssimo Sacramento. O Senhor que espera no tabernáculo é o mesmo que morreu na cruz. Se teus sentidos dizem que o Senhor não está ali presente, em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, crê, pois, no que te diz a própria verdade. Se o próprio Deus diz ser verdadeiramente Ele mesmo, como podes acreditar no que te dizem teus sentidos? Não é Deus maior que teus sentidos? Não é Ele capaz de realizar este milagre? Tua razão diz ser impossível a água tornar-se vinho, e no entanto isto se realizou pelo poder de Jesus. Não pode Ele também transformar o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue? Quem tem ouvidos, ouça (Mt 11, 15).

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Vieste a mim

Andava sozinho por este caminho escuro quando passaste por mim.
Perguntei-me o que fazia ali alguém tão rico como tu,
num lugar tão sujo e afastado do lugar onde vives.
De repente chamaste meu nome.
Eu nem sequer imaginava que o soubesses.
Um sentimento de estranheza me invadiu e roubou-me a razão,
e com a alegria que o acompanhou senti-me livre
para dar vazão ao desejo de conhecer-te,
a ti que sempre pareceu-me tão distante.

Voltei-me para trás e te vi olhando para mim,
parado à porta de minha casa.
Parecia que me chamavas para perto de si,
mesmo sem nenhum gesto ou palavra.
Chamado que escolhi responder, e fui ao teu encontro,
imaginando o que querias de mim,
os motivos que te levariam a querer estar perto de alguém tão miserável
que não fizera nada que pudesse merecer tão grande benefício.

Ao aproximar-me de ti me abraçaste. Momento inefável!
Um plebeu abraçado pelo rei mais poderoso de todos.
E qual não foi minha surpresa quando me perguntaste
se podias adentrar minha casa,
casa simples, a mais pobre da cidade.
Apressado, corri até a porta para abri-la para ti.
Como poderia contrariar o desejo do meu rei,
que havia se humilhado tanto para estar perto de um miserável súdito seu?

Ao entrares em minha casa sorriste como jamais vi alguém sorrir,
e parecias gozar da maior alegria que já tiveste.
Eu já não queria mais entender teus motivos, e decidi permanecer ali,
contemplando-te e aproveitando ao máximo a alegria daquele instante,
enquanto não me fosse retirada tua feliz presença.
Mas a maior surpresa ainda estava por vir.

De súbito, chamaste meu nome, uma segunda vez,
e me perguntaste se podias morar ali comigo.
Eu não sabia mais o que pensar.
Mais uma vez não poderia contrariar teu desejo, e consenti.
Até aquele instante eu não havia dito nenhuma palavra,
respondia apenas com meus gestos e olhares,
mas então decidi falar-te, com toda a alegria contida em meu silêncio,
e toda a sinceridade de quem é beneficiado sem merecimento.

"Podes morar comigo quanto tempo quiseres,
mas não queiras ser apenas hóspede,
mas sejas tu o meu anfitrião em minha casa, que agora é tua".

No momento pensei ter sido ousado demais,
mas minha alegria não havia chegado ainda ao limite.
Olhando-me com este teu olhar amoroso, disseste sim ao meu pedido,
e fizeste em minha casa morada permanente.
Perguntei-me se realmente haveria algum limite para a felicidade que sentia,
e, parecendo ter ouvido minha pergunta,
disseste que minha felicidade jamais deixaria de aumentar,
porquanto jamais eu poderia esgotar o que tinhas para me dar.