quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Do silêncio ao Silêncio

Nunca falei muito, e por muito tempo não falei
Há muito me calei, e há outro muito me escondi
Por muito tempo vivi sem falar, calado e mudo
Há pouco tempo as primeiras palavras saíram, doídas
Mais uma vez me calei, mas não de todo, e só um pouco falei
Não havia muito a dizer; dentro de caixas livros não servem pra nada
De novo me escondi, para ler em mim os livros que guardei
Deu trabalho. Abri as caixas, tirei a poeira, comecei a ler
Quis parar, mas de tentar não desisti, e meio sem querer continuei
Eram livros grandes de letras miúdas, de frases confusas
Com os olhos cansados quis dormir, mas de tentar não desisti
De tudo que eu lia muita coisa eu já sabia, e não sabia
Eram lembranças, passados, presentes, vidas, amigos
Ali eu me entreti e não quis mais parar, me forcei continuar
E nas palavras que li um outro silêncio eu encontrei.
Continuei calado, pensando cada palavra que li, cada letra que vi
E já cansado, depois de ler tantos livros, fui dormir
Vivi de novo o que morreu, e as lições passadas se fizeram novas
Acordei, me levantei, e vi a vida de outro jeito
E as palavras que temia, das quais fugia, faziam agora parte de mim
Palavras que me recordam quem eu sou
Que me mostram a vida em pequenos pedaços de papel
Palavras que são ditas e passam, uma a uma, por meus ouvidos
E deixam em mim um pequenino desejo de ouvi-las de novo
E criam em mim um grande desejo de novas ouvir
Lembrei-me de Cristo, que pouco falava com sábias palavras
Lembrei-me de Cristo, que muito falava com poucas palavras
Sigo o exemplo de meu mestre, que sabe dizer o desejo dos corações
Sigo a Jesus, que sabe falar o que as almas precisam ouvir
Que sabe silenciar e num olhar tudo dizer
Que sabe falar e com uma palavra tudo criar
Diante Dele me calei, e nada mais eu quis dizer
Num olhar eu pedi que Ele falasse por mim
As mesmas palavras que precisava ouvir
Me deu o dom de escrever e dizer pobres palavras
Que encerram em si o que Ele me diz
E assim, silenciando, a falar eu aprendi.

"Só peço a Deus que a trama das palavras
Desperte nossas falas e nos ensine a escrever
Poemas que despertem
Resposta em que não sabe responder"
(Pe. Fábio de Melo, scj., Aventurando)