quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O primado da humildade

Donde vem que só aos humildes Deus queira manifestar-se e revelar Sua vontade? Donde vem que somente àqueles que tem o coração puro seja concedido ver a Deus?

A humildade é virtude deveras elevada, e deveras baixa, pequena, quase imperceptível. É grande, gloriosa e seus resplendores enchem também de luz os que a testemunham. É, no entanto, simples, pequena, seus portadores, por assim dizer, ignoram possuí-la, vivem-na como dom que fazem de si mesmos, reconhecem-se pequenos e por isso não se dizem humildes. O humilde sente-se sempre grande, embora seja pequeno, o menor de todos. O humilde sabe que é apenas pó e não quer para si uma glória que não possui. A este, somente a este, Deus quer dar-se a conhecer.

A quem pertencem a glória, a realeza, a força e o poder? A Cristo, Verbo onipotente por quem todas as coisas foram feitas, o único Senhor. Mas em quê consiste essa glória possuída só por Ele? Consiste na soberania absoluta sobre todo ser, nele toda essência subsiste e fora dele nada existiria. Essa glória é manifesta em todo criado e em toda criatura ela é visível, sensível e evidente. Esse Deus, num ato de absoluta liberdade, faz o homem "do pó da terra", e fá-lo à imagem e semelhança de si mesmo e senhor de todas as outras criaturas, como se fora o homem um deus menor. Quis, porém, o homem roubar a glória de Deus e caiu do alto de seu orgulho. Incapaz de retornar às alturas de onde caíra, o homem que viera do pó tende novamente ao pó, à morte, fim natural aos ausentes de Deus.

Mas Deus desce e vai ao encontro do homem humilde, deste homem que de novo fez-se barro e pó da terra mas que desistiu de querer elevar-se e aceitou sua nova condição. Para este homem, humilhado, Deus manifesta-se glorioso, Senhor de tudo e capaz de outra vez fazer do pó barro e dar-lhe um novo sopro de vida. Mas aos que querem erguer-se sozinhos Deus deixa que vivam sós, embora quisesse que não fosse assim. Para o homem que desiste de ser senhor de si mesmo, Deus é sempre o único glorioso. No humilde Deus é manifesto, porquanto não quer ser mais do que é. "És pó e ao pó hás de tornar" (cf. Gn 3, 19). De Deus vieste e a Ele hás de retornar.