domingo, 7 de fevereiro de 2010

Virtude

Quisera ser mais virtuoso para ter mais com que louvar o Senhor. De minha parte, pouco posso dizer que faço por Cristo, porque minha vontade em muito ainda prevalece naquilo que me ocupa ou distrai. Minha alma frequentemente se acha estorvada por demasiadas ocupações que somente a entorpecem e lhe retiram as luzes que lhe concede o Senhor. Oh, se tivesse encontrado mais cedo o bem que há em estar com Jesus, e não tivesse tido tempo de cultivar tantos males que hoje me impedem de gozar sempre da liberdade que Ele me quer conceder! Como me pesa hoje minha natureza viciada com tantos luxos que eu mesmo me concedi, deixando várias vezes o serviço de Deus por bagatelas, apenas pelo prazer de praticar aquilo que não me é lícito.

Mas aprouve ao Senhor resgatar-me antes que me perdesse para sempre. Hoje sofro por não poder gozar da mesma felicidade que os santos, mas meu sofrimento me tem sido causa de indizível felicidade, por encontrar nele a misericórdia do Senhor a cuidar de mim dia a dia, sem esquecer-se de mim um instante sequer. Assim aprendi de Jesus que justos e pecadores são dignos de misericórdia, porque nem mesmo o mais justo dos homens é livre de pecado (cf. Rm 3, 23). Se o justo peca sete vezes por dia (Pr 24, 16), também ele depende da misericórdia de Deus para salvar-se. Por isso alegro-me mesmo quando caio em grandes faltas, porque na queda recebo de Deus a graça de empenhar todas as forças de minha alma em remediar meu pecado em vez de lamentar-me pela culpa cometida.

Prefiro gloriar-me da misericórdia de Deus que de minhas virtudes, "para não acontecer que, ofuscado pela vaidade, venha a cair na mesma condenação que o demônio". (1Tm 3, 6)