terça-feira, 15 de novembro de 2011

Artesanato

Queria saber escrever alguma coisa interessante para publicar aqui. Sinto que acabaram-se as palavras e que tudo que digo agora é improviso infértil e inoportuno, esforço estéril da razão para ocupar o espaço que ficou vazio quando se acabaram os temas de oração e meditação. No entanto, pensando no esforço maior que agora devo fazer, penso que seja oportuno passar por esses tempos de criatividade artesanal. Hoje falo por mim mesmo, e sinto que perdi a prática. Por isso digo que este texto de hoje é artesanal, preciso tomar nas mãos aquilo que de mim parecia descartável e tentar transformá-lo em algo que seja de proveito comum, uma arte-reciclagem do que parecia não servir-me mais. Em fazer orações e tecer aqui um Rosário perdi de vista os temas que apenas me agradavam, fixei os olhos naqueles que me propunha o Senhor e deixei-me levar, seguindo o ritmo que Ele me impôs. Por isso senti-me obrigado a escrever um pouco hoje, mesmo sem saber o que dizer, e deixar aqui ao menos uma semente do que restou do que semeei nos textos passados.

Meus motivos são simples, minhas razões são poucas, e nunca posso responder dignamente às exigências que Deus me faz em meu coração. Escrevo o que posso, como posso, usando um pouco do que Ele me deu. De dois talentos não faço quatro, mas um pouco mais de dois creio que faço e deixo aqui para quem quiser. Espero que no tempo que me resta conseguirei devolver ao Senhor meus dois talentos e outros dois que terei lucrado. Queria, por vezes, encontrar palavras novas, dizer novidades e encontrar jeitos diferentes de olhar a vida e de falar de Cristo, mas sempre me vejo repetindo os mesmos jeitos de outros tempos e reencontro sempre o mesmo motivo para minhas repetições. As ordens que ainda escuto ainda devo obedecer, só depois virão pedidos novos, palavras novas, motivos diferentes para escrever. Escrevo assim, fazendo memória das memórias passadas, até que o presente seja também memória e receba um lugar no papel.

Eis o que aprendi enquanto rezávamos o Rosário: preciso deixar sair de mim o que Deus quis colocar aqui dentro, depois o que com isso construí, o que agora digo, e buscar-encontrar primeiro o Reino no que entra e no que sai de mim, assim serei puro, sempre, e não poderei contaminar os outros com as maldades que ainda sobrevivem em meu coração, que assim aos poucos morrerão até que morra também eu, feliz, perdendo-me, enfim, para achar-me no Senhor.