quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vivo assim

Vivo o contínuo desafio de transformar a morte em vida, de fazer voluntária minha morte e voluntária também minha ressurreição. E não penso que seja um desejo demasiado pretensioso querer viver com tal liberdade que viver ou morrer seja escolha minha, mesmo que a vida que eu escolher esteja para além da morte escolhida também por mim. Na verdade, creio que seja essa a escolha mais natural para quem deseja ser livre de fato. Escolho, portanto, a morte.

Escolho a morte para poder viver, para deixar desde já o que não posso guardar por muito tempo, para não criar vínculos com o que não permanecerá. Nada levarei daqui quando morrer, e por isso escolhi ser pobre. Minha riqueza é bem outra, diferente de tudo que vejo por aqui. Escolho a morte, escolho deixar para trás minhas vontades, o desejo de nunca ser contrariado, e abraço a docilidade diante de tudo que me acontecer, não quero carregar o peso de frustrações inevitáveis. Aliás, não quero sofrer frustrações; quando o que eu quiser não acontecer, quererei o que vier no lugar, não me importo, assim sou mais feliz.

Diante de mim está a morte e está a vida. Mas só uma das escolhas me garante também a outra, só depende do que seja vida e do que seja morte para mim. Vivo assim, atrás dessas aparentes contradições, nesta morte que é metáfora da vida, convivendo com a vida que é metáfora da morte.