quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vivo assim

Vivo o contínuo desafio de transformar a morte em vida, de fazer voluntária minha morte e voluntária também minha ressurreição. E não penso que seja um desejo demasiado pretensioso querer viver com tal liberdade que viver ou morrer seja escolha minha, mesmo que a vida que eu escolher esteja para além da morte escolhida também por mim. Na verdade, creio que seja essa a escolha mais natural para quem deseja ser livre de fato. Escolho, portanto, a morte.

Escolho a morte para poder viver, para deixar desde já o que não posso guardar por muito tempo, para não criar vínculos com o que não permanecerá. Nada levarei daqui quando morrer, e por isso escolhi ser pobre. Minha riqueza é bem outra, diferente de tudo que vejo por aqui. Escolho a morte, escolho deixar para trás minhas vontades, o desejo de nunca ser contrariado, e abraço a docilidade diante de tudo que me acontecer, não quero carregar o peso de frustrações inevitáveis. Aliás, não quero sofrer frustrações; quando o que eu quiser não acontecer, quererei o que vier no lugar, não me importo, assim sou mais feliz.

Diante de mim está a morte e está a vida. Mas só uma das escolhas me garante também a outra, só depende do que seja vida e do que seja morte para mim. Vivo assim, atrás dessas aparentes contradições, nesta morte que é metáfora da vida, convivendo com a vida que é metáfora da morte.

sábado, 7 de agosto de 2010

Amigos de Deus


Hoje resolvi escrever de um jeito diferente. Ultimamente meus textos tem tido um tom mais místico, metafórico, irônico. Hoje quero falar com mais liberdade, com mais clareza, e até, porque não, mais poético, um pouco mais livre das rédeas da gramática tradicional e das correntes do que chamam norma culta da língua.
A amizade sempre me foi algo muito querido, em grande parte por ter sido uma das vias por onde Jesus me encontrou na intimidade, sem minhas defesas, e me alcançou antes que tivesse tempo de fugir. Parece estranho, mas nas simples e, por vezes, despretensiosas palavras de um amigo Jesus fala ao meu coração e me ensina amá-Lo sobre todas as coisas. A ajuda sempre oportuna, o ouvido solícito, a mão estendida, o carinho, o cuidado, tudo isso que encontro num amigo me fala de Deus e me faz lembrar-me de que Jesus também quer ser assim comigo, quando disse que eu era seu amigo mesmo antes de eu o conhecer de verdade (e mesmo hoje não sei bem se o conheço).
Amigos são assim, imagem de Deus, não só pela ordem natural, por serem humanos, mas pela experiência que nos permitem fazer da liberdade que Jesus quer ter conosco e que Ele quer que tenhamos com Ele. E cada reencontro, especialmente depois de conviver com a saudade por algum tempo, torna-se ainda mais feliz e consolador, é como antecipar um pouco do céu, vendo morrer a saudade e perdendo de vista os desencontros passados e futuros. E, mesmo que não seja um objetivo cristão encontrar segurança nessas consolações, elas nos animam e nos revigoram para irmos até o final. Por isso digo que encontrar-se com um amigo é como encontrar-se com Deus, que de algum modo se esconde e se revela num rosto, num olhar, num sorriso, numa voz, num abraço que nos são caros e que sabem encontrar sempre o melhor de nós.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pecados

Porque há tantos pecados?
Perguntam-se tantos
E não encontram conforto
E respostas tampouco

Parece ser tudo pecado
Aos olhos de um Deus
Que a tudo criou
E que dizem ser sábio

Parece que Deus escolheu
Para nos proibir de comer
Dos frutos o mais saboroso
Que Ele mesmo criou

E fez-nos todos culpados
De um crime passado
Cometido por outro
Que não somos nós

Mas não entendemos
Que o que nos condena
Não é aquele pecado
Mas sim sua reprodução

Nascemos todos cativos
Do mesmo perigo
De tender para longe
De onde está Deus

Tudo que é mal
Na verdade não passa
De escolhas erradas
Diferentes de Deus

Por isso o pecado não é
Determinação ou conveniência
De um Deus que deseja
Fazer-nos a Ele obedecer

Pecado é tudo que fere
A integridade do homem
E nos faz viver longe daquele
Que nos fez nascer e viver