terça-feira, 8 de junho de 2010

Hipocrisia


O que já fizemos de mal quando não éramos vigiados? O que não fizemos de mal porque éramos vigiados? Onde está a virtude que deveria motivar nossos atos, onde a pureza de consicência que deveria orientar nossa conduta? Às vezes me pergunto: será que realmente amamos a Deus ou o discurso cristão serve apenas para anestesiar a nossa consciência? Vivemos sempre prontos a pensar nos erros que queremos cometer, planejá-los, e ainda colocamos nos nossos planos a confissão sacramental ao final de tudo. Quanta hipocrisia! Valores que deveriam ser estimados e praticados por nós, cristãos, são postos de lado como se fossem apenas preceitos morais, disciplinares, regras que aprisionam e que servem apenas para conservar aparências, ostentar a opulência de nosso coração quando estamos na companhia de outros mais virtuosos que nós. Mas, ai, que quando nos associamos a outros tão hipócritas quanto nós, ou até mais que nós, encontramos a ruína completa! O próprio santo Agostinho reconhecia que certos males ele não teria praticado sozinho:
"Meu Deus, eis diante de ti a lembrança viva de minha alma. Sozinho, eu não cometeria aquele furto, no qual não me comprazia na coisa que eu roubava, mas no ato de roubar; sozinho, não me teria atraído a idéia de roubar nem sequer teria roubado." (Confissões II, 17)
O que é que buscamos, então, apegando-nos ao mal e aos maus? Perto deles nos envergonhamos de professar a nossa fé e nos deixamos levar por suas perversas sugestões. Poderíamos, no entanto, deixá-los, mas assim nos esquivaríamos da responsabilidade alertá-los a respeito do mal que lhes causa à alma o mal que praticam. Deveríamos, portanto, ser cristãos a todo tempo, para que a condenação dos que não exortamos não nos condene também — o nosso testemunho será a exortação oportuna.
É um contrassenso sem tamanho "cristãos" louvarem, às vezes, virtudes de outros cristãos, mas não se empenharem em imitá-las. Será que vale a pena ser hipócrita? Tenho para mim que é mais fácil ser autêntico, seja para o mal ou para o bem.

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